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A mostrar mensagens de março, 2013
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Um dos principais sintomas de que qualquer coisa cá por dentro não anda bem é a minha necessidade de preencher o silêncio. Quando isso acontece porque tenho aquilo que eu chamo "o peito cheio" não é mau. Acontece quase sempre depois de uma experiência forte de encontro, como foi Taizé este ano, por exemplo, ou Moçambique, ou Santiago. Nessas alturas parece que a vida vivida não cabe na minha vida e transbordo de qualquer maneira e tudo vale: escrever, rezar, falar, cantar, um piscar de olhos no corredor... No entanto, tenho outras alturas, muito mais frequentes, em que tudo o que escrevo ou digo não passa de um rol de disparates. Também tenho um nome para isso, que espelha a desagradabilidade da situação: "diarreia verbal". Invariavelemente, arrependo-me do que digo ou escrevo, invariavelmente ultrapasso as marcas, invariavelmente exponho-me em demasia porque revelo o que deveria ficar reservado: a minha estupidez natural. No entanto, esta necessidade não é em
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Detesto estar assim. Hoje acordei com a telha. Estupidamente, sem qualquer motivo, tudo me incomoda. A música, o tempo, os pensamentos, as recordações, tudo é motivo de estorvo. Tudo o que leio é mal escrito - eu próprio escrevo como se estivesse a descarregar o autoclismo - sem sentido, sem utilidade, típico de "se as pessoas tivessem mais que fazer..." Prevejo aquilo que será o meu dia e não consigo ver nada em condições, nada que valha a pena. Hoje estou detestável!!!! Tenho dias assim, em que preciso de encontrar o meu botão e fazer um reset antes de fazer estragos. Por mais que tente descobrir, não encontro um motivo palpável para estar assim, De ontem para hoje nada mudou, o que tinha ontem é o que tenho hoje, mas o que ontem me fazia feliz hoje incomoda-me, perturba-me. O que provoca isto não pode vir de fora de mim, portanto. Continuo a ter quem me ama, quem me espera e quem espera de mim, quem conta comigo e com quem posso contar. Check. O mais importante está c
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Na semana passada participei numa eucaristia que um bom padre conseguiu tornar especial. Eu sei que no papel todas o são, que é onde acontece o encontro connosco próprios, com os outros e com Deus, e blá blá, mas mesmo para mim, que normalmente gosto das eucaristias, umas são melhores que as outras. Na homilia, o sacerdote, com uma enorme capacidade de correr riscos com miúdos que nem sequer conhecia - o que revela uma enorme segurança (ou inconsciência, o que por vezes também acontece) - pega na Parábola do Filho Pródigo e trata de encetar um diálogo com os miúdos colocando uma série de questões e provocando as suas respostas.  Confesso que a certa altura desliguei.  Porque o que me interpelou foi outra coisa. Durante a minha vida fui, muitas vezes, o filho pródigo e voltei aos que me amam para lamber as feridas, profundamente arrependido e desolado pelas camelices que fiz. Durante a minha vida fui, muitas vezes, o filho mais velho e olhei de soslaio o acolhimento q
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"Cada um de nós é chamado para ser um especialista em dar a volta. Quando somos confrontados com situações difíceis devíamos exultar-nos porque é para isso que cá estamos."  "Todos temos o poder dentro de nós para dar a volta às coisas. Se Jesus é o nosso treinador, isso devia ser a nossa especialidade." Jesus, CEO Trabalhei num Gabinete de Contabilidade durante doze anos. Fui para lá com dezasseis anos e, quando saí, era já casado e pai de filhos. Lá cresci muito como pessoa, como trabalhador e como homem, graças, como sempre, às pessoas com quem tive a sorte de aprender a viver. O Sr. Marques e o Dr. Nuno foram as minhas grandes figuras paternas daquela altura - e sabe Deus como eu ando sempre à procura de uma! - e eu bebia as suas palavras, os seus gestos e atitudes com a sofreguidão de um bebé porque sabia que estava a aprender a ser gente. O Dr. Nuno, patrão típico mas muito humano e senhor de uma profunda sabedoria, aceitava muitos trabalhos que ningu

Um novo Papa, uma nova Igreja?

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Vivemos tempos muito entusiasmantes, na Igreja. Aliás, temo que serão até demasiado entusiasmantes, uma vez que as expectativas estarão demasiado altas. E não apenas para os católicos. De certa forma, o modo como o mundo acolheu o Papa Francisco trouxe-me à memória o entusiasmo que foi gerado em torno do Papa João Paulo II. Um Papa que vem de longe – por incrível que pareça agora, a Polónia em 1978 também ficava do outro lado do mundo – com um percurso de vida inspirador, que alimenta a esperança de uma verdadeira reforma da Igreja. Nos dias que se seguiram ao anúncio da demissão do Papa Emérito Bento XVI foi enorme a confusão nos meios de comunicação social. A todas as personalidades públicas, de todas as áreas, crentes ou ateus, foi perguntado o que aconteceria à Igreja a partir de agora. Aliás, é muito curiosa a qualidade das opiniões que a generalidade das pessoas que não têm fé faz acerca da Igreja. É como se convidassem um designer de moda, que nada percebe de fut
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É grande a expectativa, hoje. Curiosamente, bem maior do que seria se se tratasse da eleição do Presidente da República ou do Primeiro Ministro. Sinal de um tempo de profunda descrença nas coisas dos homens e cada vez maior confiança nas coisas de Deus. Vou-me apercebendo que o processo que agora se inicia é muito importante para mim. Não é apenas um dirigente que é escolhido, mas, como dizia o meu pároco na Eucaristia de Domingo, é da nossa vida que se trata, porque a Igreja é a nossa vida. Nessa altura olhei para a assembleia - porque dirijo o coral estou muitas vezes voltado para a assembleia - e vi lá sentados os que me são mais queridos. A Isabel e a Rita lá estavam com o seu grupo de catequese, a Catarina, a Ju e o Ica comigo, a cantar e a tocar, o João dois lugares acima, junto do seu próprio grupo de catequese. Estávamos todos lá, naquela altura, assim como noutra igreja estiveram os meus pais e os meus irmãos, assim como a minha sogra e os tios estiveram naquela mesma no
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Se calhar de forma errada, nunca soube muito bem esconder o jogo. Nunca tive grande dificuldade em viver sem nada na manga. Mesmo quando ainda não conheço alguém muito bem, não me ensaio nada para lhe revelar algo que para mitos seria considerado privado. E, para ser verdadeiro, também nunca percebi muito bem porque o não deveria fazer, porque nunca mal de maior me veio daí. Pelo contrário, o que tenho aprendido é que a ausência das minhas barreiras potencia o abaixamento das dos outros. Pelo menos dos bem intencionados. Se o segredo é a alma do negócio, está explicado porque tenho tanta sorte no amor. Quando era miúdo tive uma vizinha que tinha muito orgulho na casa dela. Vivia num bairro social mais ou menos degradado, com pessoas a viver sabe Deus como, e, naturalmente, as casas não estavam em grande estado. Mas a casa dela, no entanto, estava sempre um brinquinho. Não havia dia em que ela não conseguisse um pretexto para alguém ir lá a casa - descalçando-se obrigatoriamente à
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"Deus criou a vida. Os filósofos complicaram-na. As mulheres tornaram-na num inferno...hmmm! Tão agradável!" Tony Quem me conhece minimamente sabe como admiro as mulheres e como são importantes para o meu equilíbrio emocional. Não me refiro sequer às principais protagonistas do meu enredo - a minha mais-que-tudo, as minhas filhas, a minha mãe e avó, a minha irmã, a minha sogra, a minhas cunhadas (é, estou rodeado de mulheres, Graças a Deus!) - que reservam, naturalmente, um papel especial na minha vida, no qual a sua condição feminina é absolutamente fundamental. Desde que me conheço que me sinto bem no meio do sexo feminino. Têm o complicómetro sempre em on,  têm montes de minhocas na cabeça, encontram sempre formas inovadoras e absolutamente inesperadas de interpretar o que dizemos na mais pura das inocências - sim, porque nós, homens, somos sempre puros e inocentes com as mulheres - são um enigma total e absoluto... são isso tudo, mas são, fundamentalmente, as gr
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"Se pudesses resumir a tua mensagem, qual seria?" (Jesus, CEO) Esta interpelação tem-me vindo a incomodar nos últimos dias. Mais que aquilo que digo - que é  habitualmente muito volátil, depende dos ventos, dos humores e das companhias - qual é a mensagem que as minhas atitudes transmitem? Ou, postas as coisas de outra forma, o que pensam de mim quando se cruzam comigo? Eu sei perfeitamente o que gostaria de transmitir. E até sei - porque é importante sabe-lo, sem falsas modéstias (e eu nem sou uma coisa nem outra) - que tenho alturas felizes em que aquilo que sou coincide com o que quero ser, como se de um reflexo se tratasse. Mas também sei que são mais as vezes em que não sou mais que uma pálida imagem daquilo que sou chamado a ser. À medida que vou amadurecendo sinto que aquilo que possam pensar de mim vai perdendo peso. Não entendo que sou dono e senhor de todas as razões - nem sequer das minhas - ou que sou o único a marchar com o passo certo. Mas creio que fui
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Hoje, enquanto ouvia a última da Dido (No love without freedom, no freedom without love) pensava numa conversa que tive há pouco tempo. Quando amor e liberdade se juntam numa frase eu não consigo pensar senão em amizade. Da pura. Daquela que respeita todos os limites, todas as diferenças, daquela que não quer conformar, modelar à própria imagem e semelhança, mas deixa espaço para que cada um possa ser o que quer ser, em determinada altura, sem amarras, sem justificações, e ainda assim continuar a sentir prazer na mútua companhia. Uma relação assim só pode ser win-win. Ganhamos com a partilha, ganhamos em podermos ser inteira e assumidamente nós, sem nada na manga, e, quando temos muita sorte, ganhamos porque temos o eco sincero, justamente pela inexistência de amarras, de quem nos ama única e simplesmente pelo que queremos ser. Porque é de verdadeiro amor que se trata - e por isso tem ligação directa com as minhas próprias entranhas - nem sempre consegui lidar com este sentiment
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Desde sempre que conheço quem não sabe receber. Pessoas que funcionam com um código de troca e não de dádiva, que se sentem sempre, sempre, na obrigação de retribuir quando alguém faz algo por elas, ou lhes dá alguma coisa. Apesar  de quase todas elas - pelos menos das que conheço - o fazerem por uma questão de educação e não por medo de ficar a dever o que quer que seja, esta é uma daquelas coisas que me irritam profundamente. Da mesma forma, também conheço pessoas que me dão e que depois, quando contam cobrar, ficam confusos quando não vêem em mim essa necessidade de lhes retribuir. Ficam eles, e fico eu, que raramente me apercebo do que está a acontecer nessas alturas. No entanto, tenho que admitir que também para mim é muito mais fácil dar que receber. Enviaram-me, num destes dias, uma das partilhas mais profundas e bonitas que já li. Deixou-me muito feliz porque, antes de mais, espelhava a sintonia de uma conquista mútua, feita de despojamentos, plena de interioridades, de
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Depois de partilhar algo com quem tive a sorte de estar em Taizé, recebi de volta uma pequena provocação: "isso é tudo saudades?". Respondi na hora: "sódade di nóis". Não sou pessoa de grandes saudades. Nem de viajar muito ao passado, que no passado é que era bom. Talvez porque não tenha tido uma infância que valha a pena recordar, cedo aprendi a valorizar muito o momento que vivo, cada momento, quase sempre com um gozo muito maior na viagem que na antecipação do destino. E, quando tenho saudades, nunca são os momentos que me assaltam as memórias, mas o nós desses momentos. Eu gosto muito do nós. Aposto muito no nós. Porque o nós é sempre muito melhor que a mera soma dos eu. Quando sentimos alguma abertura por parte de alguém, quando sentimos que podemos estar à vontade, que podemos confiar, que podemos baixar as defesas e soltar as amarras, aquilo que nos permitimos descobrir uns dos outros é sempre o melhor de cada um. Mesmo (especialmente?) quando partilha