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A mostrar mensagens de julho, 2013
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Um dos principais indicadores do meu cansaço é a falta de paciência. Não com os outros mas comigo, quando estou sozinho. Quando o dia termina, o rádio incomoda-me, chego a casa e não sei o que hei de fazer com  tempo, pego num livro e largo-o, pego noutro e não me satisfaz logo às primeiras páginas, a televisão não passa nada em condições e, como se não chegasse, todas as noites uma qualquer canção perfeitamente estúpida invade-me o sono fazendo com que, invariavelmente, veja nascer o dia de olhos bem abertos. Poucas coisas me chateiam tanto como este tempo intermédio em que estas coisas ainda não acabaram mas as outras ainda não começaram. Em princípio, amanhã, esse tempo terá acabado. Afife, com as suas praias, com a sua calma, com o seu tempo nublado, com as suas noites frias, espera por mim. Amanhã, em princípio, encetarei uma nova recuperação. De mim mesmo. Boas férias
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Há uns anos descobri que há em mim um lado de advogado do diabo que me passara despercebido. Numa qualquer discussão, quando as opiniões tendem todas para um lado desconfio sempre. E descubro-me a procurar razões para que as coisas não sejam bem assim. Muitas vezes acabo até por não conseguir deixar de apresentar essas razões, mesmo contrariando o que defendera momentos antes. Confuso? Claro que sim. Se para mim o é, imagino para os outros. E sou assim em tudo! Aqui há uns tempos, depois de mais um titulo, cometi a estupidez de dizer em voz alta que tinha saudades do Porto quando o Porto não ganhava nada. Éramos poucos os indefectíveis, orgulhosos por pertencer a um clube que sentia na pele e no campo o contra tudo e contra todos, que na altura nada tinha de artificial. Da mesma forma, sempre preferi as segundas cidades dos países e os clubes dessas cidades, que têm que lutar contra o natural poderio da capital. Mesmo a nível partidário, tenho sempre vontade de aderir formalment
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Tenho andado a saborear, lentamente como convém com as coisas importantes, o Lumen Fidei, do Papa Francisco. Logo no início, uma curta frase que me chama a atenção: a fé nasce no encontro com o Deus vivo. Nunca entendi muito bem aqueles que dizem que, com muita pena sua, não foram abençoados com o dom da fé. Provavelmente nunca a procuraram, ou melhor, nunca se disponibilizaram a não ser para que a pudessem ter. Lembra-me o que aconteceu na minha primeira experiência de Taizé. Nos primeiros dias a cabeça não parava, andava constantemente às voltas, numa ensurdecedora gritaria que me frustrava qualquer tentativa de silêncio. Às tantas, cansado de tanta gritaria, rendi-me a mim mesmo e aceitei a imensidão de imagens e sons e problemas que me assaltavam mal me sentava naquele chão abençoado. Progressivamente, de forma muito lenta, fui-me apercebendo que se era eu, inteiro, com tudo o que sou, não podia não aceitar tudo o que me vinha à cabeça, não podia fazer uma espécie de interre
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Lentamente, muito mais lentamente do que eu desejaria, vamos voltando a ter o nosso tempo. Ainda na semana passada, numa das reuniões de um dos grupos de trabalho aos quais pertencemos, tive que recordar que, apesar de sermos casados, apesar de irmos e virmos juntos, apesar de ambos estarmos envolvidos em alguns projectos comuns, não somos um só. Para efeitos de trabalho, claro. Que as coisas não passam por osmose ou proximidade enquanto dormimos só porque nos amamos. Que o facto de se comunicar algo a um de nós não implica necessariamente que o outro o saiba. Até porque temos muito mais do que conversar, muito mais do que partilhar, muito mais do que construir e resolver, todos os dias, que não passa por trabalho. Volta e meia lá se misturam as duas coisas, mas confesso que isso não me agrada nada. Se, no que à vida diz respeito, fazemos por ter uma visão comum, no que ao trabalho diz respeito nem sempre queremos que assim seja. Nem sempre seria bom que assim fosse. Em boa verd
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À revelia (uma daquelas revelias com que eu, como pai, estou sempre a contar e até, num e noutro caso, vou permitindo), o meu filho mais novo criou conta no Facebook. Como sou amigo dele, volta e meia passo por lá e dou-lhe uma vista de olhos. E nem sempre gosto do que vejo. É natural. É esquisito ver o meu filho através da impessoalidade do Facebook. Principalmente a ele, a quem começam agora a despontar as primeiras borbulhas, e que vai rapidamente deixando de ser "o pequenito" para assumir o João que em si desponta. Eu sou um completamente babado pelos meus filhos. Conheço-os muito bem - mesmo quando se tentam esconder, e tenho um tal orgulho neles que por vezes me pergunto como cabe tanta coisa cá por dentro (o que, pelo menos para mim, explica perfeitamente o meu porte, que alguns, erradamente atribuem à gula. Nada de mais errado: tudo isto é amor.) Sei que eles já são muito mais do que eu alguma vez serei, o que me deixa perfeitamente feliz acerca do meu papel de pa

pontes

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Um dos meus maiores prazeres é observar. Pessoas. Lembro-me de, muito miúdo, ir para a Praça da República, ou para a Avenida dos Aliados, e entreter-me a ver as pessoas a correr, esbaforidas, ensanduichadas nos autocarros, em hora de ponta. Imaginava como seriam as suas casas, o que fariam quando chegassem a casa, as suas famílias, a sua solidão ou alegria. Ainda agora, quando estou no meio de muita gente, normalmente refugiado num qualquer canto, são coisas dessas que me passam pela cabeça. Por isso, é-me extremamente gratificante ver a evolução dos miúdos nas colónias. Quando lá chegam, apesar de todo o trabalho em comum que acontece ao longo do ano, há vários grupos que se olham com alguma desconfiança. As conversas ou são tímidas ou aparvalhadas (que é uma outra forma de lidar com a timidez), os olhares são inquisidores, e há, sobretudo, uma enorme quantidade de eus. Nesse primeiro dia, normalmente lido com todos eles de forma um tanto ou quanto abrupta: preocupo-me mais com o

colónia

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Mapas preparados, muitas coisas embaladas, tudo para que não falte nada. Na bagagem interior, no entanto, é que vai o essencial: uma tremenda dose de boa disposição, uma tremenda dose de paciência e, fundamentalmente, uma tremenda dose de improviso. Pelas minhas conta, este é o meu décimo terceiro ano consecutivo de colónias. Cheguei aqui como chego sempre a estas coisas: contrariado, arrastando os pés, mas lá vou chegando por afinidade, por amor,  por quem tem a arte e o engenho de o fazer: a minha mais-que-tudo. Aos dessa primeira colónia, já quase lhes perdi o rasto. Sei que alguns são já pais e mães, sei que alguns estão ou estiveram na prisão, sei que alguns vingaram na vida e são cidadãos como todos os outros: com maiores ou menores dificuldades, com maiores ou menores sonhos cumpridos. Quando passo por qualquer um deles é sempre uma festa. Qualquer que tenha sido o seu percurso, é sempre bom revermo-nos. Mesmo aqueles que se portavam mal e eram mandados para casa, hoje cump

Olhadela

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Poder acordar bem cedo, caminhar por entre as árvores tendo como fundo o barulho do mar e o canto dos pássaros é um excelente motivo para dar Graças.  Se sou acolhido por uma manhã esplêndida no seu brilho, na sua cor, no seu silêncio recheado de sons naturais, as Graças ganham uma nova razão de ser. Se me encontro com as memórias de uma colónia que agora termina e que não podia ter corrido melhor, as Graças encontram a vida vivida que as devem justificar. Se, ao mesmo tempo me preparo para a colónia que hoje vai começar, e que prevejo com maiores dificuldades, as Graças ajudam na superação.  Se, enquanto faço estas viagens, dentro e fora de mim, me deparo com um inesperadamente belo espaço de oração, as Graças encontram o seu lugar de louvor. Resta-me, então, saber agradecer todo o amor. Obrigado, meu Bom Pai.