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A mostrar mensagens de dezembro, 2014
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Têm sido tempos especiais, estes. Como habitualmente, ponho a minha casa em ordem, as minhas coisas nos sítios certos, reorganizo-me, num descanso operante que me faz muito bem. Durmo até ligeiramente mais tarde, passeio muito, converso muito, namoro muito e restauro as minhas forças. Não sou nada de ficar sem fazer nada mas sou muito de fazer com calma, saboreando os dias e as noites, usufruindo do tempo que, em alturas laborais, me foge por entre os dedos. Estes dias têm servido também para reencontrarmos todos o equilíbrio familiar. Os miúdos estão a estudar para os exames mas já nos vemos todos os dias, já conversamos todos os dias, já comemos juntos todos os dias. Como em tempo normal estamos sempre mergulhados em alguma coisa, neste tempo, pelo menos, reocupamos o nosso lugar no sofá sob as mantas que nos aquecem o corpo, saboreando a mútua companhia que nos aquece a alma. Ainda por cima, os dias têm estado lindos e frios, como tanto gostamos, e ainda no outro dia fomos até a
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Ontem, quando nos despedimos, disse.lhe: vê se fazes Natal. Sei bem o que estava a dizer, porque sei bem que uma grande parte do Natal é, justamente, feita por nós. Quando era miúdo adorava este tempo. Na altura vivia bem no centro da cidade e testemunhava, in loco, a azáfama que a todos invadia. Na altura não havia shoppings mas as ruas da baixa estavam sempre cheias de música, iluminação e pessoas. Santa Catarina, 31 de Janeiro, a Avenida, o Bolhão, tinham este cheiro característico, esta alegria tão grande e tão contagiante. A ausência dos centros comerciais fazia com que toos se concentrassem nos mesmo sítios para fazer compras e estas coisas são contagiantes, quantas mais pessoas, mais alegria, quanta mais alegria, mais pessoas. Lembro-me de um ano em que, pouco antes do Natal, tinha medo de sair à rua porque poderia ser atropelado e já não teria Natal. Este medo irracional apenas me voltou a acontecer por duas outras vezes, era já adulto: nas vésperas do meu casamento e nas
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Não gosto nada da saudade. Seja do que for. Seja de quem for. Numa situação ideal a saudade não existiria: estaria sempre com quem quero estar, na situação em que quero estar, numa renovação constante... e irreal. A saudade faz-me ver o que não está lá, faz-me reler uma e outra vez a mesma coisa, faz-me reviver a mesma situação na ilusória tentativa de voltar, como se não tivesse acontecido nada entre este hiato de tempo. Ainda que regressasse com as mesmas pessoas ao mesmo lugar, era impossível que voltasse a ser a mesma coisa e o mais provável é que fosse tão diferente que seria de certa forma penoso. Provavelmente o melhor que teríamos a fazer seria desligarmo-nos do que aconteceu e viver o que fosse acontecendo. E no entanto... Volta e meia bate uma saudade imensa! E contra essa saudade, que vem do fundo mais fundo, não há racionalidade que aguente. Bem me digo que não vale a pena, que o futuro é o caminho, que as escolhas vão sendo progressivamente feitas, no sítio e no lugar
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Assim que acabou a eucaristia, arrumei as minhas coisas e sentei-me. Ou melhor, recolhi-me em ti. Teria gostado de sentir que me saíra um peso dos ombros mas não é verdade. Doem-me os ombros, assim como me dói o corpo todo. Têm sido umas semanas loucas, estas duas, e eu já não tenho vinte anos, e estava a precisar de me sentar para estar contigo, para conversar contigo, eu que tenho estado por aqui tanto tempo mas não tenho tido esse tempo para me sentar e conversarmos. Eu sei que me esperas sempre, sei que nunca chego tarde, sei que tu, muito melhor que eu, sabes como corro e em busca do que corro, tantas vezes feito barata tonta, sem nunca sair do lugar. Sei que não teria que te dizer nada, nem pensar nada, nem explicar nada, que me bastaria estar, ali, sentado, para ti. Mas acho sempre que precisava de o dizer. Que a questão não é, nunca foi, se tu me esperas, mas se eu me dou conta que tu me esperas. Não é se tu tens mais que fazer, com um mundo inteiro para cuidar, mas se eu te
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"Quando a Igreja se fecha em si mesma, talvez esteja bem organizada, com um organigrama perfeito, tudo a postos, tudo limpo, mas falta alegria, falta festa, falta paz, e assim torna-se uma Igreja sem esperança, ansiosa, triste, uma Igreja que tem mais de solteirona do que de mãe, e esta Igreja não serve, é uma Igreja de museu», afirmou o papa, citado pela Rádio Vaticano." Li isto e pensei imediatamente em nós. Em como sempre foi um desejo profundíssimo teu ter uma casa perfeita, sempre arrumadinha, sempre limpinha, com todas as coisas no sítio, como aquelas que víamos nas revistas. Imediatamente me vieram à cabeça as tuas infindáveis e infrutíferas lutas para que os brinquedos não ficassem espalhados pela sala, que os jornais e revistas estivessem devidamente dobradinhos e no seu lugar, que os imensos filmes dos filhos estivessem convenientemente arrumados e escondidos de quem nos visitaria. Lembrei-me logo dos teus fins de semana passados na vã tentativa de por em ordem
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Educar o olhar é fundamental. Estava na hora. Tínhamos tudo combinado, tudo preparado, tudo devidamente sensibilizado. E no entanto, andei pelos corredores, pela sala dos professores, e senti uma certa tristeza. Havia ainda quem passasse completamente ao lado. Quem escolhesse ficara  trabalhar, quem escolhesse não deixar atrasar a matéria para se poder dar a oportunidade de parar e rezar durante 3 minutos. Nada de especial, pensei. Mas afinal não. É especial. Particularmente quando me apercebi que, com a sua atitude, afectava a sua turma, que se veria assim impossibilitada de participar no momento de oração que deveria ser de todos. E fiquei mais triste ainda. Como será possível invertermos as coisas? Como será possível, sem imposições, sem braços de ferro, levar as pessoas a tomarem consciência da importância de estarmos juntos, de rezarmos juntos, de ao menos pararmos juntos para nos darmos tempo, para nos darmos conta da existência uns dos outros? Aprecio muito a liberdade que D
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Se acreditasse em coincidências diria que são coincidências. Não acredito. Acredito sim que Deus nos fala por muitas formas, através de muitas pessoas, e de muitos acontecimentos. Pequenos e insignificantes, como é típico da sua forma de agir. No espaço de duas semanas conversei com duas pessoas absolutamente distintas do meu passado. Do que me trouxe até aqui, para o bem e para o mal, onde eu estou, hoje, aqui e agora. Um percurso acidentado, não tão acidentado, é certo, como o de alguns miúdos dos bairros com quem trabalho todos os dias, mas muito menos linear que o da maioria das pessoas, miúdas e graúdas, com quem trabalho na outra metade dos meus dias. O que me faz estar permanentemente num limbo: nem sou bem uns, nem sou bem outros. Sou uma coisa assim, mais ou menos, que ora tem um pé num lado, ora tem um pé noutro lado. Um pé dentro e um pé fora. Descobri há pouco tempo que esse limbo tem sido uma permanente na minha vida. E que, quando não o foi, era porque a máscara que