Conversávamos, sentados, numa fresca que escapava à tarde quente de ontem. Uma daquelas conversas de peito aberto, francas, sinceras, raras entre homens adultos, onde as  chalaças não têm lugar. Sempre tive muito mais facilidade em conversar com mulheres que com homens. Em parte porque não tenho grande pachorra para aqueles temas masculinos da praxe, e ainda menos para as gabarolices bacocas tipicamente masculinas. Mas também porque é muito difícil que um homem fale a sério de si, e muito menos com outro homem. No nosso caso já tinha acontecido antes, naquele que é um lugar especialíssimo do mundo, como Taizé, que potencia a abertura da alma e o mergulhar na interioridade profunda de cada um. Enquanto as palavras fluíam, soltas, sem amarras ou receios, eu disse a determinada altura que nunca tive grande dificuldade em abrir portas. "És confiável" disse-me. E sei que o disse sentindo-o, com toda a verdade, porque acabara de abrir as suas.

Vivo muito destes pequenos nadas. De pequenos gestos, de pequenas palavras, de pequenos momentos que depois vão permanecendo e que mais tarde, devidamente cozinhados em nós, se tornam grandes em tudo. Quem me conhece na superficialidade julga-me sempre alegre e extrovertido - e sou-o em algumas circunstâncias - mas desconhece naturalmente este meu lado mais interior, mais meditativo, que no final do dia pesa cada gesto, cada palavra, cada momento, e saboreia-o enquanto o sono não volta. Há uma frase de Hollywood que eu repito muitas vezes para os meus filhos. "Não há papéis pequenos, há atores pequenos". Da mesma forma, acredito que não há momentos pequenos, não há palavras pequenas, não há gestos pequenos. Nós é que muitas vezes estamos tão absorvidos pelo que aspiramos que perdemos a capacidade de apreciar o que vai acontecendo à nossa volta. Graças a Deus, no entanto, temos pessoas que gostam de nós ao ponto de no-lo recordar constantemente.

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