55 anos! Quando era pequenito, as pessoas com 55 anos eram velhotas. E sábias. E resolvidas. Ou então eram tidos por mim como adultos esquisitos que tinham a mania que eram novos, o que era horrível. Pior, muito pior, que uma pessoa de 55 a queixar-se como se tivesse 65 é estar convencido que tem 35. Isso é ainda mais idiota que quando tinha 15. Eu fiz 55. Ainda hoje, numa deliciosa e peripatética conversa, disse que estou mais perto dos 60 que dos 50, e isso deixa. naturalmente, lastro. Começo a ver e a sentir de maneira diferente, a desejar outro tipo de coisas, a programar outro tipo de futuro, onde a serenidade seja a palavra de ordem. A correr bem, terei mais 10 ou 12 anos de vida profissional ativa, cuja saída convém, por mim e por aqueles a quem sirvo, ir preparando. Tranquilamente, com tempo, calma e a sabedoria possível. Ainda ontem, numa deliciosa viagem de regresso de uma longa reunião de trabalho, falávamos disso, de ciclos, de preparação, de renovação, de dar lugar a qu
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A mostrar mensagens de junho, 2021
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Nunca me tive como homem de grandes compromissos. Nas grandes coisas, sim, mas nas pequenas sempre fui muito volátil: quando gostava, gostava imenso, mas normalmente gostava por pouco tempo e não me custava trocá-las por outras que passava a gostar imenso. São inúmeros os livros que não terminei, os filmes ficaram a meio e as vezes que fiz e refiz a minha playlist de músicas no Spotify. À exceção da Special - que tem aquelas canções que me acompanham há vários anos - as outras vêm e vão com facilidade. Nos últimos anos, no entanto, algumas coisas têm mudado. Talvez porque estou mais atento e me esforço por levar os compromissos até ao fim, a gastar as minhas coisas até ao fim, a não desistir delas com facilidade. Pode ser. Mas não é só. A verdade é que vou percebendo que o meu critério é o da qualidade. E que mesmo nos meus objetos isso se verifica: se é bom, permanece, se não é bom, procuro sempre melhor. Há livros que leio desde sempre, uma e outra vez, há músicas que oiço desde sem
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Estamos equivocados. Muitos de nós. A Verdade do Amor nada tem a ver com a passagem do tempo. Absolutamente nada! O Amor que está presente quando se estende a mão a um desconhecido em dificuldade em nada é menor que o Amor com que se escuta um amigo de longa data em dificuldade. Nada! O Amor primaveril que nos dá a conhecer as borboletas que esvoaçam quando conhecemos a nossa outra metade em nada é menor que o Amor com que, muitos anos mais tarde, nos embevecemos mutuamente achando belas as rugas que vemos um no outro. O Amor incomensurável, indescritível e intensamente novo que nos revolve as entranhas quase até à náusea perante a notícia que vamos ter um filho em nada é menor que o intenso Amor que nos continua a revolver as entranhas quando o vemos, anos mais tarde, a fazer as suas escolhas, a cometer os seus erros, a viver a sua vida de corpo inteiro. O Amor é do domínio do eterno, e o eterno do Amor não é o para sempre, mas o sempre, o sem tempo, o que inclui este fugaz, mas d
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... a propósito daqui: https://hospedeignorado.blog/2021/06/13/eu-e-o-bruno/ Não era Bruno, era Gusto. Brincamos muitas vezes juntos, lá no Bairro. Chegamos a rezar juntos, num dos retiros que eu organizava e no qual ele participou. Uns meses depois, numa das minhas saídas de rua do PAS – na verdade a última, pois foi aí que o copo transbordou – deparei-me com ele quando, na paragem de São Bento, lhe dei o saco da comida. Ficamos em silêncio, ambos envergonhados, ambos surpreendidos, desagradavelmente surpreendidos, porque nenhum de nós queria estar naquela situação. Viria a morrer escassos meses depois, com overdose. Uma morte anónima, da qual apenas tomei conhecimento, por acaso, algum tempo depois “sabes o Gusto?...” Durante muitos anos acompanhou-me a sensação que, com toda a naturalidade, poderia ter sido eu. Bastar-me-ia ter dito outra coisa diferente, ter escolhido outra coisa diferente, ter decidido outra coisa diferente, ter tido outra pessoa, diferente,
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Acredito que não serei caso único, mas serei, com certeza, aquele que está mais próximo de mim e por isso aquele sobre o qual poderei referir algo com maior propriedade. A verdade é que, no meu papel de educador, dou quase sempre aquilo que mais falta me faz. Que me é mais precioso. Que me seria de maior utilidade. Que, aplicado a mim, me tornaria melhor pessoa. Sei imenso sobre bons conselhos, sobre as posturas certas a adotar na vida, sobre o que é melhor fazer, quais as melhores referências, aquilo que é fundamental e o que é dispensável. Sei disso tudo e com tudo isso que sei consigo proferir um discurso articulado e adequado à situação e, sobretudo, a quem tenho diante de mim. O meu problema não é esse. O meu problema é que, se me estiver a escutar qualquer pessoa que me conheça mais ou menos bem rir-se-à, se não às claras, certamente para dentro. Na realidade, os meus conselhos normalmente são ótimos mas fico sem eles para mim. E como precisava de os seguir! Esta consciência ag
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Não me faltam excelentes motivos para viver mais que uma vida. Desde miúdo que guardo livros para ler mais tarde e que afinal nunca mais li porque, entretanto, tenho outras músicas para ouvir e outros passeios para dar e outros filmes para ver e outras pessoas para conhecer e outros caminhos para descobrir, sempre com aquela sensação que o tempo não dá para tudo. Entretanto meteu-se a mais nefasta das nefastas coisas na minha vida, esse infindável de desconhecido que se chama internet, seduzindo-me constantemente com outros livros e outras músicas e outros passeios e outras pessoas e outra imensidão de coisas que eu adoraria fazer e que não sabia que adoraria fazer porque as não conhecia e do que não se conhece não há hipótese de se gostar quanto mais de se fazer. Todos os dias guardo isto para ler mais logo e aquilo para ouvir enquanto caminho e adio conversas que sei serem muito importantes para ambos tendo consciência que não terei tempo para o ler nem a serenidade para o escutar
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Na minha vida, o re é mais, muito mais, que um mero prefixo: é a minha vida. Hoje, como sempre fazemos, vínhamos a ouvir o Passo-a-Rezar. É uma excelente maneira de começar o dia sintonizado com o que mais importa, escapando à sensação que somos meros parafusos de uma engrenagem que nos ultrapassa. Assim, a sermos ultrapassados - e somos invariável e inevitavelmente ultrapassados - que seja pelo Amor, que está sempre presente quando rezamos. A oração de hoje propunha que ultrapassássemos a fragmentação e a apresentássemos a Deus, que Unifica. Imediatamente viajei atrás no tempo. Já me roubei inúmeros e dolorosos dias e noites justamente porque me sentia completamente fragmentado e perdido, dividido, sem saber o que ou quem me fundamentava, o que ou quem eu próprio era. Aterrorizava-me apresentar-me assim diante de Deus, esquecendo a mais elementar das verdades: que Ele me conhece de ginjeira e que, conhecendo-me, me ama. E, com Ele, todos aqueles por quem sou amado. Halik ensinou-me