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A mostrar mensagens de março, 2021

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Não corres. A cada coisa a sua coisa a cada momento o seu momento a cada tempo o seu tempo. Não antecipas discussões não antecipas motivações não antecipas ações sobretudo se imaginadas sobretudo se contra ti. Não corres. Esperas serenas confias. Quando chegar, cá estarás. Sempre! Como sempre.

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  Este, que é, hoje, um dos meus dias preferidos, já foi passado com dor. Já aqui confessei por várias vezes que ser pai, e ser casado, constituía um dos meus maiores medos. Sabia que iria ser louco pelos meus filhos, sabia que não tinha propriamente um modelo do que deve ser um pai - dou-me bem com o meu pai mas há qualquer coisa (que eu nunca soube exatamente o quê) que sempre faltou e ainda falta - mas sabia que não podia confiar em mim e nas minhas capacidades, sobretudo quando prolongadas no tempo. Sabia-me de fogachos, de momentos, de períodos, e tinha perfeita consciência que ser pai - e marido - não é compatível com fogachos ou momentos.  Recordo com um misto de enorme saudade, medo e culpa uma prenda do dia do pai em que a Isabel, numa cartolina, desenhou as mãos de cada um dos filhos, pequeninas, e escreveu "pai, estas são as mãos dos que contam com as tuas mãos". Houve várias alturas da minha vida em que essa frase, esse cartaz, essas mãos, me fizeram companhia dur

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"A essência de cada pecado consiste na tentativa de ser como Deus, fazer de conta que se é Deus, ignorar a Sua vontade e impor contra ela a nossa própria vontade, o nosso desejo do poder. O oposto do desejo de Adão de ser como Deus é o exemplo de Jesus, que mostra o que é ser como Deus, imitar Deus no amor sem limites que se dá a si mesmo. (...) É para esta perfeição, para esta semelhança com Deus e o Seu amor generoso, que Deus nos convida e chama." Tomas Halik, O Tempo das Igrejas Vazias   A vida, a mensagem, os ensinamentos, tudo em Jesus é extraordinariamente simples. Tudo. Não há filosofias complicadas, não há ses nem mas, não há jogos de bastidores, coisas na manga, segundos sentidos ou possibilidades até de intelectualizações exacerbadas. Se formos rigorosos e, sobretudo, verdadeiros, se nos permitirmos o despojar dos nossos medos e arriscarmos no confronto direto, olhos nos olhos, alma na alma, com Jesus, verificamos como tudo tem a beleza das coisas simples. E a extr

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  Se há pessoas que me questionam são as que têm todas as certezas acerca de Deus. Quando sai do Magistério alguma orientação que confirma a Tradição entoam hossanas porque a Igreja está a respeitar o que Deus disse; quando as orientações vão em sentido contrário, vociferam sacrilégio porque a Igreja está a escolher a mundanidade. Eu gostava era de perceber como essas pessoas acham que Deus nos fala, a cada um, em cada momento, em cada circunstância.  Uma das minhas filhas é psiquiatra e diz que tem imensos pacientes que ouvem vozes. Então quando o Papa Francisco veio a Portugal, parecia um coro! Por isso olha-me com cara de psi quando afirmo que, na verdade, acredito mesmo que Deus nos fala. Acredito mesmo que Ele conhece cada um pelo nome e que não cai um só cabelo da nossa cabeça sem que Ele disso tenha conhecimento. E acredito que Ele me orienta, todos os dias, ou melhor, me dá pistas para que eu me oriente todos os dias, nos mais pequenos momentos, nas mais pequenas decisões, deix
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  Questiono-me muitas vezes acerca do motivo desta insatisfação que é minha íntima companheira de caminho. Eu sou genuinamente feliz, nesta fase da vida sinto-me inteiro, mas dificilmente me sinto completo por muito tempo. Como se intuísse que há, algures, uma qualquer peça do puzzle que falta. É mera intuição, longe de qualquer certeza e, sobretudo, não me impede nada de ser feliz, Impede-me isso sim, de me acomodar ao quem sou. Estou a ler Tomas Halik, um dos meus teólogos favoritos de sempre (provavelmente porque aborda muitas vezes e atribui sentido à luz e sombra que nos habita) e ele escrevia isto: O poema sobre a criação (Génesis) mostra que o ser humano contém em si tanto o nada como a plenitude: é pó da terra e imagem de Deus. O homem é uma união paradoxal da finitude do seu destino e do seu desejo insaciável de eternidade e plenitude.   ... e eu pensei: como não hei de ser um insaciável buscador?

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  Eu tenho um modelo. De vida, de modo de ser e fazer. Bem claro, bem concreto, bem definido. Bem presente, no meu quotidiano, no meu olhar, na minha forma de olhar. Jesus não é, por isso, apenas uma personagem histórica entre tantas outras personagens históricas que estudo, que conheço, que admiro profundamente e tento até imitar. Eu não tento imitar Jesus. Eu tento, empenho-me, esforço-me em me deixar moldar por ele, transformar-me por ele, ser ele, sabendo que ainda que vivesse setenta vezes sete vidas, jamais seria digno de ter os meus pés por ele lavados. Mas esta é uma perda por comparação da qual saio sempre vitorioso porque, ainda que eu não consiga ser como ele, só o facto de o tentar, e tentar sempre, faz de mim alguém melhor. Ser cristão, ser católico, não é por isso apenas mais um aspeto da minha personalidade. É o fundamento, a base, a pedra angular a partir da qual tudo é, em mim, por ele edificado. Acolher, qualquer que seja a circunstância, qualquer que seja a situação,
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  AWARENESS IS FREEDOM   “The person is free who lives as they wish, neither compelled, nor hindered, nor limited—whose choices aren’t hampered, whose desires succeed, and who don’t fall into what repels them. Who wishes to live in deception—tripped up, mistaken, undisciplined, complaining, in a rut? No one. These are base people who don’t live as they wish; and so, no base person is free.”   —EPICTETUS, DISCOURSES, 4.1.1–3a   It is sad to consider how much time many people spend in the course of a day doing things they “have” to do—not necessary obligations like work or family, but the obligations we needlessly accept out of vanity or ignorance. Consider the actions we take in order to impress other people or the lengths we’ll go to fulfill urges or sate desires we don’t even question. In one of his famous letters, Seneca observes how often powerful people are slaves to their money, to their positions, to their mistresses, even—as was legal in Rome—to their slaves

Isaías

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  Descobri-o há alguns anos, por entre lágrimas, em Taizé. Procurava-o há bastante tempo, tentando dar cumprimento a um daqueles desafios que chegam, instalam-se, e não me deixam e paz enquanto não forem cumpridos. Desta vez conseguira-o. Já o conhecia, já o tinha lido e relido, já tinha trabalhado em cima dele, mas estas coisas da Bíblia são assim: o que não era ontem, hoje é-o, inteiramente, renovado, inteiramente pleno de sentido, e fazem-me também inteiro, no desejo de o cumprir. Não é fácil. Não tem sido fácil. Sobretudo porque é muito voltado para fora, o que me tem que apanhar distraído da excessiva atenção que normalmente dedico a mim mesmo. Nada na minha fé corresponde ao que eu sou, mas responde ao meu desejo profundo de ser, e esta passagem bíblica fá-lo na perfeição. Preciso muito, sempre, de me recordar o que começa por me pedir. Preciso muito, sempre, de me tornar luz, de ser meio dia. E, apesar de tudo, gosto de acreditar que sou um bom ouvinte. E quase sempre isso basta