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Têm sido tempos especiais, estes. Como habitualmente, ponho a minha casa em ordem, as minhas coisas nos sítios certos, reorganizo-me, num descanso operante que me faz muito bem. Durmo até ligeiramente mais tarde, passeio muito, converso muito, namoro muito e restauro as minhas forças. Não sou nada de ficar sem fazer nada mas sou muito de fazer com calma, saboreando os dias e as noites, usufruindo do tempo que, em alturas laborais, me foge por entre os dedos. Estes dias têm servido também para reencontrarmos todos o equilíbrio familiar. Os miúdos estão a estudar para os exames mas já nos vemos todos os dias, já conversamos todos os dias, já comemos juntos todos os dias. Como em tempo normal estamos sempre mergulhados em alguma coisa, neste tempo, pelo menos, reocupamos o nosso lugar no sofá sob as mantas que nos aquecem o corpo, saboreando a mútua companhia que nos aquece a alma. Ainda por cima, os dias têm estado lindos e frios, como tanto gostamos, e ainda no outro dia fomos até a
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Ontem, quando nos despedimos, disse.lhe: vê se fazes Natal. Sei bem o que estava a dizer, porque sei bem que uma grande parte do Natal é, justamente, feita por nós. Quando era miúdo adorava este tempo. Na altura vivia bem no centro da cidade e testemunhava, in loco, a azáfama que a todos invadia. Na altura não havia shoppings mas as ruas da baixa estavam sempre cheias de música, iluminação e pessoas. Santa Catarina, 31 de Janeiro, a Avenida, o Bolhão, tinham este cheiro característico, esta alegria tão grande e tão contagiante. A ausência dos centros comerciais fazia com que toos se concentrassem nos mesmo sítios para fazer compras e estas coisas são contagiantes, quantas mais pessoas, mais alegria, quanta mais alegria, mais pessoas. Lembro-me de um ano em que, pouco antes do Natal, tinha medo de sair à rua porque poderia ser atropelado e já não teria Natal. Este medo irracional apenas me voltou a acontecer por duas outras vezes, era já adulto: nas vésperas do meu casamento e nas
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Não gosto nada da saudade. Seja do que for. Seja de quem for. Numa situação ideal a saudade não existiria: estaria sempre com quem quero estar, na situação em que quero estar, numa renovação constante... e irreal. A saudade faz-me ver o que não está lá, faz-me reler uma e outra vez a mesma coisa, faz-me reviver a mesma situação na ilusória tentativa de voltar, como se não tivesse acontecido nada entre este hiato de tempo. Ainda que regressasse com as mesmas pessoas ao mesmo lugar, era impossível que voltasse a ser a mesma coisa e o mais provável é que fosse tão diferente que seria de certa forma penoso. Provavelmente o melhor que teríamos a fazer seria desligarmo-nos do que aconteceu e viver o que fosse acontecendo. E no entanto... Volta e meia bate uma saudade imensa! E contra essa saudade, que vem do fundo mais fundo, não há racionalidade que aguente. Bem me digo que não vale a pena, que o futuro é o caminho, que as escolhas vão sendo progressivamente feitas, no sítio e no lugar
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Assim que acabou a eucaristia, arrumei as minhas coisas e sentei-me. Ou melhor, recolhi-me em ti. Teria gostado de sentir que me saíra um peso dos ombros mas não é verdade. Doem-me os ombros, assim como me dói o corpo todo. Têm sido umas semanas loucas, estas duas, e eu já não tenho vinte anos, e estava a precisar de me sentar para estar contigo, para conversar contigo, eu que tenho estado por aqui tanto tempo mas não tenho tido esse tempo para me sentar e conversarmos. Eu sei que me esperas sempre, sei que nunca chego tarde, sei que tu, muito melhor que eu, sabes como corro e em busca do que corro, tantas vezes feito barata tonta, sem nunca sair do lugar. Sei que não teria que te dizer nada, nem pensar nada, nem explicar nada, que me bastaria estar, ali, sentado, para ti. Mas acho sempre que precisava de o dizer. Que a questão não é, nunca foi, se tu me esperas, mas se eu me dou conta que tu me esperas. Não é se tu tens mais que fazer, com um mundo inteiro para cuidar, mas se eu te
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"Quando a Igreja se fecha em si mesma, talvez esteja bem organizada, com um organigrama perfeito, tudo a postos, tudo limpo, mas falta alegria, falta festa, falta paz, e assim torna-se uma Igreja sem esperança, ansiosa, triste, uma Igreja que tem mais de solteirona do que de mãe, e esta Igreja não serve, é uma Igreja de museu», afirmou o papa, citado pela Rádio Vaticano." Li isto e pensei imediatamente em nós. Em como sempre foi um desejo profundíssimo teu ter uma casa perfeita, sempre arrumadinha, sempre limpinha, com todas as coisas no sítio, como aquelas que víamos nas revistas. Imediatamente me vieram à cabeça as tuas infindáveis e infrutíferas lutas para que os brinquedos não ficassem espalhados pela sala, que os jornais e revistas estivessem devidamente dobradinhos e no seu lugar, que os imensos filmes dos filhos estivessem convenientemente arrumados e escondidos de quem nos visitaria. Lembrei-me logo dos teus fins de semana passados na vã tentativa de por em ordem
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Educar o olhar é fundamental. Estava na hora. Tínhamos tudo combinado, tudo preparado, tudo devidamente sensibilizado. E no entanto, andei pelos corredores, pela sala dos professores, e senti uma certa tristeza. Havia ainda quem passasse completamente ao lado. Quem escolhesse ficara  trabalhar, quem escolhesse não deixar atrasar a matéria para se poder dar a oportunidade de parar e rezar durante 3 minutos. Nada de especial, pensei. Mas afinal não. É especial. Particularmente quando me apercebi que, com a sua atitude, afectava a sua turma, que se veria assim impossibilitada de participar no momento de oração que deveria ser de todos. E fiquei mais triste ainda. Como será possível invertermos as coisas? Como será possível, sem imposições, sem braços de ferro, levar as pessoas a tomarem consciência da importância de estarmos juntos, de rezarmos juntos, de ao menos pararmos juntos para nos darmos tempo, para nos darmos conta da existência uns dos outros? Aprecio muito a liberdade que D
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Se acreditasse em coincidências diria que são coincidências. Não acredito. Acredito sim que Deus nos fala por muitas formas, através de muitas pessoas, e de muitos acontecimentos. Pequenos e insignificantes, como é típico da sua forma de agir. No espaço de duas semanas conversei com duas pessoas absolutamente distintas do meu passado. Do que me trouxe até aqui, para o bem e para o mal, onde eu estou, hoje, aqui e agora. Um percurso acidentado, não tão acidentado, é certo, como o de alguns miúdos dos bairros com quem trabalho todos os dias, mas muito menos linear que o da maioria das pessoas, miúdas e graúdas, com quem trabalho na outra metade dos meus dias. O que me faz estar permanentemente num limbo: nem sou bem uns, nem sou bem outros. Sou uma coisa assim, mais ou menos, que ora tem um pé num lado, ora tem um pé noutro lado. Um pé dentro e um pé fora. Descobri há pouco tempo que esse limbo tem sido uma permanente na minha vida. E que, quando não o foi, era porque a máscara que
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Esta foi uma semana daquelas. O único dia em que jantamos juntos foi no já longínquo princípio da semana e não nos temos visto mais que por alguns momentos. Tenho andado a correr como um doido, reuniões aqui, ensaios ali, preparações em todo o lado. Como se não bastasse, partiram-me o vidro do carro e levaram-me o tablet. Provavelmente, quem o fez é amigo ou conhecido ou vizinho daqueles que estavam comigo na faculdade de Direito a assistir a uma palestra sobre os excluídos. Ironias! E no entanto... Hoje, quem me visse na minha cada vez mais preciosa caminhada matinal junto ao mar, pensaria que sou (ainda mais) maluco, tal o sorriso. Esquisito, não? Digo muitas vezes aos meus miúdos que conhecer Jesus rouba-nos desculpas. Deixamos de poder alegar desconhecimento ou distração, deixamos de poder olhar para o lado e ficar de consciência tranquila, deixamos de ter a consciência tranquila em qualquer dos casos, porque é sempre muito mais o que podemos fazer quando comparado com o que r
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Foi mais ou menos na mesma altura, teria cerca de 14 anos, que duas leituras me marcaram e desde então me fizeram companhia: o livro de Job e o Cântico Negro. Na altura foram mais sentidas que entendidas, até porque tanto num caso como noutro, tinham muito de incompreensivelmente belo mas imensamente sedutor, tocando numa interioridade que, naquela fase da vida, estava muito longe de sequer imaginar que existia. Do Cântico Negro, que ouvi a primeira vez sublimemente recitado pelo meu extraordinário professor de Português do 9º ano - e que nunca mais ouvi da mesma maneira! - retive toda a raiva incontida, toda a agressividade, todo o desdém que decorre da inevitabilidade de se percorrer um caminho, que é o único, apesar de todas as dúvidas, de todas as contrariedades, de todos os medos, de todos os bons conselhos, de todos os dedos apontados. De Job, aprendi a confiança, até ao limite, contra todas as evidências, contra todos os dedos apontados, contra todos os bons conselhos, num De
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foi imediato. vi esta imagem e pensei logo em quelimane, naquela casa onde tantas vezes foram buscar uma cadeira para que eu me pudesse sentar e conversar. ignorante, recusei-a quase sempre, não percebendo que naquela cultura a conversa de coisas importantes faz-se sentado, em sinal de respeito, tempo e disponibilidade. soube-o depois, já em maputo, demasiado tarde, digo eu. quando lá cheguei levava uma íntima arrogância no olhar e nos sentidos que nem um ano de formação conseguiu impedir. em abono da verdade, creio que nem meia dúzia de anos o conseguiriam, porque é preciso estar lá, viver com eles, sentir-lhes o cheiro, brincar e conversar com eles, para termos uma pálida ideia do que vamos lá fazer. e ainda assim, essa ideia é muito discutível, porque sabemos sempre que iremos voltar, que podemos voltar, que aquele não é o nosso lugar, que é uma questão de suster a respiração e esperar que o tempo passe. enquanto lá estive, apesar de toda a boa vontade, apesar das horas de sono p
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"O próximo é aquele que cuida das feridas". Surgiu assim, do aparentemente nada, e fez-se luz: "o próximo é aquele que cuida das feridas". No clique que se deu cá por dentro, liguei instantaneamente ao que tenho sido nestes últimos tempos. E percebi imediatamente que tenho dado uma série de tiros ao lado. "porquê?" Apesar de não me ter em grande conta em muitas coisas, sei que penso a vida, sei que me preocupo em olhar e ver o que se passa à minha volta, em confrontar o que vou dizendo e sentindo e fazendo com aquilo que me é pedido que diga, sinta e faça. Sei, por isso, que nestes últimos tempos havia sempre algumas pontas soltas que me dificultavam a tranquilidade e me impediam o sossego. Olhava, olhava e voltava a olhar, e não conseguia encontrar o motivo. Só me podia ser externo, por isso. "O próximo é aquele que cuida das feridas." Não era externo. Era uma questão de olhar, de direcionar o meu olhar, de ver o que deveria ver e não aquilo
Creio que ninguém me consegue fazer desejar recolher como Damien Rice. Tem tudo a ver com inverno, com chuva miudinha, com uma boa conversa, uma lareira acesa, e o suave crepitar da madeira, e o suave o incenso que liberta, uma boa garrafa de vinho, uns cobertores e tempo, muito tempo, para que a conversa possa ser devidamente saboreada, degustada, como se de um bom Porto se tratasse. Tem tudo a ver com regressar a casa, à nossa casa, onde nos sentimos aconchegados e eternos, protegidos de tudo aquilo que nos assalta a alma e perturba os dias. Uma casa que nada tem a ver com paredes e janelas e muros mas onde tudo são recantos, nossos, que falam a nossa linguagem, sussurrada, suspirada, transpirada por tudo o que vivemos e trocamos e conversamos uma e outra vez com o mesmo gozo e a mesma surpresa da primeira vez, porque para quem se ama como nos amamos qualquer vez é a primeira vez. Tem tudo a ver com a noite, com o escuro da noite, aqui e ali apenas entrecortado com a luz reflet
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Foi a segunda vez que o ouvi. E gostei do que ouvi. Embora não me deslumbrasse, que eu ando nestas coisas há tempo suficiente para não me deixar deslumbrar facilmente. Tem uma visão nova, desempoeirada, que questiona as coisas da fé e da Igreja, e isso faz-me sempre bem. Porque questionar a fé e a Igreja é questionar-me a mim próprio e aquilo em que acredito, e questionar-me a mim próprio é contribuir para construir alicerces mais sólidos e profundos. Até aí tudo bem. A questão foi quando eu lhe pedi "por acaso não estará disponível para...". Vi logo nos seus olhos, na maneira como os desviava dos meus, no contraste da sua linguagem corporal com a que evidenciara enquanto proferia a sua palestra, o que a sua boca não conseguiu responder. Disse-me que sim quando eu lia distintamente que não. Tudo bem. Também eu sou muitas vezes encostado à parede, preso na armadilha que as minhas próprias palavras cuidadosamente me armaram. Nada de novo, portanto. Ontem, quando tentei confi
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Dia mais complicado! Passei o fim de semana alegre e confiante: tinha resolvido dois berbicachos aos quais faltava apenas a confirmação. Afinal, o primeiro apanhou uma gripe e deixou-me na mão, e ainda estou à espera que o segundo diga alguma coisa. Há dias assim, eu sei, e normalmente estou preparado para eles. E devia saber que eles nunca vêm sós. No ER a coisa hoje foi caótica: não havia monitores, os meus miúdos estavam todos, e todos impertinentes, e passamos hora e meia em que mais parecíamos protagonistas dos Gladiadores, comigo a tentar dominar as feras e elas sistematicamente a levarem a melhor. Por momentos pareciam hienas, as feras, porque se riam na minha cara ;-). A experiência tem destas benesses. Já passei por muito, por muitas alturas de verdadeiro desespero, e aprendi a não julgar o tempo apenas pelo momento. Bem sei que as coisas doem é no momento, mas também sei como é importante conseguir manter a perspetiva correta dos problemas e aprendi, à força de cabeçada,
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Ontem fui a um museu. Em Fátima. Ao qual espero não voltar. E ao qual espero que os meus filhos não vão, O que é esquisito, confesso. Este museu estava carregado daquelas coisas da Igreja que eu preferia que a minha Igreja não tivesse. Mantos e coroas, ouro e diamantes, bordados caríssimos, cálices de prata, tudo aquilo que não nos acrescenta coisa alguma, antes tira, dando razão a todos quantos não percebem como somos capazes de pregar tão no vazio. Eu sei bem que muitas daquelas coisas foram oferecidas, mas é justamente isso o que me causa confusão. Que um padre, bispo ou um papa sinta qualquer necessidade de ter um cálice de prata ou que, como já um deles me disse, o compre para justificar una qualquer necessidade de dignidade. Disseram-me já que os paramentos têm que conferir dignidade, assim como o cálice a patena, mas não me conseguiram explicar porque um cálice de prata é mais digno que o cálice do filho do carpinteiro. Da primeira vez que cheguei a Santiago depois de fazer
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"Tu ouves-te quando me dizes o que dizes?" não. nem sempre. e essa é apenas parte da questão. porque quando a guarda baixa, nem sempre o que me sai da boca passou pelos devidos lugares. não foi devidamente processado, sai diretamente do coração, ou da alma, ou, sei lá, de onde saem aquelas coisas que sentimos, e não passou pela cabeça, pelo cérebro, pela razão, esse garante que o que te digo hoje dir-to-ei da mesma forma amanhã. ou depois. não. nem sempre ouço o que digo. sei que ressoa sempre, sei que fica sempre, cá por dentro, a matutar, a maturar, e que muitas vezes descubro-lhe apenas o sentido muito tempo depois de o ter dito. e que por vezes até gosto do que disse. e que noutras gostaria de não o ter dito mas é tarde demais. é sempre tarde demais quando me descubro no reflexo que projetei em ti. seria muito melhor, e mais fácil, e mais seguro, que reencontrasse o meu reflexo apenas depois de passado pelo crivo do que deveria ser. mas tu tens isso. pões-me à von
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Sempre que o tempo e o trabalho o permitem, tenho começado os meus dias caminhando na Foz. As manhãs frias, a omnipresença das nuvens carregadas de água e o vento frio, curiosamente, potenciam a minha reflexão e consequente oração matinal, como se um ambiente belo mas agreste fosse necessário para me repensar, como contraponto aos dias solheiros e quentes, que me despertam a enorme gratidão a um Deus que me ama. "Devias ter tido mais cuidado. Foste um bocado rude, hoje, na reunião." Desde que nos conhecemos que é assim. O meu grilo falante, sempre atento, sempre cuidadoso, sempre preocupado em que mostre apenas o melhor de mim e guarde aquilo que, francamente, não interessa a ninguém. Volta e meia, quando me descaio, lança-me um daqueles olhares fulminantes e eu sei que acabei de meter água. Por vezes, quando estou mais sereno, acato e tento remediar logo na altura. Outras, no entanto, ando demasiado zangado comigo mesmo para que isso aconteça e continuo, cheio de
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Tenho andado às voltas com as orações dos Dias de Reflexão. No início, ingenuamente, acreditei que todos os miúdos que tinha diante de mim sabiam do que eu estava a falar. Afinal, estávamos num colégio católico e eu assumi, à partida, que todos o eram ou que, pelo menos, o eram as suas famílias. Naquela altura - já lá vão mais de meia dúzia de anos - fiquei espantado quando percebi que alguns não tinham qualquer noção das parábolas e do que elas implicam na nossa vida. Rapidamente formulei o meu esquema e o meu discurso e adaptei-me às circunstâncias. Apercebi-me então que o jogo de cintura que os anos todos de catequese juvenil me deram revelaram-se fundamentais. Acredito cada vez mais que não há experiência de vida que, mais cedo ou mais tarde, não tenha a sua utilidade. Este ano, até porque iniciamos uma nova abordagem, as orações continuam a preocupar-me. Como havemos de chegar àqueles que temos diante de nós. Que volta havemos de dar para não desvirtuar a profundidade e a riq
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Sinto-me sempre abençoado quando me apercebo do grito que pode ser na minha vida um acontecimento ou um testemunho aparentemente menor. Hoje, numa deliciosamente curta conversa com uma das minhas filhas, ela disse-me que não se vê nada numa vida competitiva. Que as suas espectativas vão muito mais no sentido de se empenhar na sua profissão mas conciliá-la com a família que ela tanto deseja, que a aposta numa carreira profissional de sucesso. Ao dizer-me isso revelou-me uma serenidade que me deixa mesmo feliz. E confirmou até que ponto somos parecidos. Lembro-me sempre da única vez em que comprei um carro novo e algo potente. Ia na autoestrada e, com a estupidez tão tipicamente masculina, pus-me a conduzir depressa apenas porque podia. Às tantas apercebi-me de como estava tenso, - eu que gosto tanto de conduzir, ao ponto de me servir de terapia de relaxamento - reduzi a velocidade para a minha zona de conforto, e usufrui, aí sim, das potencialidades daquele carro. Como invariavelm
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Uma das minhas maiores lamentações é a minha incapacidade de aprender de uma vez para sempre. Eu ainda gosto de acreditar na minha capacidade de aprender. De estar atento ao que se passa à minha volta e disso tirar as lições necessárias, venham elas de onde vierem, porque a vida ensinou-me que as maiores verdades são-nos oferecidas pelas pessoas e momentos mais inesperados. No entanto, enredado no quotidiano, facilmente me esqueço delas. No último dia de reflexão que tive com uma turma do 9º ano, a partilha do Bom Samaritano conduziu-nos à questão da não violência. O que levará alguém a não reagir? O que levou Jesus a não se defender das acusações que Lhe levantaram? O que teria levado Gandhi a persistir naquela não violência tão gritantemente silenciosa? E aquela imagem do homem, sozinho, desarmado, diante dos tanques de Tiananmen, permanece na memória de todos nós, os que assistíamos a milhares de quilómetros de distância.  De todas as filmagens referentes aos campos de extermín
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Apesar da tentação, raramente caí no erro de enfiar os meus filhos numa redoma. Particularmente naquele período das suas vidas - breve, claro! - em que eles viam os seus pais como super heróis, como seres especiais (espaciais?) que nunca se enganam e raramente têm dúvidas e tudo fazem bem feito. Mais tarde, quando as coisas azedavam, perguntava-me muitas vezes se não faria melhor em esconder as falhas, em fingir que estava tudo bem, temendo sobrecarregá-los com questões que duvidava que eles estivessem preparados para entender. Numa altura em que azedaram mesmo, cometi esse erro. Antes de entrar em casa, vestia o sorriso, fingia que estava tudo e escondia-lhes tudo. A questão é que não se pode varrer para debaixo do tapete durante muito tempo e, como sempre, chegou a altura de sentarmos e conversarmos olhos nos olhos. E, como sempre, fui surpreendido pelo sua enorme capacidade de enfrentar a vida tal como ela é. Não acredito que os pais e os filhos devam ser os melhores amigos. Não
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A propósito de uma oração para os Dias de Reflexão que temos feito, tenho andado às voltas com o que é necessário para amar. E comecei e parei na vontade. O "eu quero" é absolutamente insubstituível. Amar é sempre, sempre, uma questão de vontade, decorre sempre do "eu quero". Se no amor pelo outro isto é pacífico - podemos sempre passar ao largo e fingir que não é nada connosco - no amor a dois tem implicações nem sempre percebidas. Uma relação a dois, qualquer que seja o seu estádio, exige sempre a vontade expressa e assumida de ambos os protagonistas. Basta que um deles, às tantas, não esteja para aí virado, que as coisas começam a ficar muito complicadas. Em sentido contrário, independentemente do que tiver acontecido na relação, basta que ambos tenham a vontade, firmemente expressa e assumida, de voltar a amar e as coisas continuarão a caminhar. Provavelmente não como antes, mas continuarão a funcionar. Claro que isto não tem nada a ver com o que se passa no
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Esta manhã, durante a eucaristia, tive vergonha de mim. Foi a eucaristia mensal onde o Fé e Luz está presente. Vê-los ali, com a alegria e a inocência que apenas eles têm, derruba-me toda e qualquer veleidade que eu possa ter. Por vezes corro o tremendo erro de pensar que consigo algumas coisas apesar da minha gaguez.Que gaguejar e conseguir trabalhar com jovens e miúdos, alguns deles de Ramalde é uma grande coisa. Que, porque gaguejo, tenho a vida mais difícil que qualquer outra pessoa normal. Como consigo ser estúpido! Ver ali aqueles miúdos e, fundamentalmente, aqueles pais, coloca-me sempre no devido lugar. Não ouso sequer calcular o choque que deve ser para um pai ou uma mãe quando percebe que o seu filho, o seu herói, tem uma qualquer deficiência; que a sua filha, a sua princesa, na qual colocou todas as esperanças, afinal terá, para sempre, uma forma diferente de ser. Não duvido que, passado o choque, a vida acabe por promover a aceitação e até a descoberta de alegrias des
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Conversávamos, sentados, numa fresca que escapava à tarde quente de ontem. Uma daquelas conversas de peito aberto, francas, sinceras, raras entre homens adultos, onde as  chalaças não têm lugar. Sempre tive muito mais facilidade em conversar com mulheres que com homens. Em parte porque não tenho grande pachorra para aqueles temas masculinos da praxe, e ainda menos para as gabarolices bacocas tipicamente masculinas. Mas também porque é muito difícil que um homem fale a sério de si, e muito menos com outro homem. No nosso caso já tinha acontecido antes, naquele que é um lugar especialíssimo do mundo, como Taizé, que potencia a abertura da alma e o mergulhar na interioridade profunda de cada um. Enquanto as palavras fluíam, soltas, sem amarras ou receios, eu disse a determinada altura que nunca tive grande dificuldade em abrir portas. "És confiável" disse-me. E sei que o disse sentindo-o, com toda a verdade, porque acabara de abrir as suas. Vivo muito destes pequenos nadas
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Ontem, finalmente, acabaram as desculpas, as fugas, as justificações esdrúxulas e lá conseguimos sentar-nos, olhos nos olhos, e conversar. Evitavas-me fazia tempo, muito tempo, e eu sabia que nos fazíamos falta. E estavas no teu melhor! Esquiva, de olhar fugidio, querendo evitar a todo o custo tudo o que não fosse conversa para encher chouriços. Sabias muito bem que não era disso que ambos tínhamos saudade, sabias muito bem que o "continuo à tua espera" pedia, exigia, bem mais que conversas banais sobre o tempo e o calor esquisito que faz em Outubro, e no entanto, o teu primeiro instinto fez justiça ao que és: esguia e fugidia. Ok. Acusei o toque e falamos dos outros, depois falamos de mim e dos meus, com a conversa de circunstância de quem esteve muito tempo sem se estar, sabendo ambos que as oportunidades raras, como esta, são exigentes e não toleram desperdícios. Finalmente lá conseguimos comunicar, a sério, sem nos limitarmos aos arranhões superficiais cujas marcas per
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Acordamos ontem com o mesmo sobressalto cm que nos deitáramos na noite anterior: "A Nika está a morrer. Já paralisou e mal respira." A Nika é uma das cadelas dos meus filhos, que está lá em casa desde que eles são pequenos. Está velhota e contamos que, tal como aconteceu com o Aquiles, mais dia menos dia, morra. O Aquiles era o meu cão e eu nunca liguei muito nem à Nika nem aos filhos deles - Athos, Porthos e Aramis - que sempre foram os cães dos meus filhos. Quando morreu o Aquiles eu não estava cá, estava em Taizé e foi a minha mais-que-tudo que o levou ao veterinário para acabar com o seu sofrimento. Ontem cabia-me a mim. Afetivamente mais distanciado, era-me muito menos penoso tratar do assunto. À hora do almoço lá fui a casa pronto para terminar com o seu sofrimento. Às tantas a minha sogra grita que a Nika já está boa, já se pôs a pé, já comeu, e parecia que nada se tinha passado. Respirei com alivio, naturalmente, mas não foi aí que me detive. Eu. que me digo um de
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  No ano passado, por volta desta altura, já andava pelas pontas. Corria de um lado para o outro como um desalmado, cansado, esgotado por fazer tudo em cima do joelho, saltando de umas coisas para as outras, sem qualquer tempo de preparação ou oportunidade de as saborear. Este ano uma circunstância mudou e a minha sensação de vida mudou com ela. Deixei de ter a obrigatoriedade de começar o meu dia logo de manhã bem cedo e isso dá-me uma outra qualidade de vida. Incomparável! Na realidade, não trabalho menos do que fazia antes. Continuo a sair de casa bem antes das oito e a chegar por volta das oito. Continuo a ter, num dia normal, cerca de dez horas de trabalho intenso, e quando o dia não é normal é porque trabalho ainda mais horas. Isto com algumas semanas de seis dias, deixando-me apenas o domingo para o dolce fare niente. E no entanto, há já algum tempo que não saboreava a vida desta forma! Ontem almoçamos rápido e aproveitamos o calor à beira mar, num dos meus lugares preferi
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Uma das coisas que mas aprecio naquilo que agora vou fazendo - a que tenho muita dificuldade em chamar trabalho, tal é o gozo que me tem dado - é o processo de constante reinvenção. Ainda ontem, numa tardia reunião de programação de trabalhos, quando começamos nenhum de nós tinha mais que uma vaga ideia do que iríamos fazer. Depois, com naturalidade, à medida que a conversa vai surgindo, vem uma pista de um, despoleta um raciocínio de outro, e às tantas tínhamos já todo o processo devidamente delineado com a respetiva distribuição de tarefas devidamente assente. Adoro este tipo de processos. Adoro irmos descobrindo juntos o melhor caminho, que por vezes vai até em sentido contrário ao que tínhamos pensado. Adoro quando alguém dá uma boa ideia, ou emite uma opinião que nos faz a todos ver o que antes estava escondido. Adoro quando nenhum de nós se agarra a si próprio nem se vangloria por ter sido dele a primeira abordagem ao caminho seguido, mas todos nos esquecemos de quem partiu a
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Não creio que seja possível alguém saber o que o une a outro alguém. Eu, pelo menos, nunca o consegui. Com exceção dos meus filhos, claro, que estão um outro patamar que torna tudo simultaneamente mais simples e mais complicado. Tudo o resto são escolhas. Minhas. Mesmo em relação aos meus pais e aos meus irmãos, são escolhas. São uma parte muito importante do que mas há um esforço que se faz para se manter o contacto, para que a relação continue viva. Conheço, no entanto, muitos filhos e irmãos que não se comunicam, ainda que alguns deles vivam sob o mesmo teto. Lembro-me perfeitamente do que senti quando conheci o - na altura - meu futuro cunhado irlandês. Sentimos ambos uma fortíssima empatia que ainda hoje, apesar de nos vermos poucas vezes em cada ano, ainda se mantém. Não teve a ver com conhecimento ou crescimento ou partilha e momentos marcantes, nada disso. Conhecemo-nos e gostamos logo um do outro. É um caso raro, na minha vida. Outro foi (é) o da minha mais que tudo. Dois
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Como tantas outras coisas, a amizade chegou demasiado tarde à minha vida: Nos meus primeiros anos - aqueles que estabelecem os alicerces de quem instintivamente somos - saltei de casa em casa, de lugar em lugar, de escola em escola, e isso impediu-me de fazer amigos. Quando finalmente estabilizamos tinha eu já mais de dez anos e ainda assim saltei por várias escolas. A minha primeira raiz foi a capela, já com quinze anos, que foi o verdadeiro motor de mudança. Anos mais tarde, voltei a saltar e, da noite para o dia, mudei-me para uma nova paróquia, um novo grupo de jovens e um novo grupo de amigos. Foi quando conheci a minha mais-que-tudo e aqueles que ainda hoje são meus amigos. Também nas profissões saltei de lado para lado até que, pela Graça de Deus, desaguei onde estou hoje, e onde tenho alguns dos meus mais sólidos amigos. Em todos os lugares por onde passei tenho gente de quem gosto bastante e que gosta bastante de mim. São meus amigos? Não sei. Não sei mesmo. Não sei se terã
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Não sou um. Nunca fui apenas um. E nem sempre me dei bem com isso. Aliás, esse tem sido um dos meus problemas desde que me conheço. Por um lado, fiz uma escolha de vida, a escolha mais definitiva da minha vida, que me transporta todos os dias a um estado de felicidade que nunca julguei ser possível. Acordar ao lado de quem se ama, poder testemunhar o tornar-se gente de corpo inteiro aqueles a quem demos e damos a vida, é um tremendo privilégio que vale, por si só, que a vida seja vivida. Mas não me esgoto aqui. Não me consigo esgotar aqui. Há um outro lado de mim que se encontra plenamente quando estou com a malta nova, quando canto com eles, danço com eles, rezo com eles, e com eles dou asas à minha loucura natural, que parece nunca ter fim. Conciliar estes dois eus levantou-me sempre problemas de consciência. Sempre que estou numa das margens sinto que estou a falhar  na outra e não consigo nunca corresponder ao que uns e outros esperam de mim. Volta e meia falam-me da possibilid
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A determinada altura falou no Campo de Concentração do Eu. Porque aprisiona, porque limita, porque dita as regras em que nós próprios somos demasiado lestos a encarcerar-nos. Voluntariamente, por vezes até alegremente, pensando que podemos viver a vida em serviços mínimos. Eu sorri cá por dentro porque este tinha sido, justamente, um encontro nacional de desencarceramento. Não por vontade própria, que eu faço parte dessa enorme multidão silenciosa que gosta do seu canto, mas porque teve que ser. Nunca tinha tido que pensar na decoração de um altar - com a minha proverbial falta de sentido estético - nunca tinha tido que combinar com o padre as leituras e os cânticos que escolhêramos, nunca tinha tido que assumir, tão claramente, a direção dos cânticos e do ritmo da eucaristia com miúdos que, embora já conhecendo, não me deixam ainda particularmente à vontade. E nunca tinha tido que fazer nada disto porque noutras alturas outros o fizeram e permitiram-me os bastidores, que nestas coi
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«Eu, hoje, farei uma pergunta: como é a relação com o meu anjo da guarda? Escuto-o? Digo-lhe “bom dia”, de manhã? Digo-lhe: «Guarda-me durante o sono”? Falo com ele? Peço-lhe conselho?», disse Francisco. Já o afirmei várias vezes: o Papa Francisco confunde-me. Por um lado, gosto da sua simplicidade (não sei ainda se sincera, se encenada), da sua terra a terra, da sua tentativa de regressarmos às origens. Por outro lado, no entanto, muitas vezes exagera nestas suas ações de propaganda a ponto de se tornar apenas mais um. E um líder nunca é apenas mais um, a sua voz tem que ter um peso, um lastro, que guie, que oriente. Este equilíbrio que, concordo, é muito difícil de conseguir, ainda não foi atingido por Francisco, E depois... as suas constantes referências aos anjos e ao demónio irritam-me profundamente. "Digo bom dia ao meu anjo de manhã?" Por acaso até digo, muitas vezes, mas o meu anjo tem pernas e braços e cabeça para pensar, e nem sequer é um só. Prefiro pensar qu
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"Sorri e acena" Volta e meia sou ensombrado pela saudade. Não do que alguma vez fui mas do que, em alguma altura, desejei ser e a vida nunca mo proporcionou. É uma saudade cíclica, como as alergias, acontece no Outono e na Primavera, deixa-me um bocado zonzo e tende a passar rapidamente. Cada vez menos rapidamente, creio. Por vezes acho que é uma espécie de centro de baixas pressões que se abate sobre mim. Logo sobre mim, que nunca acreditei muito nas tretas das depressões, que leio sempre como excesso de tempo livre e pouco que fazer. "Sorri e acena" Sempre tive algo de eremita. Em miúdo, ao mesmo tempo que sonhava com a minha família de muitos filhos, com a casa cheia e a mulher à minha espera ao fim do dia (sim, é machista, eu sei, mas não escolhemos aquilo com que sonhamos), sonhava também com uma cabana, simples, à beira mar, onde eu viveria apenas com os meus livros. Sem ninguém, sem qualquer compromisso, com a total liberdade que a solidão me proporci
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Volta e meia, quando nada o faz suspeitar, vem o já habitual banho de água fria. Normalmente reajo bem, consigo olhar para além de, sacudo a água e preparo-me para  o que aí vem. É nas alturas em que estou mais descontraído, mais confiante, menos atento, que estes baldes mais me custam a encaixar. E o baque tem custos. Refugio-me em mim, fecho-me, não partilho, até descobrir como hei de encarar o futuro com aquela alteração das circunstâncias. Calculo que serão estes os momentos mais difíceis para quem vive comigo. Não é uma questão de falta de confiança, ou falta de amor, ou qualquer coisa deste género. É mesmo uma tremenda dificuldade em dividir o que é menos bom,  ver nos olhos que me são importantes qualquer tipo de dor infligida por mim, e ter a terrível sensação que sou um peso. Partilho com muita facilidade a alegria e os momentos bons. Não sei, aliás, vivê-los sem os gritar em plenos pulmões, sem tentar contagiar os que me rodeiam. É algo que encontra o seu paralelo no qu
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Não há muito que eu possa dar aos meus filhos. Mas também, em abono da verdade, não há muito mais que eu queira dar aos meus filhos. Dinheiro não pode ser, que esta coisa de ter cinco filhos e uma aposta fortíssima na educação suga-nos quase tudo. O que sobra vai para a alimentação, que nunca faltou. Depois, pouco fica, e é gerido com pinças. Ter despesas não programadas é um luxo que não temos há muitos, muitos anos. E não é grave. Houve um período, curto, durante o qual tive mais dinheiro que disponibilidade e fui uma péssima pessoa e, pior, um péssimo pai. Uma experiência a não repetir. Por isso o que eu posso dar aos meus filhos é o que tenho: a atenção, a disponibilidade, a brincadeira e a chamada de atenção sempre que o justificam. O estar é muito importante. Estar presente, estar disponível, estar atento, conhecê-los profundamente e não tomar nada como certo ou definitivo. Nem são sempre tão bons como quando se portam bem nem são sempre tão maus como quando se portam mal. Ah.
Contrariamente ao que é comum pensar-se, a esmagadora maioria das pessoas deste país não sente o ano novo no primeiro dia de Janeiro de cada ano. Festejámo-lo todos, nessa meia noite, com mais ou menos sono, com mais ou menos champanhe, com mais ou menos amigos, desejamo-nos mutualmente coisas boas para o tempo que aí vem, mas nas verdade, dois dias depois, tudo passou e voltamos à rotina habitual como se nada de especial tivesse acontecido. Mas em Setembro não é bem assim. E nem sequer precisamos de ter filhos ou netos ou crianças na família. A não ser que vivamos barricados nas nossas casas sem qualquer comunicação com o exterior, sentimos que por volta de meados de Setembro a vida efetivamente muda. Radicalmente! Muito mais trânsito, transportes públicos mais cheios, enorme barulho e confusão junto às escolas, minis, súperes e hipermercados a abarrotar de pais e filhos com listas de pastas e cadernos e canetas e tudo o que os meninos precisam e não precisam para o novo ano (este
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"Expliquem-me como se tivesse cinco anos, porque ninguém sabe nada enquanto não tem que o explicar a uma criança de cinco anos." A determinada altura, digo sempre isto em todos os meus DR. É um clássico, que alguns alunos já repetem ao mesmo tempo que eu. Não é da boca para fora. Acredito mesmo nisto. Acredito mesmo que tendemos a complicar as coisas simples e que, volta e meia, temos que regressar, temos que trocar em miúdos aquilo que julgamos que sabemos, aquilo que julgamos que sentimos, e perguntarmo-nos se será mesmo assim. Eu, então, que gosto tanto das ias (as filos e as psicos) tendo mesmo a ligar o complicómetro e a deixar-me enredar nas múltiplas questões que me vão assaltando. Quando consigo deitar a mão a um catecismo dos primeiros anos raramente deixo a oportunidade de fazer um upgrade. Pego nele, leio-o rapidamente, e volto a centrar-me no essencial. Porque o essencial é justamente aquilo que eles descobrem nessa altura e depois nós limitamo-nos a acresc
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Há muito que deixei de tentar que os outros entendessem a minha forma de amar. É daquelas coisas. De fora, por muito que olhem, por muito que tentem ver, por muito que eu tente explicar, por muito boa vontade que haja - e nem sempre há - não conseguem entender. Por vezes, nem mesmo aqueles a quem amo o entendem, quanto mais os outros! Eu percebo. A linguagem do amor apenas é entendível por dentro. E nem sempre! Esta semana festejamos o primeiro aniversário do ER. A confusão da festa não era nada de especial para nós, habituados que estamos àquela imensa energia e excitação, até porque se conciliava a festa com o primeiro dia, com o calor, com os convidados especiais. Mas a cara assustada destes, os olhares de pena que volta e meia nos lançavam e o seu olhar geral de pânico, dizia-nos bastante. Eles não sabem como são os miúdos, não os conhecem, não estão lá senão de passagem e por isso não entendem como é possível encontrar neles outra coisa que não seja a algazarra e os gritos e