Mensagens

A mostrar mensagens de abril, 2013
Imagem
Há lugares por onde passo todos os dias. Sem sair do sítio. Fisicamente, claro, porque esses lugares que visito todos os dias têm o condão de me transportar para longe de mim. Lugares que me fazem rezar, dar Graças, com a maior das facilidades; lugares que me questionam, me interpelam profundamente; lugares que me recordam pessoas e momentos e outros lugares onde fui feliz... ou infeliz; lugares que, invariavelmente, enriquecem os meus dias. e me tornam mais rico, claro. Vejo das mais belas e mais inspiradoras fotos que alguma vez vi, de lugares, esses sim, físicos, de pessoas, de sorrisos, de alegria, dor e sofrimento. Mundos completamente diferentes do meu mundo de todos os dias mas que, ao fim de algum tempo, começam a ser também parte do meu mundo. Leio dos mais belos e inspiradores textos, artigos e notícias, publicados aqui na esquina ou do outro lado do mundo, emociono-me, por vezes sorrio como um tolinho, aparentemente sozinho, mas de alguma maneira em boa companhia. Outras
Imagem
Lembro-me perfeitamente da primeira vez que me sentei num avião. Ia para Londres, estava mais fascinado que nervoso, apesar de só me vir à cabeça aquelas cenas de filmes de segunda categoria em que os aviões caem e toda a gente morre. Desde aí, instintivamente penso sempre a mesma coisa quando me sento naquelas cadeiras desconfortáveis e olho em volta: "olha as pessoas com que vou morrer." E entretenho-me a imaginar como cada uma delas reagiria. Logo que o avião avança na pista, desligo deste nonsense, e sigo a minha viagem calmamente. Discutíamos lá em casa, um dia destes, o meu exacerbado optimismo/conformismo. Eu dizia que não conheço muitas pessoas tão felizes quanto eu e, à volta da mesa, tive quem me defendesse e quem visse nisso algo profundamente limitador. Os primeiros diziam que sermos felizes é o objectivo e o propósito fundamental da nossa vida, e os outros, que o facto de nos sentirmos felizes (e conformados com a nossa situação) é um forte impedimento ao pr
Imagem
Uma das discussões mais recorrentes que tenho com alguém de quem gosto muito (e que considero como minha mãe) é acerca da verdade. Confesso que tendo a não gostar dos paladinos da verdade. Aliás, eu nem gosto dos paladinos de coisa nenhuma, mas da verdade, então... Pessoas cheias de si, da sua autoridade moral, que vêem a vida do alto do seu pedestal enquanto dificilmente nos suportam, a nós, pobres coitados e pecadores, absolutamente errantes, perdidos à espera de uma migalha da sua imensíssima sabedoria. Não posso com pessoas cheias de si e uma das coisas que me derruba com maior facilidade é quando alguém me diz que eu estou cheio de mim. E isso, infelizmente, acontece algumas vezes. E é motivo para passar os dias seguintes em reclusão à procura do que falhou. Adiante! Esta questão da verdade vem desde sempre, e desde sempre eu a sinto como uma acusação. A pessoa em causa diz sistematicamente coisas como "a verdade acima de tudo" ou "a verdade, custe o que cust
Imagem
Decidi mudar de agulha. Assim. De repente. Estava já com muito trabalho adiantado, mas escrever sobre o que distingue a paróquia das restantes comunidades - nomeadamente aquela a que verdadeiramente pertenço, a escolar - seria certamente importante mas não é isso o que me move, o que me preenche os meus dias. É outra coisa. Bem mais concreta. Bem mais quotidiana. Como hei de conseguir levar Jesus ao Centro? Como hei de evangelizar com quem não quer saber destas coisas para nada? Como hei de conseguir fazê-los sentir que são eles os principais interessados em Jesus, que foi justamente para eles que Ele veio? Como hei de eu conseguir contornar a imagem enraizada de uma igreja de privilégios para lhes apresentar uma Igreja de pessoas? Terei que desligar a Igreja de Jesus para voltá-la a ligar mais tarde, com outros olhos? Como hei de falar de Jesus, fazê-los sentir Jesus, fazê-los perceber o encontro, desejar o encontro? Porque raio teima em não sair de cá de dentro a inquietação de ve
Imagem
Sou um homem de rotinas. Gosto das mesmas coisas nos mesmos dias à mesma hora. Ainda na semana passada alguém comentou o que seria de mim sem relógio. Na realidade, não gosto de me sentir demasiado solto, sem hora marcada, à deriva. Talvez por causa disso, apesar das minhas origens, sempre evitei o álcool e as drogas. E nem sequer gosto dos escorregas porque me faz muita impressão não ter qualquer domínio sobre o que me pode acontecer enquanto deslizo. Aquilo que para outros é pura diversão para mim é pura confusão. Uma das minhas rotinas matinais é uma visão geral dos blogues e das notícias. Percorro-os rapidamente, que o tempo não dá para mais, à procura de algo que salte à vista, que me inspire e que me ponha a pensar. Hoje foi a luta entre o bem e o mal, que tem lugar dentro de cada um de nós, num texto formidável do Leonardo Boff, que aproveitei para publicar num outro blogue. Noutros dias pode ser qualquer outra coisa: a oração da manhã da renascença, uma foto, um título de
Imagem
O amor assume formas tão distintas! Talvez por causa da educação que (não) tive, nunca gostei de amarras. Quando alguém me diz "tens que...", seja a que título for, algo cá por dentro se revolve. Claro que há alturas em que tenho que, mas nunca para isso o amor é chamado. Afinal, também eu tenho que ganhar a vida. Mas no amor não tenho que. Quero, quero querer, mas não tenho que. Assusta-me sempre um bocado quem precisa de amarrar para amar. Ainda esta semana uma das minhas filhas sentia-se meio perdida porque chegou a hora de os seus amigos da faculdade irem para Erasmos e ela não. Sabe que vai ficar só durante uma data de tempo e ela nunca soube muito bem lidar com isso. Depois lá conversamos e aconselhei-a a mudar de agulha, como muitas vezes digo, a concentrar-se e em centrar-se um pouco mais em si para ficar menos dependente dos outros para depois então poder enveredar rumo a novos horizontes. Levei muitos anos até conseguir ser emocionalmente independente. Curio
Imagem
Apesar de ser francamente mau em fazê-lo, poucas coisas me fascinam mais que o trabalho de grupo. Sou mau porque normalmente não consigo pensar com os outros. Preciso de espaço, preciso de tempo, preciso de me concentrar, preciso de ponderar muitas variáveis, e, em grupo, não consigo fazer nada disso. Então, nessas alturas, o que acontece muitas vezes é deitar coisas pela boca fora e depois arrepender-me do que disse. No entanto, em função das circunstâncias e das equipas, duas coisas distintas podem acontecer. Uma delas é ficar caladinho com um chasco e limitar-me a aprender. Faço-o quando estou suficientemente calmo e seguro de mim para que me possa permitir passar despercebido. E também quando estou rodeado de sábios, o que, felizmente, acontece algumas vezes. E tenho ainda o bónus de, por vezes, ser considerado minimamente inteligente, o que não é mau de todo. A outra coisa é confiar muito em quem está à volta da mesa. Aí, acontece uma mistura abençoada: porque estou com a min
Imagem
O fim de tarde de domingo passado foi um daqueles que permanecerão na nossa memória colectiva. Os primeiros raios de sol quente, a ida ao Parque da Cidade e à Foz (o nosso local de eleição: bom, bonito e barato) e uns momentos de descontracção comum com muita música, muita brincadeira, muitas gargalhadas... muito nós. Evidentemente, não é sempre assim. Nem sequer é isto que constitui o nosso quotidiano. Todos estamos completamente empenhados nos nossos trabalhos, nos nossos estudos e, mesmo ao fim de semana, entre equitação, futebol, escuteiros, catequese, coral e grupo de jovens, não é fácil encontrar um tempo para nós. Por isso as refeições são tão importantes para nós: é o local e a hora em que partilhamos, conversamos, discutimos, discutimos e voltamos a discutir. E muitas vezes acabamos todos a cantar enquanto alguém arruma a cozinha. O pequenito - tenho mesmo de começar a deixar de lhe chamar pequenito - aqui há uns meses, instituiu a noite do cinema em família: ao princípio
Imagem
Hoje, quando vinha trabalhar, ouvi na rádio que foi criado um rim artificial que funciona. A primeira coisa que pensei foi que qualquer dia não morremos. E a segunda foi: agora é que é precisa a religião. Se não morrermos naturalmente, teremos que escolher a melhor altura para morrer. E quem não tem fé, como poderá escolher? Como é que alguém escolherá entre o que tem, ainda que seja mau, e o nada? Como é que alguém, a determinada altura da sua vida, poderá autorizar-se a ser nada? Como é que alguém que passou toda a sua vida a conquistar um lugar, que é sempre importante para alguns, se permitirá ser nada? Como é que alguém que não tem fé escolhe que quer ser nada? Há pessoas para quem a única coisa que as impede de se considerarem verdadeiros deuses é a morte. Outras, em sentido oposto, encontram na imponderabilidade e inevitabilidade da  morte a desculpa para a forma como (não) vivem a sua vida. Pessoas ou demasiado cheias de si ou demasiado vazias de esperança, para quem o tud
Imagem
No Dia de Reflexão andamos, como de costume, à volta da Dignidade das pessoas. O trabalho é todo sobre o encontro de Jesus com a Samaritana, depois aplicado às várias situações do nosso quotidiano: a tremenda importância dos acontecimentos aparentemente menores, as consequências dos rótulos que nos colocamos, que deixamos que os outros nos coloquem e que colocamos nós próprios nos outros; a importância de permitirmos o futuro não sobrevalorizando os erros do passado, o facto de, para Jesus, o que eu quero ser ser sempre mais importante que aquilo que eu vou conseguindo ser... Em poucas turmas chegaram à Dignidade com a facilidade com que esta turma chegou. Apanharam logo o sentido do verdadeiro encontro e conseguiram transportá-lo para o seu quotidiano. No entanto, perceber uma coisa é bastante diferente de ter a coragem para a viver. Foi pena. Mas quero acreditar que possa ter servido para alguma coisa.
Imagem
Cheguei a correr para voltar a sair a correr e disseram-me: senta aqui um minuto, que temos saudades tuas. Sentei, conversamos por breves minutos - sempre menos que os desejados - e fomos à nossa vida. Foi curto mas muito agradável, num daqueles momentos que me levam a confirmar a sorte que tenho, e a dar Graças pelos que comigo vão caminhando. Em sentido oposto, num outro momento, senti uma enorme necessidade de justificar a minha parca disponibilidade perante alguém que não estava habituado a ter-me aos bocados. Nem preparado para o fazer. Apesar do que lhe disse e escrevi, sei que de pouco adiantou. Há situações perante as quais as palavras sobram, só atrapalham, só incomodam e conduzem a mal entendidos. Estas nunca são situações fáceis, para mim. Detesto a impotência de não conseguir fazer sentir o quanto gosto de alguém, detesto não conseguir fazer vibrar o olhar, e odeio ficar parado, como fico sempre, à espera que um qualquer raio caia do céu e faça entender o que eu não co
Imagem
Na vida, há três coisas que faço muito bem: contas ao dinheiro... dos outros; resolver os problemas,,, dos outros; educar os filhos... dos outros. Isto, que eu digo muitas vezes e que normalmente é tomado como uma brincadeira, é uma das minhas maiores verdades. É uma daquelas conclusões a que cheguei à força de cabeçada na parede, à medida que me ia consciencializando das minhas insuficiências e percebendo os meus limites. É, por isso, uma verdade vivida, ainda que muito minha. Hoje conversei com uma mãe angustiada com o seu filho. Enquanto eu lhe dizia que não tinha motivos para essa angústia, que o seu filho é um miúdo em condições, pensei que poderíamos, com facilidade, trocar de papéis. Enquanto eu escutava os motivos das suas preocupações - e os relativizava - pensava que eu próprio jamais os relativizaria se se tratasse de um dos meus filhos, porque os amo profundamente e nada do que com eles e neles se passou, passa ou se perspectiva me é indiferente. Por isso, não crei
Imagem
Uma das acusações mais constantes que me são feitas, particularmente por aqueles que me amam, é a de incoerência. Que muitas vezes digo uma coisa e faço outra, ou que então, umas vezes digo uma coisa e passado pouco tempo digo o seu oposto. Confesso que, tirando naquela meia dúzia de convicções profundas que pautam e definem a minha vida,  a coerência não faz parte das minhas preocupações quotidianas. Normalmente, não estou muito preocupado com o que disse ou fiz em determinada altura e por isso esqueço-me com muita facilidade. Também nunca me senti muito amarrado a mim próprio, nunca tive grande dificuldade em reconhecer que não sou dono de verdade nenhuma e facilmente encontro no outro razões válidas para defender uma posição que difere da minha. Esta semana tive um Dia de Reflexão. De uma turma que sabia ser complicada, com alguns alunos com quem tive já uns desaguisados e, justamente por isso, não estava com grande vontade de os acompanhar. No entanto, como gosto ainda menos
Imagem
Numa das reuniões de trabalho que tive ontem, avaliamos a Via Sacra que tivéramos antes do período de férias. Creio que foi um momento muito rico para todos nós, com várias partilhas que espelham a enorme diversidade de sensibilidades mas expressam o quanto podemos todos aprender uns dos outros. Para mim, que venho de outras andanças, poder celebrar a fé com aqueles com quem trabalho e que fazem parte do meu dia a dia é um enorme privilégio. Recordo-me perfeitamente daquelas alturas em que ainda não trabalhava aqui mas participava em alguns momentos de oração por via da minha mais-que-tudo, e de como isso era um enorme oásis, particularmente quando comparado ao meu mundo de então, feito de negócios e competitividades extremadas. Recordo-me perfeitamente da minha dificuldade em entender a normalidade, a quase apatia, com que aqueles que hoje são meus companheiros de jornada participavam nessas celebrações. Não conseguia entender como eles não percebiam como são privilegiados por te
Imagem
Retomo o quotidiano, depois de uma Páscoa que não foi nada fácil. Desta vez não consegui fazer qualquer pausa. Pelo contrário. Um Centro Comunitário a abarrotar de malta nova sem nada que fazer - e, como bem sabia o Padre Américo, é tão importante que estejam ocupados! - umas celebrações pascais a requererem a minha participação, uma casa cheia a exigir a minha presença... e uma permanente sensação de correria que me incomodou permanentemente. E, algures por entre a correria, um Deus que ressuscita. Não é fácil gerir Marta e Maria. Se, por um lado, encontro o Ressuscitado justamente naqueles a quem me vou entregando, por outro, a azáfama constante rouba-se o silêncio, a calma e a serenidade e afasta-me do encontro profundo que preciso que aconteça. E não consegui ainda encontrar esse equilíbrio. Algures entre o trabalho no Centro, os ensaios, as celebrações, a visita pascal no compasso, a vida escapa-se-me por entre os dedos. E essa é uma sensação terrível! Como sempre acontece,
Imagem
Da imensidão de fotos e textos que foram publicados ao longo destes primeiros dias do Papa Francisco, esta é, claramente, a que mais me diz. Um Papa que se senta numa cadeira no fim da Igreja só pode ser alguém tem a consciência que não ocupa mais um cargo. Têm sido muitas as pessoas que me têm vindo a perguntar o que penso do Papa Francisco. E eu nunca sei muito bem o que dizer. Por um lado, há a enorme esperança que o critério de adesão à Igreja passe a ser o da fé e do desejo de conversão e não qualquer outro. Acredito numa Igreja onde todas as pessoas de boa vontade encontram um lugar para repousar a cabeça, qualquer que seja a sua circunstância. Esta Papa tem dado bons sinais nesse sentido, mas ainda é cedo para avaliar o que quer que seja. Por outro lado, esses sinais são hoje lidos, analisados e discutidos minuciosamente por todos, em todas as alturas. Nunca como agora um Papa foi submetido ao olhar público, crente e não crente. Não é possível que um olhar de fé queira da I