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A mostrar mensagens de junho, 2015
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Têm-me ensinado, nestes últimos tempos, a importância da serena persistência. Esta semana fomos todos ver o Inside Out. No intervalo, dedicamo-nos a comentar qual seria a personagem proeminente dentro de cada um de nós, aquela que tomaria conta das operações e interferia maioritariamente nos nossos estados de espírito. E conseguimos, quase por unanimidade (a excepção era o visado) indentificar-nos e às nossas idiossincrasias. Numa família grande, como a nossa lá de casa, a gestão dos silêncios é uma arte. Disséssemos todos o que nos passa na cabeça, quando nos passa na cabeça e teríamos ainda mais balbúrdia. Todos nós aprendemos, por isso, que por vezes o melhor é calar, momentaneamente, e escolher a altura certa para falar, quando as coisas estão mais serenas, e a racionalidade regressou à base. E isso, bem vistas as coisas, é uma arte. Difícil, certamente. Mas importante. Faz agora um ano, estive num funeral no Bairro. A determinada altura, começou tudo a gritar e a chorar e
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Ontem fiz 49 anos. No big deal. Nunca gostei particularmente dos meus dias de aniversário. A Isabel normalmente faz de tudo para que tenha um bom dia. Mobiliza-se, mobiliza os meus filhos, quando o permito mobiliza os meus irmãos e os meus pais, tentando sempre que aquele dia seja especial. Normalmente, em vão. Posso gostar de alguns momentos do dia, da forma como estamos juntos, da forma como, tal como aconteceu ontem, os meus filhos me preparam um jantar todo catita e jantamos lá fora, no jardim, e pegamos nas guitarras e cantamos no final, e sou dispensado da cozinha... Eu gosto disso. Gosto muito disso. Mas gosto... apesar do meu dia de anos. e nem sei bem porquê. Ontem tive a oportunidade de fazer um balanço do que foi este ano que passou - e do que tem sido a minha vida - por três momentos diferentes. E três perspectivas igualmente diferentes. De manhãzinha, sozinho, no meu habitual percurso matinal junto ao mar, o foco incidiu sobre o ano que passou. E dei Graças! No que re
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Houve um tempo em que perseguia a sabedoria nos sábios. Nada me parecia mais lógico: estudar os filósofos gregos, os teólogos fundamentais, os autores consagrados, seria sempre um bom caminho para atingir aquilo que, desde que tenho consciência de mim, quis atingir: o saber ser, o saber estar, o saber pensar e, com sorte, chegar até a ter isso mesmo escrito na minha lápide. Algures a meio do meu curso, enquanto estudava o Antigo Testamento, aprendi que aqueles textos não tinham sido escritos por autores consagrados mas por pessoas simples, comuns, e que Deus, ao seu jeito de sempre, nos fala através da sabedoria dos simples e não através dos escritos dos "sábios". Lembro-me perfeitamente de ter pensado que assim também eu, que se tivesse inspiração divina também eu encontraria a sabedoria. E fez-se luz. E tornou-se claro que eu procurava a sabedoria nos lugares errados. Que a sabedoria encontrava-se onde menos o esperava, quando menos o esperava, de quem menos o esperava.
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Nunca me vi como adepto de grandes massas. Tenho saudades da altura em que o Porto perdia mais vezes que aquelas em que ganhava e ser do Porto era ser do contra, e quando, como este ano, não ganhamos nada, a minha maior tentação é fazer-me sócio. Também quando perco as eleições apetece-me filiar-me no dia a seguir. O que nunca acaba por acontecer, aliás. Nunca gosto da moda quando está na berra - embora tenda a gostar dela depois, o que me faz andar sempre fora de moda - nunca gosto do mainstream, gosto dos filmes esquisitos, das músicas que ninguém ouve, e quando me apercebo que gosto ou faço aquilo que todos gostam ou fazem, pergunto-me o que terei de errado comigo. Por muito que acredite e defenda uma ideia, se estiver numa discussão onde todos a defendem, eu tendo a ser o advogado do diabo e a procurar o contraditório. Confundindo tudo e todos, como sempre. Não gosto de bater no ceguinho, de estar do lado dos mais fortes e admiro sempre o David, imediatamente antes de ficar do l
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Todos os anos é mesma coisa: abraços, sorrisos, um até sempre que depois se vai tornando mais espaçado, mergulhados que ficamos nas nossas próprias vidas, nos nossos próprios enredos. Qualquer educador tem que saber fazer este processo de liga/desliga. Todos os anos somos recordados, invariavelmente, inapelavelmente, que os miúdos não são nossos, que apenas nos passaram pelas mãos, que, no melhor dos casos, até lhes conseguimos transmitir algo que poderá ser duradouro, mas que quase sempre ficará relevado para o fundo do baú. Ontem, à hora do almoço, enquanto caminhava com um dos meus filhos pelas redondezas, um antigo aluno passou por mim. Cumprimentamo-nos, conversamos uns minutos e seguimos o nosso caminho. O meu filho riu-se "foi muito engraçado aquele momento em que cada um de vós não sabia se haveria de cumprimentar, em que não tinham a certeza se o outro era mesmo quem estavam a pensar". Eu disse-lhe que não era isso. Eu sabia quem ele era, não tinha era a certeza
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No final da reunião, conversamos um pouco apenas a dois. "Tem três filhos maravilhosos, nos quais deve ter muito orgulho. Este também algum dia há de fazer o click." "Desculpe, mas na realidade tenho cinco filhos maravilhosos." Ela sabe bem que tenho cinco filhos. Foi professora dos quatro que estudaram lá (a Rita não veio a tempo daquele colégio) e, ao longo dos anos, tivemos conversas suficientes para ela saber que o meu orgulho nos meus filhos tem muito pouco a ver com os seus resultados académicos. Ainda há bem pouco conversávamos e eu tinha-lhe dito justamente isso, que as notas são apenas uma parte da sua formação. E da nossa preocupação. O "este", este ano, teve um percurso académico acidentado. E isso nunca nos tinha acontecido. Estamos muito mais habituados a quadros de honra que a asneiras que justifiquem uma chamada à escola. Estamos muito mais habituados a "vê se vais até lá fora apanhar ar" que a "então hoje não estudas
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Se hoje eu perguntasse ao meu Deus: “quem é o meu próximo?”, o que me responderia Ele? Colocar-me–ia no centro da Parábola, a caminho de casa, ou da escola, ou de um qualquer outro lugar porque o que importa é o caminho, é estar a caminho, é não criar outras raízes que não sejam aquelas que me prendem à vida e me permitem alicerçar-me em Deus? Dir-me-ia que sou o Sacerdote, ou o Levita, sempre preocupado com o que tenho que fazer, com a forma certa de fazer, genuinamente atento ao que é esperado de mim e por isso mergulhado nos papéis e nas leis e nas regras, e por isso desligado do mundo, dos que me rodeiam, dos que comigo contam para poderem ser mais. Mais felizes, mais alegres, mais dignos… mais vivos? Ajudar-me-ia a descobrir, em todo e qualquer momento, quem é o meu Samaritano, quem é aquele que olha para mim, que para por mim e, estendendo-me a mão, me levanta e me cura as feridas, e paga do seu próprio bolso, utiliza
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Eu sou muito dado a incontinências verbais. Normalmente exerço uma vigilância atenta e constante sobre mim, particularmente sobre o que eu digo, porque tenho uma longa história de percalços linguísticos dos quais depois de arrependo amargamente. Há alturas, no entanto, em que, seja porque ando mais cansado, seja porque ando mais emotivo, seja por pura falta de apetite, parece que há uma autoestrada que conduz o que eu sinto directamente da boca para fora, sem pagar portagem. Ainda há bem pouco tempo deixei que as palavras não passassem pela razão, deixando que o que sentia falasse mais alto, sem filtro, sem sequer me aperceber que o tinha feito. Não seria grave se estas coisas me envolvessem apenas a mim, mas isso nunca acontece e acabo invariavelmente por constranger - às vezes até por magoar - pessoas que me são queridas. Não era à toa que o meu sogro me dizia muitas vezes que "o Calado é um grande jogador!" No entanto, depois de passado o choque, nunca tenho a certeza
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Porque tive que vir com o meu filho aqui perto, estou a meio de uma enorme afluência de recordações. Não vinha ao Maia Shopping há anos e no entanto aqui estou agora, sentado, por puro acaso, numa das mesas onde estivemos todos juntos a jantar, a comer um gelado, a comer qualquer coisa por entre as compras do supermercado. Gosto muito da geografia dos sentimentos. Durante a minha vida passei por muitos sítios. Vivi em muitas casas, estudei em muitas escolas, trabalhei em alguns lugares completamente diferentes entre si. Em todos eles estabeleci rotinas. De percursos, de paisagens, de pessoas, de olhares. Lugares que me eram perfeitos desconhecidos tornaram-se familiares, com os seus cheiros, os seus sons, o seu movimento automóvel, as horas de ponta e de nada. De todos eles, em determinada altura, tive uma hora de partida. Seja porque tinha mudado de escola, ou de casa, ou de emprego, tive que fazer um corte, do dia para a noite, que acabou por arrastar consigo as pessoas que estav
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Defendo há muito tempo que, se tivéssemos todos bons amigos, os psicólogos estariam no desemprego. Claro que é uma forma extremamente simplista de colocar as coisas, claro que há pessoas que precisam de algo mais que uma boa conversa, de muito mais que uma boa conversa, que precisam de ajuda para se encontrarem, para se reencontrarem, para se definirem entanto pessoas, e a ajuda de um bom psicólogo é absolutamente fundamental para o conseguir. Eu próprio oiço muitas vezes, de pessoas que me são mito próximas, que precisava de um psicólogo, e dizem-no sempre que se vêem aflitas para me entenderem, e às minhas constantes incongruências e derivações, e não conseguem descortinar um qualquer fio condutor no que digo e/ou faço. No entanto, acredito mesmo que uma boa conversa com quem nos ama o suficiente para estar lá por nós e para nós, para nos escutar, para nos interpretar e, fundamentalmente, para nos aceitar exactamente como somos sem contudo desistir de nos fazer pessoas melhores, f
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"O que cuida das suas palavras guarda-se a si mesmo; o que solta a língua expõe-se à ruína. " PROVÉRBIOS 13:3 Os bons conselhos são para ser seguidos. Até já
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Estavam ambos sentados, em silêncio, ao fundo da capela. Pouco antes lera apressadamente a sua mensagem "estou na capela". Não esperava aquela resposta. É certo que ambos se tinha cruzado há pouco, fugazmente, muito fugazmente, no corredor, e ambos se tinham lido mutuamente naquela fracção de segundos. A leitura da falta de vida num olhar, a certeza que essa falta de vida tinha sido lida, sem apelo nem agravo, sem tempo para a disfarçar convenientemente, no outro olhar. É certo que depois disso tentou evitar o inevitável, dar tempo à reconstrução, voltou a consultar a página 10 do Manual de Instruções, como lhe tinha sido cuidadosamente pedido, e esperou. À distância. Exterior. Apenas exterior. É certo que não conseguira esperar mais quando teve a certeza que algo acontecera e, a medo, perguntara: "posso ajudar?" Mas é mais certo ainda que o que leu a seguir foi inesperado: "estou na capela". Estavam ambos sentados, em silêncio, ao fundo da capela. Apr
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Sempre gostei das manhãs de nevoeiro, que me intrigou sempre. Saber que há mundo para além do mundo que consigo ver num dado momento, confiar que o que estava ali anda ontem continua ali, apesar de tudo, poder aventurar-me no verdadeiramente desconhecido, seja porque nunca lá estive, seja porque não sei exactamente o que me espera desta vez, constituem momentos que têm demasiadas similitudes com a fé e com a minha própria vida para que me possam passar ao lado. Quando me disse, ontem, por entre gargalhadas, que não sabia ainda se iria renovar, não me surpreendeu. "Tenho medo de me acomodar, e continuar seria demasiado fácil. Se não gostasse tanto daquilo..." Por vezes consigo ver nele alguns traços do que, noutros tempo, também me moveu. A vontade de ser mais, o desejo tremendamente impulsionador de fugir às circunstâncias, de encontrar uma outra realidade que nos permita sermos absolutamente normais, absolutamente cinzentos, absolutamente invisíveis, são motores poderos
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Tenho ainda bem presente uma discussão taizeniana acerca de copos meio cheios e meio vazios e realismos e fantasismos e pessimismos e otimismos. Por isso sorri quando entramos pela portaria principal e, olhando o cartaz de Timor, pensei "já conseguimos mais de metade", e ela disse, em voz alta "ainda falta muito para atingirmos o objetivo". Dificilmente algo seria mais esclarecedor!. De um lado eu, sempre a olhar para o que já tenho, sempre a valorizar o que já tenho, sempre a apreciar a paisagem, a saborear a viagem, sem dar demasiada importância ao destino. Do lado oposto ela, sempre com os objetivos bem definidos, sempre com os pés demasiado assentes no chão, de olhos postos no papel enquanto lá fora a paisagem vai desfilando, sem que ela dê conta. Algures no meio, o nós, sempre a chamarmos a atenção ao que escapa, sempre a apresentarmos a nossa própria visão do mundo, sempre a impormo-nos a visão do outro, sempre a descobrirmos o novo através do seu olhar e d