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A mostrar mensagens de novembro, 2017
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Nunca consegui perceber a luta obstinada de muitas pessoas que eu conheço e admiro contra as redes sociais. Percebo que para algumas pessoas pode complicar a sua socialização mas creio - acredito, sem dados fidedignos, claro - que essas pessoas teriam sempre problemas de socialização porque sempre houve pessoas com problemas de socialização. Entre outras coisas, não percebo porque a presença física é mais importante que a a presença distante, particularmente se existe intimidade na partilha mútua de vida e sentimentos. Porventura será até mais fácil essa partilha na distância dos olhares mas na proximidade das almas. Claro que se pode argumentar que essa intimidade é ficcional, mas se a proximidade física fosse garantia de autenticidade apenas agora, com o advento das redes sociais, teríamos problemas nessa área. E não me parece que seja essa a história da humanidade. Vem tudo isto a propósito da morte do Pedro Rolo Duarte. Claro que não no conhecia o sentido físico do termo, nu
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Gostava mais de gente que de pessoas. Entretinha-se a imaginar a vida daqueles que por ele se cruzavam na rua, a imaginá-los a chegar a casa, a pousar as compras em cima da mesa da cozinha, a esticar os pés no sofá, a deixar a mochila espalhada em pleno corredor. Entretinha-se a imaginar os seus diálogos, os seus silêncios, a mútua ignorância a que mutuamente se devotavam, a confusão à volta da mesa, a reverência atenta em torno das notícias e dos filmes e dos jogos e das novelas com que se imolavam todos os dias no altar da televisão. Entretinha-se a imaginar os sabores que habitariam, fugazmente, em cima das suas mesas, o sal em excesso, a abundância das especiarias, o insosso que vinha agarrado à idade, a carne excessivamente cozida, o peixe a saber a mar... ou a esgoto. Entretinha-se a imaginar o momento de deitar, o chamego dos corpos, o rendimento do cansaço, a indiferença do tempo, a solidão acompanhada que lia todos os dias, ao longe, em tantos dos seus olhares. Sem dúvi
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Peço desculpa quase compulsivamente. Em princípio, a culpa é minha. Não importa se fiz ou não fiz, se disse ou não disse, se menti ou ocultei, se estive atento ou olhei para o lado. Se alguém está mal, a culpa, em princípio, é minha. "Estou triste" e imediatamente há uma tempestade mental, uma busca nos arquivos, nos ficheiros, nas imagens e palavras. Revejo conversas e sinais à procura de coisas passíveis de serem mal interpretadas, ou de pés pelas mãos - eu sou ótimo nisso - e não encontro. Não naquela fração de segundo. Não importa que não encontre, tenho a certeza que a culpa é minha, não cuidei, não estive atento, meti água mais uma vez. "não é por tua causa". Meio alívio. Será? A cabeça não pára à procura de motivos. Abundam. Suspiro e preparo-me para escutar. Se for para me dar na cabeça, seja. Mesmo que não seja assim tão culpado desta vez sou-o de alguma forma. Sou sempre culpado, de alguma forma. Se é para me dar na cabeça é porque mereço. Espero qu
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Desde sempre eu e os meus filhos conversamos de tudo. Sem tabus mas com os limites da individualidade e das escolhas de cada um. Minhas e deles. Há aspetos da minha vida sobre os quais eles não opinam ou se opinam respeitam as minhas escolhas. Há aspetos da vida deles que, por muita vontade que tenha de opinar, fazem parte das suas próprias escolhas, e eu tenho mais é que respeitar. E confiar. Na educação que lhes demos, nos valores que lhes tentamos incutir, que se deixem ir guiando pelo olhar atento e amoroso de Deus. Então no que diz respeito à vocação de cada um, eles têm roda livre. Porventura, se e quando solicitados, poderemos dar a nossa opinião, mas sempre com muito pudor e reservas. A dificuldade ou não de conseguir um bom emprego nunca foi questão para nós, e muito menos o dinheiro que poderão ou não ganhar com a profissão que escolherem. Tentamos que as suas escolhas sejam mais ou menos conscientes mas não definitivas: não há escolha que valha uma vida de infelicidade e
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Nesta Igreja que eu amo e na qual vivo mergulhado até ao pescoço, há coisas das quais me orgulho e outras das quais me envergonho. Nada de mais, acontece com a minha própria família e, creio, com todas as famílias: decisões que não subscrevemos, pessoas que não reconhecemos como sendo de bem, companhias e conversas com as quais não nos identificamos minimamente e preferimos que não existissem. Hoje, no carro a caminho daqui, tive este misto de sensações. Por um lado, orgulho pelo Dia Internacional da Pobreza. Eu, que até tenho saudades de Bento XVI, orgulho-me deste papa que, de certa forma, entende melhor o nosso tempo, particularmente na forma de comunicar em soundbites. Desde sempre que os pobres e os de sinal menos na vida são o motivo de agir da Igreja. Não é novidade para ninguém. Mas ser este Papa a dizê-lo, particularmente alicerçado na forma como viveu a sua vida e o se papado, ganha um outro impacto e uma outra efetividade. Orgulho, portanto. Mudo de emissora e sinto
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Tenho vindo a aprender que um dos grandes segredos de uma vida feliz é o da gratidão. Acabei agora mesmo de ser chamado à atenção. Amavelmente. Isto é, com e por amor. Por alguém que tem mais idade que a minha mãe. Que me conhece bem, há muitos anos, que contribuiu diretamente que a minha família aumentasse em número e qualidade, e com quem trabalho agora par a par. Não creio nada ter o rei na barriga (apesar de, com jeitinho, lá caber um). Normalmente escuto todas as pessoas, submetendo as suas opiniões, posteriormente, ao natural crivo da minha reflexão. Não sou propriamente uma esponja mas também não sou mármore. É-me fundamental ir sendo balizado e corrigido nuns momentos e incentivado noutros. Talvez seja assim porque não tenho grandes definições interiores e dependo por isso da sabedoria que gira em torno de mim. Que é imensa! Não preciso chegar ao final do dia para agradecer. Nem sequer da presença física de alguém específico para lhe agradecer. É comum, nos meus péripl