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A mostrar mensagens de janeiro, 2014
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Não é fácil aceitar o que a vida nos vai dando. À medida que o tempo passa vamo-nos tornando mais refinados nas nossas exigências e convencemo-nos que temos direito àquilo que é pura gratuidade. Talvez por isso Job seja a minha inspiração quotidiana. Quando as coisas correm menos bem, respiro fundo, e tento descortinar algo de positivo por entre a escuridão. E isso tem repercussões. Recentemente fui preterido por ser demasiado otimista, por gostar e confiar demasiado nas pessoas, por esperar delas sempre o melhor. É verdade. Dos que me rodeiam espero sempre o melhor e quando isso não acontece procuro sempre justificar as suas atitudes,  num exercício muito fácil: basta colocar-me no lugar delas e ser o mais verdadeiro possível. Acredito que a fidelidade a mim próprio, àquilo que eu verdadeiramente sou, me tem aproximado do que tento ser. Curiosamente, é um processo inverso ao que eu pensava que deveria ser o mais natural: primeiro descobriria o que quero ser e só depois caminharia
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Adoro quando um filme ou um livro anda a vaguear cá por dentro. Vou relembrando determinadas passagens, questionando-as e questionando-me, confrontando-as e confrontando-me, pondo-me à prova. Ainda ontem, quando conversava com o meumaisnovo acerca de um livro que ele leu - creio que, porque também anda a navegar lá por dentro, foi o primeiro que ele leu verdadeiramente - falávamos de como é importante deixar que as nossas experiências nos habitem e deixarmos que elas nos vão moldando. Ler ou ver sem permitir sentir é puro desperdício e, pior, conduz a viver sem sentir e isso sim, é uma vida de puro desperdício. Walter Mitty é o meu mais recente habitante. E o curioso é que porque, por motivo de trabalho, tive que comparar o meu olhar sobre o filme com outro olhar e apercebi-me que o que víramos, em muitos aspetos, não era coincidente. Acho fantástica a forma como cada um de nós tem a capacidade de extrair das experiências aquilo que mais falta lhe faz para se ir completando aos bo
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Nos meus melhores dias, gosto de pensar em mim como um semeador. Se há algo que tenho bem presente na minha vida é a noção que o tempo corre a nosso favor e que as pequenas coisas, quando bem cuidadas, podem dar grandes coisas. Por isso, de tudo aquilo que faço, o que me dá mais gozo é justamente o privilégio de assistir - e por vezes, quando tenho sorte, até participar - ao crescimento interior das pessoas. Vê-las desabrochar, acompanhá-las na sua própria descoberta, tentar mondar a terra, ir ajustando a posição do sol, acompanhar a sua evolução - umas vezes para cima, outras mais de lado - dá-me um sentido e uma perspectiva de vida que me é absolutamente indispensável. Contudo, não tenho apenas melhores dias. E nos meus piores dias gosto de me descobrir como semente. Que alguns acarinham e cuidam, escolhendo para mim o melhor, que muitas vezes eu próprio não consigo descortinar, dando-me o tempo que preciso e incentivando-me a serenidade que me falta. Nas alturas em que isso acon

praxes

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Tenho quatro filhos na faculdade. Todos começaram por participar nas praxes. Uma das minhas filhas, porque é trabalhadora estudante, não tem tempo para essas coisas. Com muita pena dela. Outra disse que não era vida para ela. Já o esperava: não se sujeita com facilidade a ninguém. Dos que participam ativamente na praxe, a minha filha é quase fanática, e o meu filho nem sei bem, embora desconfie que não ande longe disso. Já não me recordo da imensa quantidade de discussões que tivemos a propósito da praxe. Conhecendo-me e à minha história, não tenho grandes dúvidas que se fosse da idade deles seria um adepto ferrenho da praxe, que seria o primeiro a alinhar nas brincadeiras. Mas não tenho a idade deles e detesto todos os sinais que a praxe transmite. Nada há naquelas atividades, naquela forma de vestir, naquela hierarquia infantilizante que eu aprove. Nada. São incontáveis já as discussões que tivemos lá em casa por causa da praxe. Ainda hoje falamos do assunto com a faca entre os d
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  Do Evangelho de hoje: Mas Ele perguntou: «Quantos pães tendes? Ide ver.» Depois de se informarem, responderam: «Cinco pães e dois peixes.» Por vezes há coisas que testemunhei, que escutei de alguém, e depois armam tenda cá por dentro à espera de uma oportunidade de se fazerem vida. Os cinco pães e dois peixes fazem parte desse imenso rol que ainda não consegui tornar realidade. Lembro-me muito vagamente de uma reunião ligada à Pastoral Familiar, ou aos CPM, em que se procurava encontrar uma forma de os casais mais velhos apoiarem os casais mais novos quando eles estivessem em dificuldades. Alguém referiu então que numa paróquia lá para cima a comunidade se organizava nos cinco pães e dois peixes. Cinco casais apoiavam dois na vida quotidiana, cinco famílias apoiavam duas com bens alimentares, cinco jovens apoiavam dois com explicações, cinco escuteiros apoiavam dois idosos nas suas casas... e assim sucessivamente. Ao que parece, essa paróquia encontrou neste número a fórmula
Estamos aqui hoje, todos engalanados, porque, há mais dois mil anos atrás Deus, quis, mais uma vez, vir ao nosso encontro. Esse Deus, omnipotente que poderia ter escolhido qualquer outra forma de transformar o mundo, decidiu nascer no meio de nós, fazer-se menino, pobre entre os pobres, desprotegido entre os desprotegidos, amparado apenas por aqueles que o amavam contra tudo e contra todos. Porque seria? Porque é que, de entre todas as possibilidades que o seu poder lhe permitia, deus decidiu justamente fazer-se um de nós para vir ao nosso encontro? Se fossemos nós, provavelmente teríamos permanecido sentados no sofá, na nossa zona do conforto, como agora está na moda dizer-se, e, a partir do nosso conforto, teríamos debitado meia dúzia de opiniões, teríamos enchido o mundo de pretensas verdades, teríamos julgado cada um dos que não pensava como nós, dito que o melhor era fazer isto, ou aquilo … e, naturalmente, porque não teríamos metido as mãos na massa, nada de especial teria ac
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Duas coisas que li hoje: Eusébio morreu e Gandhi aquando da sua morte, tinha de bens pessoais acumulados durante toda a sua vida, o equivalente a dois dólares. Desde sempre que tendo a admirar quem consegue ser simples. Particularmente aqueles que tinham tudo para o não ser, porque isto de se ser simples por circunstâncias da vida não causa espanto a ninguém, é uma fatalidade como qualquer outra. No entanto, ter o dinheiro, ter o reconhecimento público, ter o poder para se poder pairar acima dos comuns e escolher não o fazer, é algo divino. Não por acaso, foi justamente essa a forma que Deus escolheu para nascer: fazer-se pequeno. Ainda ontem, na costumeira confusão do almoço dominical falávamos, em tom de brincadeira, o que faríamos se nos saísse o euromilhões. E a realidade é que manter a sanidade mental nessas alturas deve ser mesmo difícil. Ter à mão de semear uma enorme quantidade de dinheiro deve dar a volta a qualquer um. São muitos os casos conhecidos de pessoas que se t
“Entre as numerosas novas situações que exigem a atenção e o compromisso pastoral da Igreja, será suficiente recordar: os matrimónios mistos ou inter-religiosos; a família monoparental; a poligamia; os matrimónios combinados, com a consequente problemática do dote, por vezes entendido como preço de compra da mulher; o sistema das castas; a cultura do não-comprometimento e da presumível instabilidade do vínculo; as formas de feminismo hostis à Igreja; os fenómenos migratórios e reformulação da própria ideia de família; o pluralismo relativista na noção de matrimónio; a influência dos meios de comunicação sobre a cultura popular na compreensão do matrimónio e da vida familiar; as tendências de pensamento subjacentes a propostas legislativas que desvalorizam a permanência e a fidelidade do pacto matrimonial; o difundir-se do fenómeno das mães de substituição (“barriga de aluguer”); e as novas interpretações dos direitos humanos. Mas sobretudo no âmbito mais estritamente eclesial, o en