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A mostrar mensagens de outubro, 2019
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Verdade e Serenidade Evoluir é estar mais perto hoje que ontem, é avançar, é não ficar parado, imobilizado, atado ao que se é. E isso é bom. Implica a coragem de arriscar, o enfrentamento do medo, o abandono do conhecido. Permite a descoberta, o impensável, o novo que nos desperta para a existência de novos sabores, novas paisagens, novos olhares. Evoluir é bom. É sempre bom. Mas não é apenas sair do sítio. Porque também o vento se move, mas não evolui: limita-se a mover-se, daqui para ali, de lá para acolá, em função da pressão, em função da temperatura, em função do momento. Exatamente como nós quando nos falta o sentido, a meta, o objetivo. Evoluir implica caminho, rota, intencionalidade, saber onde chegar e vontade de chegar. Sem isso, somos meros lançadores de redes com a ilusão de sermos pescadores.
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Verdade & Serenidade O mero desejo de perfeição é um leitmotiv poderoso. E envolvente. E totalizante. E radical. Tens que te conhecer e à tua história, tens que te analisar e saber das tuas motivações, justificações e desculpas; tens que te perscrutar até às entranhas com coragem e determinação. E tens que cortar. O que não gostas, o que não vale a pena, o que te faz mal, o que te torna pior, o que te afasta. Tens que escalpelizar a tua história pessoal e compará-la com as dos que conheces e te conhecem. E, inevitavelmente, tens que te perdoar, pelo menos na medida em que és perdoado. Nem mais, nem menos. E, ainda assim, tens que te amar, pelo menos na medida em que és amado. Nem mais. Nem menos. Tudo isto sem que te deixes ficar. Ajustas o azimute, redefines o teu próprio olhar, voltas-te para o horizonte e, de bússola no coração, avanças.
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Verdade e Serenidade Começo a semana na belíssima capela do colégio. Daqui a pouco estará cheia da vida dos miúdos mas nesta altura está "apenas" cheia da Vida de dentro. Esta é uma excelente maneira de iniciar uma semana. Confronto-me comigo próprio na pequenez de quem sabe que está longe, muito longe, do que Deus lhe pede para ser, mas no consolo e na confiança de quem sabe que é acolhido pelo Pai na vontade de mudança e de voltar a arrepiar caminho.
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Não conheço muitas abordagens quanto à questão da possibilidade. E a possibilidade, para mim, na história da minha vida, é absolutamente fundamental. Desperta-me a curiosidade perceber porque é que a malta nova com quem lido no meu quotidiano joga tanto nas raspadinhas e faz tantas apostas. Apesar de isto acontecer com miúdos que habitam ambas as margens da sociedade, aquela que passa mais dificuldades porque tem mais baixos recursos financeiros e, sobretudo, mais baixas expectativas, deposita no jogo uma fezada que não considera em mais nenhum outro aspeto da sua vida. Quando conversamos acerca disso, eles falam, invariavelmente, do que farão com o dinheiro que vão ganhar com aquela aposta, o que, com a mesmo invariabilidade, nunca acontece. Pelo menos não significativamente. Eu jogo no totoloto e no euromilhões desde que totoloto e euromilhões existem. Nunca ganhei nada de interessante e sei perfeitamente que, apesar de apostar o mínimo em ambos os casos, não é pela probab
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Recebi a notícia com o mesmo arrepio com que a reencaminhei para os meus filhos: ao que parece, houve abusos em Taizé por parte de um dos irmãos.  Lá em casa todos estamos de alguma forma ligados a Taizé. Seja porque já fomos, seja porque outros foram, seja até como Igreja idealizada, Taizé é como um reduto. Já quase todos fomos felizes lá - falta apenas o mais novo - e todos queremos regressar. Sabia, por isso, que iria ser uma pedrada. Mas não podia deixar de enviar. Esta semana, na catequese, não falamos de Taizé - que ainda não lhes diz muito - mas de santidade. Do que é ser santo e, sobretudo, se eles querem ser santos. Como já há alguns anos tínhamos falado de santidade, desta vez sabiam o que responder: santidade é querer viver com Deus como pano de fundo. Não é conseguir, não é ser perfeito, não é ser impoluto, é antes saber que temos um Pai pronto a acolher-nos de braços abertos apesar do nosso pecado. Assim saibamos ser suficiente genuínos no arrependimento e no d
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"... expliquem-me como se eu tivesse cinco anos..." No início, esta minha expressão causa alguma estranheza. No final do dia, os miúdos que acompanho em Dia de Reflexão já nem me deixam terminar: "... como se eu tivesse cinco anos..." Eu sou seduzido pela complexidade. Particularmente do pensamento, do raciocínio, que me ocupa horas todos os dias, e cuja descoberta me faz vibrar sempre intensamente. Quando consigo ler, ver, ouvir, ou esclarecer eu próprio aquilo que permanecia intuitivamente intrincado, já ganhei o dia. Percorro muitas vezes a Bíblia à procura do imenso que ainda não entendo mas que intuo que deve andar por lá, leio textos e livros e comentários, muitas vezes à procura de um pormenor que não interessa a ninguém - muito menos ao Menino Jesus - mas que teima em andar às bolandas cá por dentro, e que, enquanto anda, não me permite sossegar. Por isso deixo-me espantar muitas vezes pela simplicidade do evidente. Do imedi
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Verdade e Serenidade.  Odeio situações de tensão. Às vezes são inevitáveis, porque todos os dias lido com pessoas e tenho que tomar decisões e assumir posições que, naturalmente, não agradam a todos. Quando tenho que o fazer faço-o, nunca sem alguma dificuldade, mas também sem virar a cara. Mas tento preparar-me antes. Fazer uma espécie de percurso interior, antecipando aqueles que prevejo serão os meus estados de alma, por forma a conseguir seguir um guião.  Ontem o guião era Verdade e Serenidade. Nenhuma delas é minha amiga íntima. E ambas estão intimamente ligadas.  Provavelmente por motivos que enraízam na minha infância, tenho a tendência para a fantasia, construindo realidades paralelas que possam encaixar em mim ou nas quais eu possa encaixar. Mergulho nelas com alguma facilidade, e isso, quase sempre, provoca confusão e decepção à minha volta, e apenas à minha volta, porque eu, imerso na minha verdade privada, nem me apercebo que possa confundir ou desiludir. E como
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Ainda ontem, em conversa, partilhava aquelas que foram algumas das minhas desventuras e que, Graças a Deus, desembocaram naquilo que eu faço e sou hoje. Acho sempre castiço quando me apercebo de particularidades de mim próprio e das minhas escolhas através de conversas de vão de escada que vou tendo com outros. É como se precisasse que eles sejam o meu espelho e apenas através deles me conseguisse ir destapando. Essa, creio, é uma das vantagens da idade: quando olho para trás consigo ver um percurso, um rumo, que continua a fazer sentido apesar dos acidentes, apesar de algumas más escolhas, sobretudo apesar de alguns dos inebriamentos com que a vida fertilmente me presenteia. Durante alguns anos acreditei que me perderia com alguma facilidade. Era como um barco no estaleiro, que se consegue manter em doca seca graças aos apoios de que dispõe. Eu pensei, durante muito tempo, que era aí o meu lugar, no conforto da doca seca, onde o maior risco que corria era o cansaço simultâneo d
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Tem sido uma semana justamente como a prefigurava: demasiadas coisas importantes a acontecer ao mesmo tempo e eu com aquela sensação terrível de correr contra o prejuízo. Correr contra o prejuízo nunca é coisa boa. Mas acontece com alguma frequência. Por muito que tente jogar na antecipação, pensar nas questões adequadamente - o que implica pensar nas alternativas e arranjar as soluções correspondentes - há alturas em que a vida se sobrepõe ao programado, em que a vida é o que é e não o que eu gostaria que fosse, e muito menos aquilo para o qual me preparei. No meio disto tudo, no entanto, há sinais nos quais eu reparo e valorizo como sendo de Deus. Todas as manhãs e fins de tarde mergulho na VCI. Lembra-me as artérias por onde o sangue é conduzido, com todos em filinha, com as entradas e saídas e os atropelos também. Hoje aconteceu algo que me espanta sempre: estávamos todos em fila, devagar paradinhos, quando se ouve uma sirene. Como por magia, num sítio onde não se via e
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Este é uma daqueles dias em que me sinto verdadeiramente um privilegiado. Não é um sentimento novo, ou raro, em mim, mas sabe-me sempre às mil maravilhas. Acabei de ter uma sessão de catequese com miúdos do 9º ano, na capela a pedido de uma delas, que tinha ficado de organizar esta sessão de catequese. Aproveitou algo que o sacerdote tinha dito na eucaristia de hoje e fez disso a nossa sessão de catequese. À atenção que teve durante a eucaristia juntou a sua forma de ser e levou a questão que a incomodava para o espaço onde merecia ser discutida: na capela, na catequese, com e por todos nós. Nos primeiros tempos em que peguei neles lembro-me que uma delas disse que eu faço muitas perguntas. Foi um caminho nosso, em conjunto, ao seu ritmo, mas que permitiu que hoje se sintam à vontade para falar de tudo o que à fé diz respeito, sem receio das perguntas nem rendição simples e aparente às respostas que vamos dando uns aos outros. É uma catequese feita de perguntas e respostas, de ques
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Uma confluência de pessoas e acontecimentos recentes. Estava em Roma, em pleno Vaticano, nada deslumbrado com a sua opulência, e lembrei-me, como sempre me lembro naquele lugar, do Tiago "Sabes, Zé? para mim isto não é Igreja, é turismo. Igreja é Taizé." Jantar de família, comemorativo, onde mais gostamos de nos juntar para jantares comemorativos. Naquela mesa redonda, com os meus à volta da mesa, a conversa acalorada à volta das coisas da Igreja. E a velha, antiga, pergunta do meu mais velho "como é possível que aceites que a Igreja paute a tua vida quando tem tanta coisa errada?" E a minha resposta: "quem configura a minha vida não é a Igreja, é Jesus. E como não consigo nem sei nem quero alimentar e viver a fé sozinho, a forma menos má de o fazer com os outros é na Igreja." Terceira confluência: missa dominical em Madrid, numa basílica menor. Tudo lá é conservador: a liturgia, a homilia, as pessoas que a frequentam. O sacerdote, velho e demasiado rot