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A mostrar mensagens de dezembro, 2016
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Nunca fui de grandes atos de coragem. Sonhava-os muitas vezes, continuo a sonhá-los algumas, embalado pelas memórias do Cavaleiro da Triste Figura, dos filmes do Zorro e do Gavião dos Mares do Errol Flyn, devidamente condimentadas pelo Major Alveja. Choro sempre nos filmes dos heróis que dão a sua vida por um bem maior ansiando pela oportunidade que a vida me dará de um dia fazer algo do género e imagino o meu funeral ao som da música de Taizé ao pormenor de pensar o que será escrito na minha lápide - dando de barato que se for cremado, como desejo, não terei direito a lápide. A verdade é que nunca fui dado a grandes atos de coragem. A pequenos talvez, ínfimos, provavelmente, aqueles que nunca são contados nas histórias nem aparecem nos filmes porque são atos banais de pessoas banais com vidas banais. Não é isso que me apoquenta. Eu gosto do pequeno. Aprecio o pequeno. Valorizo o pequeno, o quotidiano, o (apenas) aparentemente banal.  Mas há alturas em que o pequeno não basta. P
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Apregoo muitas vezes que há muitas formas de amar. E de amor. Amar é tão tudo que enfiá-lo em conceitos pré definidos é limitá-lo a nós próprios e à nossa forma de amar.  Isto quando todos sabemos como o amor é muito mais que nós. No entanto, há formas de amar que dificilmente cabem no amor. Quem ama sabe que volta e meia a coisa dói. Imenso. E dói mais intensamente quanto mais se ama. Diria que faz parte, que dificilmente poderia ser de outra forma, que ou mexe com tudo em nós ou não vale a pena, e se mexe com tudo em nós não mexe apenas quando é bom. Mas apenas entendo a dor no amor quando são dores de crescimento, quando é para acrescentar, para ajustar o ser mais, que exige sempre algum tipo de poda do coração, nem sempre fácil, muitas vezes dolorosa. Será, provavelmente, a maior das ilusões deste nosso tempo, a ideia que é possível amar asseticamente, onde tudo é bom, onde nada custa. Eu incorro muitas vezes nessa ilusão  - que ainda mais vezes me acusam de eu próprio criar nos
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Tão inevitável como eu fazer um balanço de final de ano é eu escrever aqui que é inevitável eu fazer um balanço de final de ano. Estava agora a ler uma notícia e deparei-me com uma palavra na qual não penso muitas vezes mas que me diz muito - e porventura poderá até dar-me pistas que contribuam neste constante processo de definição pessoal: itinerante. Este ano foi um ano de itinerâncias. Tantas que às tantas já me perdia de mim. Ontem disseram-me que o que me vale é que as pessoas que me rodeiam - e me amam - são adultas por mim e, à força de amar, me vão quase forçando a escolher os caminhos que eu deveria escolher se tivesse o hábito - que não tenho - de manter a cabeça em cima dos ombros e o coração no lugar certo. A verdade é ao longo deste ano me descobri a querer sol na eira e chuva no nabal, reconciliar o inconciliável e ficar de bem com Deus e o Diabo. Nessa mesma conversa de ontem lá fui concluindo, a custo - acontece-me muito ir descobrindo conclusões à medida que a co
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Uma das coisas mais ou menos boas de se ter filhos adultos é escutar o que eles têm a dizer de nós próprios. Uma das minhas filhas é muito crítica em relação a tudo. A começar por ela própria, esticando-se, não raras vezes, para além dos seus próprios limites. Já lhe disse que penso que irá longe em termos profissionais, embora tenha algumas dúvidas se alguma vez terá paz. No entanto, paz para ela tem um significado um pouco diferente do meu. Ela fica em paz quando consegue fazer o possível e o impossível para alterar uma qualquer situação com a qual não concorda, seja aqui ou na conchichina. A minha paz é algo de muito mais pessoal e interior. E difícil de alcançar. E proporcionar à minha volta. E era justamente a propósito disso que conversávamos ambos no outro dia. Eu tenho andado mais silencioso, mais metido comigo mesmo, no meu mundo, como eles dizem. Os meus filhos têm muitas memórias de um pai sempre às cambalhotas com eles, sempre a rebolar pelo chão, muito físico, muito pr
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rasgo-me. e arrependo-me. volto a rasgar-me. e a arrepender-me. não porque  tenha um melhor retrato. apenas porque não tenho outro. e este, com todos os remendos, continua a ser o único que tenho. não me custam os remendos passados. prefiro-os à fantasia de uma perfeição que nunca me atraiu por aí além. e são a minha história. ou as minhas histórias. e a dos meus fracassos. e a dos sucessos que sempre lhes seguiram. o que me custam são os remendos novos, ou os novos rasgares. que implicam remendos novos. e às tantas não há retrato que resista. até porque há partes de mim que eu já nem sei se me pertenciam ou se foram emprestadadas por outros. que me remendaram, quando me remendaram, com pedaços seus. eles, mais pobres de pedaços. eu, mais remendado. mais rico de pedaços mas mais remendado. cada vez mias remendado.
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Devo estar mesmo fragilizado. Nos últimos dias escutei de várias bocas que somos um todo, e por isso o corpo reflete o que nos vai na cabeça. Sei que têm sido muitos os acontecimentos nestes últimos tempos, que têm sido tempos de despedidas. E eu sou péssimo em despedidas. Mas daí a existir alguma repercussão no corpo espero que vá uma longa distância. Senão então não antevejo grande descanso corporal para o que aí vem. É destes tempos, com certeza, mas ainda ontem via esta foto e invejei o velhote.Ter tamanha liberdade e paz - que acredito que mesmo para o velhote existirá no momento da foto mas não será permanente - será um privilégio que eu quero ir conquistando à medida que o tempo vai passando. Como conciliar essa paz e essa liberdade com as minhas conquistas até aqui é que por vezes me tira o sono. Por um lado, amo o que faço e tenho e construí até hoje. Um longo percurso feito, como todos os percursos, de algum sacrifício mais ou menos apagado pelo sabor da felicidade, e
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Eu orgulho-me de, regra geral, respeitar o espaço de cada um. Nem sempre acontece, ou melhor, nem sempre consigo que aconteça, particularmente com aqueles que me são mais importantes. Talvez pela proximidade (física, afetiva, emocional), em determinadas alturas não consigo discernir com clareza o que é demais e chego até a ultrapassar limites que em situações normais eu próprio me imporia com todas as escassas certezas que me habitam. Ainda recentemente me disseram que eu sou naturalmente transgressor, o que - como acontece com todas as verdades verdadinhas que apenas aqueles que me amam me dizem - a princípio estranhei mas depois entranhei tentando averiguar da veracidade da afirmação (acusação?). Era verdade. Um dos meus maiores anseios - creio que de toda a humanidade - é poder voltar atrás. Recuar. Refazer, Conseguir que o que aconteceu nunca tivesse acontecido. Que o que se perdeu nunca tivesse sido perdido. Que o que se ganhou permanecesse ganho. Não tanto porque não tives