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A mostrar mensagens de fevereiro, 2022
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  Por vezes há coisas que dizemos e ouvimos dizer que soam a mais do mesmo, a verbo para encher meninos, como o meu pai me dizia. Outras, porém, constituem oportunidades para a desconstrução dos nossos próprios conceitos. E eu adoro quando isso acontece. Há algum tempo, fui convidado para falar em algumas turmas acerca do que é esta coisa de viver com fé. Como eu não sei bem o que isso seja - nem tenha capacidade de dizer o que quer que seja acerca do assunto - preferi falar do que é viver com Deus dentro. Porque essas são certezas: a que sou habitado por Ele e a que quero que Ele me habite, mas, mais que isso, que essa cohabitação tem consequências práticas na minha vida e na dos que me rodeiam. E eu gosto de alicerçar o que digo naquilo que vivo. Numa das últimas aulas, uma aluna, provavelmente algo insatisfeita por eu não ter abordado convenientemente a fé (a propósito, engana-se redondamente quem acha que os miúdos hoje não querem saber da fé para nada), perguntou-me o que era a fé
Sentar e escutar, acolher, com o coração aberto, um outro coração, eventualmente ferido, eventualmente magoado, eventualmente perdido, ser admitido na dor dos outros, é um privilégio. Pena é que eu nem sempre tenha a serenidade, a abertura e a coragem de me dispor a fazê-lo.
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  Quando estou com a cabeça cheia, assoberbada, recorro ao básico, ao primeiro. Passeio-me no Parque da Cidade, sento-me junto ao mar, deixo que a brisa me envolva e o som das ondas me invada. Abandono-me. Não faço qualquer esforço para calar o que a cabeça me grita mas, pelo contrário, deixo fluir, até que a sua voz enrouqueça e atenue, lentamente, recuperando a sua normal tonalidade para que, finalmente, abracemos juntos o silêncio.  O abandono tem muito de confiança, de deixar correr, de permitir a passagem do controlo. No meu caso, decorre da necessidade de regresso. À minha finitude, à minha pequenez, ao meu lugar. É um reganhar de consciência, de pertença, de reconhecimento. Recordo-me que não posso tudo e por isso abandono-me, conscientemente, a quem sei que tudo pode. Remeto-me ao conforto do silêncio profundo, que acontece no lugar onde, calculo, estará colocada a alma. Este silêncio que não é ausência mas inelutável presença, admitida, concedida, desejada intensamente para se
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  Tenho falado do Encontro de Cristo na minha vida em várias turmas.  Mais valia ler-lhes isto que encontrei hoje:   Maria Madalena - Sobre o primeiro encontro com Jesus Vi-o pela primeira vez em junho. Ele caminhava pelas plantações de trigo, quando passei por perto com minhas criadas. Ele estava só. O ritmo de seus passos não se comparava com o de outros homens, e jamais vi um corpo mover-se como o seu. Homens não pisam a terra daquela maneira. Até agora não sei se ele ia rápido ou devagar. Minhas criadas apontaram para ele, cochichando timidamente umas com as outras. Eu parei por um momento e levantei o braço para saudá-lo, mas ele não virou o rosto, nem sequer me olhou. Como o odiei nesse momento! Retraí-me, fria como se tivesse atravessado uma nevasca. Eu tremia. Naquela noite, sonhei com ele. Contaram-me depois que cheguei a gritar enquanto dormia e que meu sono havia sido agitado. Foi em agosto que voltei a vê-lo, pela janela. Ele estava sentado à somb
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  Ontem sabia que teria um dia cheio. No entanto, não era essa a mossa que sentia: dias cheios são o pão nosso de cada um dos meus dias e dou Graças por isso. O que me fazia mossa era a ânsia da normalidade que, há muito tempo, teima em primar pela ausência. Eu sempre gostei da normalidade da rotina, de saber, no início de cada manhã, com o que vou contar e antecipar os trabalhos, os temas, as reações. Por causa disso, dessa ilusão do controlo, os meus primeiros 5 segundos depois de uma qualquer surpresa dificilmente são positivos: reajo sempre com protesto. Depois acalmo, racionalizo, incorporo e encaixo-me no que a vida me dá. Mas, entretanto, esses 5 segundos já estiveram lá e foram visíveis para o autor da surpresa. E isso não costuma ser bom. Por outro lado, não gosto da queixa do antes é que era bom ou do éramos tão felizes e não sabíamos. Apesar das imensas memórias que me habitam - e que eu prezo, independentemente de me fazerem sorrir ou sofrer - creio que nunca fui um saudosi
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  Iniciei este ano um novo ciclo de catequese com o 7º ano. Os nossos inícios nestas coisas nunca são fáceis. Por um lado, preciso sempre de simplificar a minha mensagem e, sobretudo a maneira como faço catequese, onde aplico de forma ainda mais incisiva o que vivo na vida: gosto mais de perguntas que de respostas. E quase todos os miúdos, naquela altura, sentem-se muito mais confortáveis com respostas - se possível simplificadas até à sua infantilização - que com as perguntas que a fé e a vida vão suscitando dentro de si. No entanto, acredito que eles não são um produto acabado a quem se distribui conceitos mais ou menos religiosos - para mais num contexto de escola como o nosso - mas caminhantes, no princípio de uma longa caminhada, para a qual saber fazer-se perguntas a si próprio é absolutamente fundamental. Temos vindo a falar do Reino de Deus, de como está bem mais próximo de todos nós do que imaginamos, de como depende bem mais das ações de cada um de nós do que desejaríamos. De