Mensagens

A mostrar mensagens de dezembro, 2021
Imagem
Mesmo com o meu habitual otimismo, não há maneira de conseguir sentir que este foi um bom ano. Vi demasiadas vezes o desespero e a dor nos olhares daqueles para quem trabalho para que possa ter a veleidade de fazer as pinturas que faço sempre para dar novas cores à minha realidade. É que, desta vez, nem se trata da minha realidade mas da realidade que acontece fora do meu exacerbado umbigo. Talvez por isso, ao longo deste ano as coisas boas nunca foram inteiramente boas, foram sempre acompanhadas de um espectro que pairava, permanentemente, e que quase me fazia sentir envergonhado quando me alegrava com o que me faz alegrar, como se não tivesse sequer o direito de o fazer. Ao longo deste ano dificilmente me sentia bem sem sentir uma pontada de dúvida: será que não estou a ser egoísta? Creio que esta será a marca deste ano, um pouco como calculo que será a marca deixada pelos estados de guerra, quando as pessoas têm mesmo, por questões de sobrevivência, de fazer um esforço para se alhea
  Sim, eu sei.   Estamos todos à distância de um click ou de uma mensagem   mas não é a mesma coisa. Encontramo-nos e rezamos juntos, numa estranha eucaristia, no aconchego do lar de cada um, mas não é a mesma coisa.   Despedimo-nos, à distância, uns dos outros, desejando-nos o melhor, com os sorrisos possíveis mas não é a mesma coisa. Cearemos todos, hoje,  mais ou menos ao mesmo tempo, nas nossas mesas, mas não é a mesma coisa.   Faltou, este ano, mais uma vez, o estarmos efetivamente juntos na eucaristia,   o sabor do bacalhau com broa da nossa ceia os risos e as gargalhadas de quem se vê todos os dias em “farda de trabalho” as brincadeiras do SPEC as canções dos novos o abraço apertado, caloroso, antes de rumarmos às nossas casas.   Seria tão bom que tivesse acontecido!   Seria... não foi.   Pela segunda vez... não foi.   Quando todos contávamos já que fosse... não foi. Quando todos desejávamos já que fosse... não foi.   E ser Rosário, é também isto.     É também a saudade que nos
Imagem
  Não sou de humildades bacocas. Tento perceber quais as minhas capacidades, o que faço bem e o que faço menos bem, ou não consigo, de todo, fazer com um mínimo de qualidade e, quando me pedem alguma coisa, é justamente com base nesse conhecimento de mim próprio que aceito ou recuso as propostas e pedidos. Soa racional, mas não é apenas racional. Em mim, aliás, nada é puramente racional. Junte-se a isto uma enorme - saudável? - dose de loucura proveniente de um infantil entusiasmo pela possibilidade de ser e fazer com outros, e percebe-se porque tenho muitas vezes a sensação que estou perdido porque me meti numa alhada e dei um passo maior que as pernas. No entanto, é justamente esta saudável e inconsciente loucura que me leva a descobrir em mim capacidades que me desconhecia e a fazer coisas que me julgava impensáveis. E a dar com a cabeça na parede quando não o consigo. Mas não me ouvirão dizer sim quando o que pretendo dizer é não, ou a dizer não à espera que me peçam com mais força
  Sou crescidinho o suficiente para já saber como por vezes a vida me impõe o que, se eu controlasse tudo, jamais faria. Na verdade, à medida que vou avançando no tempo, vão sendo cada vez menos as imposições ligadas àquilo que eu entendo que sou e mais ligadas àquilo que eu faço. São escolhas, claro, mas que de uma forma geral não me alteram nem a personalidade que é a minha nem os valores que me orientam. Mas, mesmo isso, nem sempre é assim tão líquido. Eu cresci num meio social em que é maior motivo de vergonha pedir que roubar. Vou repetir: quando era muito miúdo, roubar era quase natural e pedir era sempre humilhante. Mesmo na eventualidade de se ser apanhado a roubar – o que não era muito frequente, pelo menos na altura – a justificação que era encontrada era, naquela envolvente, mais bem aceite pelos pares que a humilhação de ter que pedir. Afinal, só se roubava porque não se tinha o que a outros sobrava, pelo que seríamos uma espécie de Zé do Telhado em prov