Esta foi uma semana daquelas. O único dia em que jantamos juntos foi no já longínquo princípio da semana e não nos temos visto mais que por alguns momentos. Tenho andado a correr como um doido, reuniões aqui, ensaios ali, preparações em todo o lado. Como se não bastasse, partiram-me o vidro do carro e levaram-me o tablet. Provavelmente, quem o fez é amigo ou conhecido ou vizinho daqueles que estavam comigo na faculdade de Direito a assistir a uma palestra sobre os excluídos. Ironias! E no entanto...
Hoje, quem me visse na minha cada vez mais preciosa caminhada matinal junto ao mar, pensaria que sou (ainda mais) maluco, tal o sorriso. Esquisito, não?
Digo muitas vezes aos meus miúdos que conhecer Jesus rouba-nos desculpas. Deixamos de poder alegar desconhecimento ou distração, deixamos de poder olhar para o lado e ficar de consciência tranquila, deixamos de ter a consciência tranquila em qualquer dos casos, porque é sempre muito mais o que podemos fazer quando comparado com o que realmente fazemos. Deixamos de poder dizer que não sabíamos, ou que não sabíamos como fazer, que nunca nos disseram que o sermos todos irmãos é muito mais que uma frase bonita. Deixamos de nos sentir donos do que quer que seja porque sabemos que tudo nos foi dado e foi-nos dado para os outros. Deixamos até de sermos apenas nossos porque até a vida nos foi dada para que possamos ser para os outros. Por isso, conhecer Jesus não é conhecer um amiguinho bom que nos garante o arco-íris e o pôr-do-sol e o luar sempre bonito com doces harmonias tocadas por anjos, mas descobrir a inquietação que apenas encontra a serenidade quando conseguimos ser nos outros.
Mas não é apenas para isso que Jesus nos rouba desculpas. Conhecendo-o, deixando que ele permaneça na minha vida, querendo-o a meu lado, deixo também de ter desculpas para ser infeliz. Aprendo que as pessoas são sempre, mas sempre, infinitamente mais importantes que as coisas, aprendo a olhar para quem me acompanha e me desafia a ser melhor e a dar o que nunca julguei ter (essa treta de não se poder dar o que não se tem é isso mesmo: treta), aprendo a aprender de quem menos esperava aprender, aprendo a dar valor ao arco-íris, ao pôr-do-sol e ao luar como mais um risco numa tela que está plena de vida vinda da entrega e da descoberta do próprio Jesus nos outros.
Por isso esta semana não conseguiu roubar-me o sorriso. Enquanto caminhava pensava apenas em como tenho mais que motivos para louvar a Deus. Pensava nas deliciosas partilhas e descobertas desta semana, com amigos que apenas por acaso são colegas de trabalho, com miúdos que apenas por acaso são mais novos que eu, com pretéritos rufias em potência que apenas por acaso escolheram estar comigo e com a minha mais-que.tudo numa aprendizagem quando poderiam estar com os que se entreteram a mexer no que estava quieto. Pensava justamente na minha mais-que-tudo e como ansiava que ela estivesse ali, comigo, naquela caminhada matinal, como tantas vezes fazemos, e já agora, como gostava que os nosso filhos também lá estivessem, e fazia planos para que, talvez amanhã, o possamos fazer juntos. Pensava no tempo que não tenho e no tempo que não temos todos lá em casa porque todos escolhemos arranjar tempo para os outros, e pensava em como não termos tido tempo para nós pode não ser assim tão mau... desde que não abusemos.
Não, esta semana não me roubou o sorriso. Pelo contrário, permitiu que ele fosse mais sincero.
Job, lembras-te?

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