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A mostrar mensagens de setembro, 2019
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É comum envolver-me de tal modo que me esqueço do mais elementar. Por isso gosto de voltar à base. Umas vezes voluntariamente, outras, porém, levado pela mão, como uma criança. Amar dificilmente basta. Ou se basta. A não ser numa perspetiva umbilical. Mas aí, nesse caso, apenas existe uma pessoa amada: o próprio. Amar tem sempre uma dimensão de saída, de projeção, de transbordo. Ainda que numa dimensão mais silenciosa, como a ternura, amar tem sempre alguém dentro. Este ano Cuidar é uma das palavras chave. Espanto-me sempre comigo próprio quando acordo e descubro aquilo que está diante dos meus olhos e não consigo ver sem que me peguem pela mão. Não há amar sem cuidar. Não há amar sem fazer crescer, sem mimar, sem acompanhar de perto, sem a alegria de testemunhar as mais ínfimas alterações, os minúsculos rebentos que são sinal de nova vida, o lento desabrochar. Não há amar sem assumir, sem fazer vida de, com e para quem se ama. E como eu por vezes me esqueço do mais elementar da
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Cheguei ao CR e logo fui invadido pelo seu cheiro característico a papel e a livros. "O meu Pai tem muitas moradas" vem-me logo à memória. Eu também tenho muitas moradas. Afetivas. Eu também sinto muitas vezes que regresso a casa, apesar de estar em lugares diferentes, mas não novos. São lugares  e pessoas - sim há pessoas que são também minhas moradas - revisitados que reativam memórias, boas memórias, que vão fazendo aquela que é a história da minha vida. Passei o fim de semana num desses lugares, à beira mar, numa das minhas moradas afetivas, com pessoas que são, elas também, minhas moradas afetivas, a falar e a viver um Deus que é a minha morada. Nada ali me era estranho. Nem sequer aqueles que eu ainda não conhecia e que começaram a fazer caminho e que daqui a uns tempos serão também memórias boas. Há, no entanto, moradas que não são lugares de passagem, mas de refúgio, de chegar e ficar, de permanecer. São aqueles lugares, aquelas pessoas, onde permitimos que o co
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Não há, na vida, nada que se possa sequer aproximar da sensação de amar e ser amado. É como se as várias imagens que compõem a nossa vida, e que se vão lenta e progressivamente afastando umas das outras com o tempo, se voltassem a alinhar e o mundo se tornasse perfeito e nós perfeitos no mundo.
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Tendencialmente, instintivamente, ferozmente, evitamos a dor. Comprometemos e descomprometemos, abdicamos e ligamos, recuperamos e perdemos, na vã tentativa de lhe escapar. Por vezes vamos ao limite de nós mesmos, ao limite dos limites que estipulamos para que nos possamos ainda reconhecer quando nos enfrentamos com o nosso reflexo, para que a dor não se torne tão presente. Tão inexoravelmente presente. Em vão. É sempre em vão que fugimos da dor. A sabedoria, então, não está em fugir da dor mas em integrá-la. Aceitá-la, torná-la nossa, sabendo que que também a dor é vida, também a dor é importante para que a vida seja plena. Também somos dor. Apenas assim nos aceitamos como um todo. Apenas assim nos conseguimos confrontar com a nossa própria escuridão, porque ainda a ilumina a nossa própria luz. Apenas assim, enquanto não nos perdemos na fuga, enquanto ainda nos temos, podemos superar a dor. E dar-lhe um sentido. Que é apenas um: o do amor.
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Sempre gostei muito dos Jesuítas. Da sua visão do mundo, do seu estudo, da sua cultura, que é quase sempre mais vasta que a mera teologia. Normalmente os jesuítas são pessoas do mundo, embora ultimamente tenha pressentido uma tendência mais elitista do que gostaria. Do que não gosto mesmo, é da recorrência com que falam do demónio ou do diabo. Não acredito que sejamos anjos ou demónios. Acredito que somos anjos e demónios. Acredito que, antes de mais, somos. Com a nossa personalidade, com os nossos vícios e virtudes, com as nossas dificuldades e dons. E acredito que vamos sendo, nos vamos definindo, à medida que vamos permitindo ou impedindo que as circunstâncias nos moldem ou desviem do que somos chamados a ser. No âmago das nossas entranhas. E gosto de acreditar, ou faço por acreditar, que se nos dermos verdadeiramente ouvidos, se nos escutarmos atentamente no silêncio onde Deus nos fala, e se tivermos a coragem de fazer nossa essa voz conjunta, seremos mais felizes. Inte
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Quando fores convidado para um banquete nupcial, não tomes o primeiro lugar. Pode acontecer que tenha sido convidado alguém mais importante do que tu; então, aquele que vos convidou a ambos, terá que te dizer: ‘Dá o lugar a este’; e ficarás depois envergonhado, se tiveres de ocupar o último lugar. Por isso, quando fores convidado, vai sentar-te no último lugar; e quando vier aquele que te convidou, dirá: ‘Amigo, sobe mais para cima’; ficarás então honrado aos olhos dos outros convidados. Na minha vida, há várias passagens bíblicas que me foram definindo ao longo dos tempos. Esta é uma delas. E uma das mais marcantes. Em várias dimensões. A primeira, e aquela que será mais evidente para mim, é o de me deixar ficar para o fim. Na realidade, sinto-me sempre mais confortável na sombra que na luz. E quando assumo a luz é sempre no serviço, sempre no "lá tem que ser", porque o que gosto mesmo é de fazer parte de, sem dar nas vistas. Ao longo do ano que passou tive a po