Não sou um. Nunca fui apenas um. E nem sempre me dei bem com isso. Aliás, esse tem sido um dos meus problemas desde que me conheço. Por um lado, fiz uma escolha de vida, a escolha mais definitiva da minha vida, que me transporta todos os dias a um estado de felicidade que nunca julguei ser possível. Acordar ao lado de quem se ama, poder testemunhar o tornar-se gente de corpo inteiro aqueles a quem demos e damos a vida, é um tremendo privilégio que vale, por si só, que a vida seja vivida. Mas não me esgoto aqui. Não me consigo esgotar aqui. Há um outro lado de mim que se encontra plenamente quando estou com a malta nova, quando canto com eles, danço com eles, rezo com eles, e com eles dou asas à minha loucura natural, que parece nunca ter fim. Conciliar estes dois eus levantou-me sempre problemas de consciência. Sempre que estou numa das margens sinto que estou a falhar  na outra e não consigo nunca corresponder ao que uns e outros esperam de mim.
Volta e meia falam-me da possibilidade de os padres casarem. Eu torço sempre o nariz. Também porque penso em mim, claro. Se eu, que sou antes de tudo sou marido e pai, tenho dificuldade em fazer este tipo de gestão, como não iria ser com um sacerdote, que tem que se dedicar de alma e coração ao seu rebanho? Quem colocaria em primeiro? A quem se entregaria primeiro? Como viveria o resto? E, mais importante, quem ficaria a perder?

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