Não creio que seja possível alguém saber o que o une a outro alguém. Eu, pelo menos, nunca o consegui. Com exceção dos meus filhos, claro, que estão um outro patamar que torna tudo simultaneamente mais simples e mais complicado. Tudo o resto são escolhas. Minhas. Mesmo em relação aos meus pais e aos meus irmãos, são escolhas. São uma parte muito importante do que mas há um esforço que se faz para se manter o contacto, para que a relação continue viva. Conheço, no entanto, muitos filhos e irmãos que não se comunicam, ainda que alguns deles vivam sob o mesmo teto.

Lembro-me perfeitamente do que senti quando conheci o - na altura - meu futuro cunhado irlandês. Sentimos ambos uma fortíssima empatia que ainda hoje, apesar de nos vermos poucas vezes em cada ano, ainda se mantém. Não teve a ver com conhecimento ou crescimento ou partilha e momentos marcantes, nada disso. Conhecemo-nos e gostamos logo um do outro. É um caso raro, na minha vida. Outro foi (é) o da minha mais que tudo. Dois dias depois de a conhecer cheguei a casa e disse à minha irmã que tinha conhecido a minha mulher. Soube logo que assim seria.

Normalmente, as minhas relações de amizade mais profunda precisam de caminho. De muito caminho. De conversas profundas, de partilhas profundas, de músicas e de filmes, com muita alegria pelo comum e até sofrimento pela dor do outro. São relações muito mais de olhos que de pele. Mas são sempre muito construção, muito passo a passo, muito descoberta lenta e progressiva, cada vez mais íntima, cada vez mais profunda. Acredito que são pessoas que Deus coloca no meu caminho para que possamos aprender juntos quando a nossa vida precisa mais que aprendamos juntos. Por vezes, terminada a aprendizagem mútua, a vida encarrega-se de nos apresentar caminhos distintos. E seguimo-los ambos com a doce nostalgia daquele tempo e a firme certeza que a ele voltaremos alegremente ao mais pequeno sinal, assim as circunstâncias o solicitem.

Há também alguém que fica em standby. Vivemos algo juntos, partilhamos algo juntos, estivemos algures em sintonia, mas em que sinto muito mais futuro que passado. Aprendi, a muito custo, a dar lugar ao Mestre Tempo, a deixar que a vida aconteça, mantendo, ainda que à distância, um olhar atento e uma disponibilidade efetiva mas discreta. Por vezes cedo à tentação de correr, de abraçar, de tentar que o nosso tempo seja efetivamente aquele em que vivemos. E estrago.

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