Iludo a distância que medeia o Porto e Cabo Verde com o WhatsApp. Uma das minhas filhas está lá a trabalhar, numa carreira internacional que a seduz, mas que agora lhe dá a conhecer um sabor que a desagrada. Há bem pouco tempo, depois de vir de Bruxelas, dizia-me que não se via a fazer o que eu e a mãe fazemos: a permanecer no mesmo local vários anos, com rotinas estabelecidas e vidas organizadas. Há momentos acabou por me dizer o contrário, que se calhar já não tem idade para andar a saltar e sente necessidade de alguma estabilidade. Mesmo descontando o facto de ter passado do centro da Europa civilizada para África - que conhecia, mas apenas como campo de missão - e do choque emocional que está a sentir num país onde tudo é diferente, eu entendo-a bem. Também eu estive em missão em África e, se intuía que não gostaria de África, vim com a certeza que detesto África. Curiosamente, não sei bem o que detesto, já que adorei as pessoas e a paisagem, das quais tenho imensas saudades. Mas
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A mostrar mensagens de outubro, 2021
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Acho sempre curioso quando nós, os que dizemos que temos fé, agimos como se ela não existisse. Mais até que aqueles que dizem não a ter. Para qualquer pai ou mãe crente, a educação dos filhos é algo problemática. Enquanto são miúdos e têm que fazer o que nós lhes "pedimos", a coisa ainda vai. Mas eles não o fazem sempre. Nós, lá em casa, educamos os nossos filhos a desenvolverem a sua capacidade de escolha e de argumentação o suficiente para que eles, a determinada altura, pudessem escolher o seu caminho, que poderia ou não ser coincidente com o nosso. E não é. Claro que há aqueles princípios básicos civilizacionais - o respeito, a boa educação, a não discriminação... - que são inegociáveis. O que, pelo menos para nós, não é o caso da fé. A fé é um encontro, íntimo, profundo, autêntico, entre Deus e cada um. Ao considerarmos a fé desta maneira, não faz sentido a imposição da fé aos nossos filhos. Na verdade, todos eles fizeram o percurso catequético e sacramental de um católi
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Como se mede, hoje a distância? Quão longe é, hoje, o longe? I Há já algum tempo que vários dos meus filhos vivem e moram longe de casa. Daquela que era a sua casa. De entre eles, alguns ainda vivem no país e outros – uma das raparigas – não vive sequer no mesmo continente. Entre nós, falamos quase todos os dias, certamente todas as semanas, e acompanhamos os seus estados de espírito com uma frequência que, provavelmente, não acontecia quando eles estavam à mão de semear. Não admira: todos temos esta coisa de quase desprezo pelo corriqueiro que sabemos que amanhã se repete com facilidade. Na nossa relação familiar à distância, as redes sociais são uma verdadeira bênção: conhecemos as suas casas como se já lá tivéssemos estado, temos conversas em família com todos ao mesmo tempo, combinamos prendas, por vezes cozinhamos juntos, e até a árvore do último Natal foi montada a partir de bitaites enviados pelo WhatsApp. Excetuando aquelas alturas em que sentimos que eles estão com dificul
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Recebi uma mensagem do meu filho: "isto é um escândalo!" É, filho, é mesmo um escândalo. "É vergonhoso!", respondi. Que haveria eu de dizer? Educamos os nossos filhos na Fé e na Igreja, onde fizeram o percurso catequético inteiro, foram dirigentes do grupo de jovens e estão envolvidos em vários grupos cristãos. Apesar de nem todos, agora adultos, terem prática eucarística dominical, vivem todos com Deus dentro, o que significa que as suas escolhas de vida, mais importantes ou menos importantes, têm sempre como pano de fundo a fé em Jesus Cristo, o seu inspirador nas atitudes e valores com que pautam as suas profissões e as suas vidas. Desde sempre que temos longas conversas sobre a fé e a pertença à Igreja - que é difícil para eles - sem assuntos ou temas tabus, sem autores ou ideias proscritas, sendo tudo e todos passíveis de discussão. Discutimos, por isso, inúmeras vezes a posição da Igreja face aos temas fraturantes, cuja importância a Igreja despreza esquece