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A mostrar mensagens de abril, 2018
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Assim que se passou para as perguntas de quem assistia à mesa redonda comecei a contar os minutos. Por escasso tempo. Foi a primeira pergunta. Não foi recorde, no entanto. Junte-se uma conferência da Igreja - sobre qualquer tema - e pessoas nos entas, e a pergunta é tão previsível como a morte: como se há de combater o demónio que se esconde no facebook e o mal que as redes sociais fazem aos nossos jovens e às nossas famílias. Torço-me sempre na cadeira. Sei que não adiantaria nada tentar responder. Sei que os argumentos que o mal não está nos facebooks ou quejandos mas na distância que se instalara antes, quando os miúdos eram novos caem em saco roto. Sei que explicar que temos que ir ao encontro da malta nova onde ela está - e se está nas redes sociais porque não irmos até lá - e não batermos no peito como virgens ofendidas é redundante. Sei que recordar que Jesus, que aos pescadores falava de peixe e aos agricultores de sementes, ia ter com as pessoas onde quer que elas estives
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Hoje, como sempre acontece à terça, tivemos reunião no RAIZ. Às tantas, a conversa vai ao encontro das nossas preocupações constantes com o futuro dos nossos miúdos. Enquanto permanecem por cá, enquanto os temos debaixo de olho, as coisas ainda vão correndo. O pior é depois. Falamos de uma série deles que, ao longo dos últimos meses, ou foram ter à prisão ou estão em casa com prisão domiciliária ou então foram libertados em julgamento. São marionetas. Dos pais, dos irmãos mais velhos, dos traficantes, das força policiais. São carne para canhão. Aqui no bairro, se eles não funcionarem em condições, rapidamente são substituídos por outros com maior vontade, maior estupidez, menor consciência e escrúpulos. Oiço e não acredito. Conheço bastantes deles e o que conheço, o que recordo, são momentos que nada têm a ver com o seu passado próximo e com o seu presente. Miúdos traquinas, com pouca vontade de estudar, vivaços, muito alegres, muito dóceis. Miúdos que noutras circunstâncias poderi
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É já proverbial, para os meus, a minha recusa em ser sepultado num cemitério. Os meus sabem-no sem dúvidas há muitos anos. Sabem que quero ser cremado, onde gostaria que fossem espalhadas as minhas cinzas - nos meus lugares de pertença física e espiritual: Porto e Taizé - e estou certo que este é um daqueles casos em que a minha vontade será satisfeita. E no entanto... Tenho vindo a redescobrir os cemitérios. Pode parecer macabro, mas não é. O meu futuro, em algum momento, implicará a minha morte, por isso é natural que eu pense nisso. Ultimamente, com alguma tranquilidade, até. Depois do choque das recentes mortes que tanto me mexeram cá por dentro, é uma espécie de assumpção, de aceitamento por absorção. Uma espécie de fase nova, em que vou percebendo (finalmente!) que o corpo tem limites e que qualquer dia será o dia. Ainda na semana passada, numa das já habituais conversas à volta da fé com os meus filhos, um deles perguntou-me se eu creditava mesmo que iria estar olhos nos ol
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Estou a (tentar) ler a Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate, que o Papa Francisco escreveu recentemente e ontem foi publicada. Espanto-me sempre com a simplicidade daquela cabeça. Quem, como eu, tende para as coisas profundas e densas - sim, eu escolho muitas vezes um livro pelo número de páginas - tipo Bento XVI, facilmente encontra nos textos do Papa Francisco alguma tendência para a superficialidade, para a excessiva simplificação do que se espera ser complicado, a exigir dicionário teológico, quanto mais não seja para nos alimentar o ego da sabedoria! Uma das minhas provocações mais comuns e favoritas é "expliquem-me como se eu tivesse cinco anos". Todos os meus filhos já tiveram cinco anos - bem, quase todos, porque a idade mínima da Rita foi nove - e eu recordo-me bem como era difícil responder à sua enorme e constante sede de respostas. Tentar explicar algo a um miúdo de forma a que ele entenda - e se cale - exige um esforço de síntese que nos conduz ao essenc
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Li, era ainda muito miúdo, que a dor, se não existisse, teria que ser inventada. Na altura não entendi. Não sei se entendo agora. Há qualquer coisa na Via Sacra que me questiona até à medula. Cada estação, cada passo de Jesus, cada reflexão, cada oração, são como se fossem minhas, como se fosse a minha vida, as minhas cruzes, as minhas dores, as que rezamos. A determinada altura, não sei se são minhas as dores de Jesus, ou de Jesus as minhas dores. Talvez sejam ambas. Talvez sejam de ambos. Com certeza serão de ambos, e andará por aí a humanização de Jesus, e a divinização do zé. Dizia eu num destes dias que não consigo estar desatento nas homilias. E são muitas e boas, aquelas que me são dadas a escutar. Numa delas, despretensiosa, o sacerdote a determinada altura dizia que, se não somos deuses, somos Deus. Todos somos Deus! Esta frase remeteu-me imediatamente para conversas de mais de trinta anos, num gabinete de contabilidade, onde eu e um amigo, ambos em fase de descoberta,