foi imediato. vi esta imagem e pensei logo em quelimane, naquela casa onde tantas vezes foram buscar uma cadeira para que eu me pudesse sentar e conversar. ignorante, recusei-a quase sempre, não percebendo que naquela cultura a conversa de coisas importantes faz-se sentado, em sinal de respeito, tempo e disponibilidade. soube-o depois, já em maputo, demasiado tarde, digo eu. quando lá cheguei levava uma íntima arrogância no olhar e nos sentidos que nem um ano de formação conseguiu impedir. em abono da verdade, creio que nem meia dúzia de anos o conseguiriam, porque é preciso estar lá, viver com eles, sentir-lhes o cheiro, brincar e conversar com eles, para termos uma pálida ideia do que vamos lá fazer. e ainda assim, essa ideia é muito discutível, porque sabemos sempre que iremos voltar, que podemos voltar, que aquele não é o nosso lugar, que é uma questão de suster a respiração e esperar que o tempo passe. enquanto lá estive, apesar de toda a boa vontade, apesar das horas de sono perturbadas por aqueles miúdos, apesar de toda a entrega, extensiva a todos, eu sabia que haveria de voltar, que na noite escura os meus pensamentos e os meus sonhos estavam deste lado do hemisfério. apenas depois de voltar percebi muito do que lá vivi. num processo que ainda não está fechado, que ainda continua, e nem posso assegurar que alguma vez esteja absolutamente definitivo. vejo um filme sobre áfrica e sinto-lhe o cheiro a terra, a confusão, os esgotos a correr a céu aberto, e dou por mim a desejar aquele silêncio, aquele espaço, aquele luar. tenho sempre a ideia que lá hei de voltar, que a vida mo há de proporcionar e que, quando isso acontecer, receberei essa forma de vida de braços abertos. sim, porque a voltar será como forma de vida e não já de passagem. armado em visita.

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