Mensagens

A mostrar mensagens de fevereiro, 2012
Imagem
Gosto de fotos assim, fora do comum, desafiantes, que me desmontam os conceitos tão laboriosamente construídos para minha própria segurança. Gosto de ser interpelado, levado mais longe, desencaminhado, incomodado, levado a pensar o impensável, a sentir o insensível, a questionar o absolutamente certo e seguro. Desde há muitos anos que aplico na vida a velha máxima dos actores de Hollywood: "não há papéis menores, apenas há actores menores." Acredito piamente que na vida nada é menor, que nada é insignificante, que tudo contribui para a construção da pessoa em que nos tornamos. Talvez por gaguejar, cedo aprendi a desconstruir as evidências. Aquilo que para uns é absolutamente garantido - um discurso fluido - para mim é resultado de uma escolha criteriosa de palavras; aquilo que para uns é anormal - o simples acto de gaguejar - para mim é a normalidade; aquilo que para uns é choque e surpresa - gaguejar não acarreta nenhuma evidência física e vejo sempre o olhar das pes
Regras para viver na Cúria (do Vaticano) O consultor de uma congregação organizou os cinco «não» para se sobreviver na  Cúria : Não penses. Se pensas, não fales. Se pensas e falas, não escrevas. Se pensas e falas e escreves, não assines como teu tome. Se pensas e falas e escreves e assinas como teu nome, não fiques surpreendido. Lido em Thomas J. Reese, "No Interior do Vaticano", Publicações Europa-América, p. 197  (Thomas J. Reese é padre jesuíta). Ontem, ao pequeno almoço, o tema de conversa à mesa foi a minha capacidade, ou melhor, a falta dela, de chamar os meus filhos à atenção acerca de determinados comportamentos. Ou seja, na sua perspetiva - e não só - eu não teria "moral" nenhuma para os chamar à atenção porque eu próprio não teria um comportamento exemplar.  Esta é uma guerra de muitos anos. Solitária, diga-se de passagem. Eu sei que é suposto dar o exemplo, eu sei que aquilo que pretendo comunicar terá muito maior eficácia se for no se
Imagem
Estou sempre a desmistificar. Contrariamente ao que pensava antes de partir, muito do que ficou de Moçambique tem também a ver com sensações e não apenas com sentimentos. Claro que tenho imensas saudades nossas, claro que é muito frequente ficar com cara de totó enquanto revisito as nossas orações, as nossas refeições, as nossas brincadeiras, claro que muitas vezes dou por mim como que teletransportado para as nossas caminhadas quotidianas, para as nossas conversas ao luar, para as nossas partilhas profundas. Tudo isso, que são sentimentos, é uma presença constante na minha vida. O que eu não contava é que as sensações também o passassem a ser. Não consigo ver uma palmeira sem sentir Moçambique - e não foram assim tantas as que vimos! - não consigo ver ou ouvir falar numa ONG sem sentir Moçambique, não consigo estar num eucaristia dominical sem me apetecer bater aquelas palmas ritmadas de Moçambique. Moçambique, mais que uma recordação, tornou-se uma presença tão forte que qua
Daily Quote: Perhaps strength doesn't reside in having never been broken, but in the courage required to grow strong in the broken places. ~ Unknown Apesar de tudo, a minha personalidade tem algumas coisas que me deixam feliz. Uma delas é o facto de nunca ter acreditado em pessoas perfeitas e não ter ficado cínico por causa disso. Na realidade, não acredito que haja alguém perfeito. A não ser Jesus, claro. Mas esse é um outro campeonato. Acredito muito na capacidade que cada um de nós tem de fortalecer as cicatrizes, de viver com remendos e de acreditar que são justamente essas cicatrizes que as tornam mais belas. Também por isso eu tenho um gosto um bocadinho esquisito. Detesto aquelas mulheres tipicamente americanas, tipo Donas de Casa Desesperadas, sem encorrilhas na cara, sem nada descaído, como se fossem barbies ambulantes. Acho muitíssimo mais bonitas as mulheres naturais, sem pinturas, com cabelos brancos, com encorrilhas, com marcas de vida. E quem diz mulheres diz ca
Imagem
Sou amigo de um punhado de homens que são exactamente quem eu gostaria de ser: sérios, competentes, firmes, muitíssimo bons naquilo que fazem e reconhecidos por todos. Ainda há pouco tempo admirava a forma serena mas firme como um desses amigos chamava a atenção a um aluno. Sem alaridos, sem levantar a voz, mas confrontando-o olhos nos olhos, de forma a não dar qualquer hipótese de argumentação. Passados alguns dias disse-lhe justamente isso: que se eu alguma vez desse aulas gostaria de ser como ele, de seguir o seu exemplo. Ainda bem que o fiz. São estas coisas que me fazem verdadeiramente feliz. Levei muito tempo a aceitar-me tal como sou.Não é fácil. Sempre tive a imensa sorte de estar rodeado de pessoas verdadeiramente encantadoras, como diz o Pe. Almiro, que sempre me fizeram sentir pequenino no meio delas. Por vezes caio no erro de construir determinadas imagens de mim, de me refugiar nelas, de as apregoar aos sete ventos na expectativa que; à força de tanto o ouvirem, os o
Imagem
Curioso... Assim que vi esta foto pensei logo em ti. Na realidade, espanta-me eu não sejas tu a estar em cima do escadote, atarefada a semear as estrelas. Ou a recolhê-las, não sei bem. Porque tu és assim: ora vais semeando estrelinhas nas entrelinhas para que outros as possam recolher, ora tentas tu própria desencantá-las num qualquer canto escondido, como quem procura agulhas num palheiro. Outra coisa que nesta foto tem a tua cara é o aparente absurdo de cuidar das estrelas quando elas menos se vêem, quando está dia. Também tu és assim, queres lá saber das tuas condições, queres lá saber se o tempo é verdadeiramente o tempo de colher ou semear. Não estás nem aí, para ti é sempre tempo e fazes com que o tempo seja de alguma forma o tempo. Ponto final. E sim, também tu tens um escadote, também tu fazes questão de fazer das tuas fraquezas forças de forma a ver a partir de um pouco mais alto que aquele que te é natural, também tu usas os teus artefactos e artifícios para enganar a tu