20141028
A propósito de uma oração para os Dias de Reflexão que temos feito, tenho andado às voltas com o que é necessário para amar. E comecei e parei na vontade. O "eu quero" é absolutamente insubstituível. Amar é sempre, sempre, uma questão de vontade, decorre sempre do "eu quero". Se no amor pelo outro isto é pacífico - podemos sempre passar ao largo e fingir que não é nada connosco - no amor a dois tem implicações nem sempre percebidas. Uma relação a dois, qualquer que seja o seu estádio, exige sempre a vontade expressa e assumida de ambos os protagonistas. Basta que um deles, às tantas, não esteja para aí virado, que as coisas começam a ficar muito complicadas. Em sentido contrário, independentemente do que tiver acontecido na relação, basta que ambos tenham a vontade, firmemente expressa e assumida, de voltar a amar e as coisas continuarão a caminhar. Provavelmente não como antes, mas continuarão a funcionar.
Claro que isto não tem nada a ver com o que se passa nos filmes que vemos. Mas são raros os que falam de amor. Normalmente começam com um encontro onde há um arrebatamento, forte, intenso, e o filme termina quando essa paixão é satisfeita. Raramente lhe dá continuidade, porque a continuidade é mais profunda, menos visível e certamente menos percetível aos olhares menos atentos. Por isso quando vemos filmes de amor - e de repente vem-me à cabeça dois extraordinários: Amigos Improváveis e, o mais recentemente descoberto, O último amor de Mr. Morgan - apercebemo-nos que raramente abordam o amor na sua "normalidade" mas entre situações pouco usuais, como se o amor entre um homem e mulher fosse uma coisa chata e difícil de retratar. E às vezes não é bem isso que se passa.
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