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Recentemente, em resultado de uma proposta que me fizeram à qual acedi mais curioso que convicto, fiz uma série de regressões a alguns acontecimentos importantes da minha vida. Na verdade, a única coisa nova para mim nesse processo foi a condução exterior, porque revisitar-me, procurar-me, desmistificar-me, é algo que faço com alguma frequência e nem sempre com bons resultados. Talvez tenha sido por causa disso que tudo aquilo deu em nada. Talvez porque não visitasse nada de novo, talvez porque, nesta fase da minha vida, nada haja no meu passado que considere assim tão importante mudar, talvez porque pretenda continuar neste processo de aceitação do que sou tal como sou, porque é assim que me apresentarei ao meu Deus. Tudo isto tinha como pano de fundo a minha gaguez e a minha vontade de a "curar". Acontece que nem acreditava numa possível cura nem sentia grande necessidade de ela acontecer na minha vida. Gaguejar faz parte do que sou e, se pudesse alterar alguma coi
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Acho sempre extraordinário quando consigo desmontar algumas das minhas ideias feitas. Tenho uma larga tendência para deitar pela boca fora algumas - para mim - verdades absolutas que a vida se encarrega de desmoronar. Uma delas é que a idade não é um fator importante para mim. E depois olho para o que escrevo e percebo que este tema anda perto da obsessão. No entanto, há verdades que ainda o são e sempre o foram. A procura de mim próprio, por entre o imenso emaranhado do que eu sou, será, porventura, a minha maior verdade. Agora com uma nova roupagem, fruto de uma certa pacificação que a idade me foi trazendo, mas ainda assim, verdade. Ontem, na homilia, o Padre Rosas falava acerca disto, da verdade, da verdade de cada um, da conveniente verdade de cada um que para tudo encontra a mais conveniente justificação. E de como isso nos afasta de nós próprios. Acontece-me muitas vezes nas suas homilias escutar apenas uma infinitésima parte delas, porque me remetem para esse tal emaran
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Ali estava eu, diante das 4 pessoas que tinha diante de mim para cantar, a pensar na mais de dúzia que devia lá estar e não estava. E dei comigo a pensar coo dirigir é um trabalho muito solitário. Qualquer que seja a atividade. Qualquer que seja a equipa. Vesti o sorriso, levantei os braços, e começamos a cantar. Houve fases na minha vida em que não dirigia nada. Era um excelente nº dois mas um péssimo nº 1. Talvez porque nessa altura a minha preocupação em ser gostado se sobrepunha a tudo o mais. A eficácia, a responsabilidade, o trabalho, eram levados a sério mas sempre sob aquele olhar inquisidor: espero que gostem de mim". Á medida que o tempo passa isso vai deixando de ser tão importante. Importa mesmo é que os meus gostem de mim. Sobretudo a longo prazo porque, como pai, também não posso ficar à espera que eles fiquem contentes quando os impeço de fazer algumas coisas. Os outros também são importantes. Muito importantes. Mas já não são decisivos. Á medida que vou diri
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Eu gosto dos últimos. Sempre gostei. Talvez porque sejam os meus, o meu meio, aquele onde me situo com maior facilidade, aquele onde eu posso ser eu de peito aberto. Nos últimos existe apenas a realidade, quase sempre de forma bruta, pouco trabalhada, primária, e isso confere alguma tranquilidade. Com os últimos tanto posso receber um abraço como um banano, vindos do nada. Há ali autenticidade. Nos gestos, nas palavraa, nas ações. Gostas, gostas; não gostas, adiante que atrás vem gente. Não é uma questão de gosto, portanto. Talvez de inquietação. Talvez porque quando a balança pende demasiado para um lado eu tenda a olhar para o outro lado. Talvez porque muitas vezes prefiro olhar o olhar das pessoas quando olham um acontecimento que olhar o acontecimento em si. A verdade é que ao longo do fim de semana me dei a perguntar quem são, hoje, os últimos. Sobretudo para nós, cristãos, católicos. Quem são hoje os últimos? Pensamos imediatamente nos que atravessam o mediterrâneo tendo a
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Hoje, enquanto caminhávamos numa das mais belas manhãs deste dia (um dia cheio pode ter muitas manhãs) dei comigo a pensar e a partilhar esta sensação que tenho nos últimos tempos que tudo na minha vida confluiu para que tudo seja exatamente como é. É uma lapalissada, certamente, mas eu esqueço-me desta verdade demasiadas vezes. Quando restropetivo tendo a desvalorizar alguns acontecimentos - normalmente os dolorosos ou, pior que isso, os vergonhosos - como se a minha vida pudesse ser o que é em cada momento sem a aprendizagem que a dor e a vergonha me ensinam. Hoje de manhã - ultimamente, na verdade -sentia-me completo, inteiro, entrado nos eixos, dando a cada coisa o seu devido valor, dando a cada momento o seu tempo, dando à vida o seu espaço próprio, natural, permitindo-me usufruir por inteiro de cada pedacinho seu. Como se estivesse a sugar a vida até ao tutano, utilizando uma das minhas referências cinematográficas. Talvez envelhecer seja isto. Espero que envelhecer sej
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Sempre que leio a notícia da morte de alguém famoso sinto a mesma inquietação: como terá morrido? Como que vida interior terá morrido? Com que sensação terá morrido? Que medos, receios, dúvidas ou certezas o assaltaram no exato momento em que soube que morria? Poderá parecer, mas esta inevitável inquietação nada tem de mórbido. De há uns anos para cá que a morte tem sido uma companhia tão natural e quotidiana como a própria vida. E isso não me impede de viver e aproveitar a vida, pelo contrário: põe todas as coisas sob um novo olhar, sob uma nova perspetiva. Depois, a escolha é minha, de permitir ou não que a morte interfira na vida ou, sendo inevitável que isso aconteça, em que medida permito que a morte se intrometa na vida. Saber-me finito e preocupar-me memória tem, efetivamente, um determinado peso no que sou, digo e faço. Se àquela finitude juntar então a infinitude de Filho - que acredito que sou - percebo que tudo ganha uma matiz diferente, um outro peso, uma outra import
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Nós temos uma expressão: ir de fátima a nazaré. Estávamos nos primórdios da nossa vida, em fátima, num dia de calor sufocante, e eu tive que lhe pegar literalmente ao colo, enfiá-la quase à força no carro e levar-nos à nazaré, onde pudemos respirar um outro ar. Acontece-nos isso, por vezes. Estamos mal, tão mal que nem nos apercebemos que estamos mal, tão mal que nos incomoda sequer a perspetiva de nos mexermos, tão mal que precisamos que nos peguem ao colo, tão mal que a última coisa que nos ocorre é deixarmo-nos amar. Aconteceram-nos imensas vezes, pegamo-nos mutuamente, cuidamo-nos mutuamente, amamo-nos mutuamente. Nem sempre de mútuo acordo. Sempre com o mesmo resultado: sentirmo-nos amados e cuidados. E nada há na vida melhor que sentirmo-nos amados e cuidados. Ontem, no final de um longo e algo penoso dia de trabalho, olhei-a e vi o seu olhar cansado. "Vamos namorar". Descemos alguns metros até ao mar, o nosso mar, um dos lugares que testemunham a nossa vida de muit
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Quem me conhece mais de perto ouviu já uma expressão que uso algumas vezes: sou um barco com motor fora de bordo. Não fora isso e, quando muito, seria um daqueles barcos a remos, de madeira gasta e envelhecida, repintados inúmeras vezes para turista ver, mas a que nem a brutal força braçal os faz sair da cepa torta. Ou então, o que é ainda mais provável, um daqueles barcos cuja existência se confina às margens, se resume ao casco meio desfeito, quase irreconhecível, sem pintura que lhe valha, de tanto levar, sem apelo nem agravo, com o efeito das marés desta e de outras vidas. Várias vezes na vida julguei ser veleiro ágil e esguio, e cometi a loucura de enfrentar ventos e marés, orgulhosa e vaidosamente ostentando as minhas velas enfunadas ao vento. A vertigem da velocidade provocada pelo vento a favor inebriou-me sempre e sempre teve o mesmo destino: esse mesmo vento a favor, que antes me provocara a ilusão do voo, é o mesmo que me rasga as velas, me impede de avançar e, afundando
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Esta data, 5 de setembro, é, hoje, muito especial para mim. E para todos os que me amam. Na minha vida, como acredito que em todas as vidas, há momentos de viragem, momentos decisivos, que decorrem de decisões tomadas, no meu caso quase sempre por impulso, por arder de coração. Há treze anos foi isso que aconteceu, começava, efetivamente, uma nova vida: fui para o Colégio. Vinha de uma profissão que me devastara a todos os níveis. Em poucos anos passara do sonho ao pesadelo, com repercussões muito sérias, que ainda hoje se vão revelando, como a lava que nunca descansa sob a crosta. Naquelas que são as mais importantes dimensões da minha vida: a minha família, a minha fé e, naturalmente, eu próprio, nada ficou por revolver, nada ficou incólume, nada permaneceu como era antes. Por minha causa, por minha culpa, todos conhecemos a dor do fracasso. Sei o que é acordar, depois de um pesadelo, e desejar voltar a adormecer para não ter que viver o pesadelo da realidade. E sei o que é
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Sinto muitas vezes que o meu caminho é mais feito de dessincronias que de encontros. Apesar de serem imensos os encontros. Talvez seja como se procurasse sempre e raramente encontrasse, pelo menos de forma definitiva, ou que então o definitivo acabasse inevitavelmente por se transformar em efémero, permanecendo no entanto a vastidão da memória. Há momentos, mais que fases, momentos, em que a sintonia me invade a alma. Como se estivesse tudo no seu lugar, como se o universo conspirasse para que as coisas, todas as coisas, ocupassem o lugar que lhes estava destinado dentro de mim. As dores são lidas como aprendizagens, as saudades como boas memórias, os medos como desafios, os trabalhos como projetos de felicidade. Tudo flui, tudo conflui assente na argamassa do amor profundo. Nestas alturas apetece-me gravar a tranquilidade, a pacificação, a serenidade, a sabedoria do viver para que a possa usar quando lhe sentir a falta. Alimento em mim, permanentemente, a ilusão que agora é
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Junto de mim, ao meu lado, permanecem aqueles que, apesar de mim ou por mim, escolhem ficar, em cada um de todos os dias, pacientemente, por vezes até ao limite do desespero, como é próprio do amor enraizado nas entranhas. É desse amor que tudo brota. É a consciência da permanência desse amor que tudo permite.  Vivesse eu constantemente preocupado com o chão e jamais me permitiria voar. E como me é fundamental poder voar! Há uns anos disseram-me que eu apenas sinto vontade de partir para poder voltar. E eu sei que mais importante que partir é este desejo constante de regressar, de me saber esperado, de me saber saudade, de me saber desejo, e de, em cada regresso, me sentir reacolhido de braços e coração escancarados. É certo que nunca sem uma boa luta, nunca na facilidade da indiferença, mas na exigência, na dura prova de quem quer sempre saber quem se ama, porque se ama, contrariando a dor de amar, mas se calhar preciso disso mas me saber imensamente amado É nesta permanenteme
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É uma treta dizer que o amor não precisa de recompensa. Claro que precisa. Quanto mais não seja da recompensa da imensidão de amar. Ou da preservação do amor próprio, que é a fronteira que define a bondade ou não de um amor. Porque amar também não é sempre bom. Nem ser amado é sempre bom. Se amar e ser amado fosse sempre bom, se fosse tudo cor de rosa, amar jamais implicaria arriscar, e se há risco nesta vida, ele encontra-se exacerbado quando se ama e se é amado. No amor, nada é pele, tudo o que de importante acontece, é subcutâneo. Mesmo quando a pele inebria, ou sobretudo quando a pele inebria, é sob a pele que o turbilhão acontece. Porque se a pele sacia momentaneamente, esfomeia logo a seguir. Logo que o sangue esquenta, logo que o cérebro é irrigado e com ele a alma, e desperta em nós esta indómita vontade de estar com quem se ama. De viver com este amor. De viver para este amor. De respirar este amor, acordar com este amor, dormir com este amor, caminhar e trabalhar e sorr
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Estava eu alguns metros acima do solo e, como de costume, comecei mentalmente a chamar-me de tudo. A subida já tinha sido penosa, demasiado penosa, e à vista de todos ainda por cima, e era agora tempo de tentar parar as tremeliquices no corpo todo, esquecer o medo, e avançar. Arvorismo, como outros ismos, não são mesmo para mim. nem sequer é o fator idade, mas o fator medo, mesmo: alturas e atividades radicais nunca foram a minha praia. Mas isso é uma coisa. Outra, bem diferente, é permitir que o medo me impeça de fazer. Já basta quando me impede de ser, o que acontece mais vezes que as que gostaria, mas tento sempre que o medo não me tolha. Era mesmo nisto que eu pensava enquanto subia, e era mesmo isto que lhes ouvia: eles, que momentos antes tinham dito que tinham medo, vieram a seguir a mim. Há sempre uma enorme dose de loucura ao enfrentarmos os nossos medos. Não basta o medo em si , o termos que ultrapassar os nossos instintos de conservação e de proteção, e ainda temo
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Mais a sério, mais a fundo, faço dois balanços por ano: um no final e outro a meio, por altura do meu aniversário. Eu gosto muito de balanços, de os fazer, de os avaliar, de analisar a minha situação, o caminho percorrido, o caminho perdido, o caminho escolhido percorrer, o que fui perdendo e ganhando, o que foi ficando para trás, para segundas núpcias, para uma outra vida! Este é, inegavelmente, um exercício de memória. Não tanto do que foi feito, exatamente, mas do que fica do que foi feito, do que fica do que foi dito, do que fica daqueles com quem foi feito. E este foi um ano de muitas coisas, muitos acontecimentos completamente novos e renovados, de erros e recomeços, de renascimentos, de novas maneiras de fazer o que antes tinha sido feito de uma outra maneira. Este foi também ano de projetos, novos e renovados projetos, novos e renovados sonhos, novas e renovadas maneiras de sonhar o que sempre foi sonhado. Chego à meia idade com essa sensação: que esta é, mesmo, uma meia i
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Eu mesmo, por mim mesmo, para mim mesmo. Esta foi a conclusão do estudo de hoje. Simples. Eu, quando começo, continuo e acabo em mim. Só. Eu e Eu & Cª Lda. como se dizia antes. Penso muitas vezes em mim, não como o diabo - não acredito no diabo mas na existência do mal - mas como alguém em quem o mal está sempre à espreita. Eu vivo num limbo. Permanente. Provavelmente é o que acontecerá com a maioria das pessoas, eu não sou especial de corrida em coisa nenhuma e por isso não serei nesta, mas o que é facto é que eu vivo num limbo. Permanente. por isso deveria pensar cada passo, cuidadosamente, laboriosamente, dando tempo e espaço ao juízo que, embora vaga e preguiçosamente, ainda vou tendo. Não acontece. As decisões mais importantes, porventura mais decisivas, são sempre as menos fundamentadas. Tipo Lucky Luke: disparo primeiro e depois vê-se. Vivo, deixo-me viver, sigo um impulso, e depois, por vezes, muitas vezes, deito as mãos à cabeça. É, por isso, frequente, ver o diabo
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Gosto muito de elefantes. Do seu porte, do seu olhar doce apesar do porte, da forma como se mexem, como escolhem morrer, da memória, que tradicionalmente se diz que têm. Se eu fosse apenas animal, gostaria de ser elefante. Já estaria a meio caminho. Talvez goste tanto deles porque gostaria de ser um deles. Não sou de esquecer. Nunca fui. Muito menos de querer esquecer - quando caio nessa asneira mais não consigo que recordar constantemente o que tão forçosamente quero esquecer. Recordo gestos e atitudes e conversas que tive ou escutei desde que era menino. Quase de colo. Por vezes dizem-me que nós só conseguimos reter coisas na memória a partir de determinada idade, mas naquelas idas ao baú com os com os meus pais e irmãos eu recordo discussões ou acontecimentos que tiveram lugar quando eu era mesmo pequenito e eles ficam a olhar para mim. Recordo muito, e com muito quero dizer muitas coisas, muito presentes, muito vivas, como se tivessem sido ontem. Recordo coisas que não servem p
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A saudade dói. Sempre. Com dores diferentes, umas despertam sorrisos, outras provocam esgares de dor, silenciosa ou manifestada, mas dói sempre. Saudade do que já fiz, daqueles com quem já fiz, das circunstâncias em que foi feito. Mesmo que na altura disséssemos mal dessas circunstâncias, releio-as e recordo-as agora com um outro peso, uma outra essencialidade, que o tempo se encarrega de limar arestas: se não tivesse sido exatamente assim, não seriam estas as memórias, mas outras, completamente diferentes, e certamente menos saborosas. Conversávamos um dia destes daquilo que já não farei. Do imenso que já não farei. Da enorme quantidade de projetos e sonhos para os quais já não tenho idade... ou a idade me tira a vontade. De alguns deles eu poderia descrever com enorme exatidão cada passo, cada momento, cada sensação, tantas foram as vezes que os sonhei. É como se os tivesse realizado, efetivamente, de tal forma que as memórias que permanecem desses apenas sonhados e projetad
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Tenho o meu dia ganho quando me emociono. Com a bondade natural, com o belo (para o qual me encontro cada vez mais desperto), com o mimo e o cuidado, com o desconhecimento da mão esquerda daquilo que faz a direita. Ontem emocionei-me. Várias vezes. Com uma conversa, com uma disponibilidade para acolher quem tanto precisa de acolhimento, com uma entrega, com uma belíssima dança numa eucaristia cheia de vida, com a serenidade de uma outra eucaristia, com uma conversa matinal, com um encontro depois de um desencontro. Ontem foi um dia cheio. De trabalho, de sol, de vida, de partilha, de momentos que me fazem sentir que a vida vale a pena. Há dias assim. Em que apenas tenho motivo para dar Graças pelos que me rodeiam!
Há partes de nós que não são de ninguém. Nem sequer nossas. Partes feitas de pedaços mal contados e ainda pior resolvidos, palavras que não dissemos por falta de coragem, sentimentos afogados, que escondemos e dos quais nos escondemos, por medo ou vergonha, porventura à espera de uma outra vida que possa ser vivida de forma diferente. São partes de nós que não são nossas porque não as queremos nossas, porque teimamos que não são nossas, e teimamos tanto que as temos por indesejada e permanente companhia. São partes tão não nossas que se nos entranham na alma e no peito e na vida. São partes tão não nossas que, somadas às partes orgulhosamente nossas, constituem a amálgama do nós que nos habita.
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Ontem, naquele final de tarde delicioso junto ao mar, notava-se que, a poucos metros, se iniciava um concerto. Era ainda maior o número de estrangeiros(?) na casa dos trintas que aproveitavam a beleza, o sol e o cheiro do mar, que metiam os pés na água ainda gelada da foz, devidamente acompanhados daquela coisa a que chamam jantar: fruta e vinho verde. Há de sempre fazer-me alguma confusão a sua dificuldade em sentar á mesa nas horas em que o deviam fazer! Quando vinha para cima, vi junto a tabela de basquete dois espanhóis a fazerem umas jogadas, despreocupadamente. Passados alguns minutos chegaram dois rapazes britânicos e ficaram a olhar. Juntou-se-lhes pouco depois um casal que devia ser oriundo de um dos países nórdicos. Alguns minutos mais tarde, estavam todos a jogar juntos, entendendo-se naquele inglês macarrónico que é agora a primeira língua de muitos jovens europeus. Olhava-os, admirando-os e ao mundo que habito. Esta é daquelas raras alturas em que eu gostaria de ter me
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Lembrei-me logo de alguns amigos meus, a quem o mesmo acabou por acontecer. Enquanto novos, tudo gira. E tudo é muito giro. De noite em noite, de borga em borga, de experiência em experiência, vivem numa rede de amigos flutuantes, de acordo com as mútuas conveniências. Na superficialidade dos encontros e fins de semana radicais, são de todos e de ninguém. Vivem, mais que uma felicidade, um gozo permanente, ajudado pelos rendimentos que vão esbanjando alegremente, sobretudo quando o investimento é feito no hoje, aqui e agora. O que importa é viver! Com os entas chegam algumas dificuldades até então desconhecidas. As articulações, as noites mal dormidas, o estômago, o peso, mesmo o próprio gozo com o que se fazia e com quem se fazia, tudo isso se começa a ressentir das escolhas que se fizeram antes, noutros tempos. Chega-se a casa mais cedo, apetece sair cada vez menos, demora-se mais a recuperar, e às tantas começa-se a apensar - e a sentir - que uma noite bem dormida é um requis
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Já não o fazia há muito tempo. Demasiado tempo! Não percebo as pessoas que não gostam de estar sem fazer nada. Estar só. Estar. Só. Eu sentei-me no jardim, uma manta em cima do corpo, apesar do sol, e deixei-me estar. Fechei os olhos, deixei que os sons me invadissem e fui identificando-os. Um a um. Até deixar de os ouvir. Depois os pensamentos. Em catadupa no início, fila indiana depois, de longe a longe, mais tarde. Não sei quanto tempo estive ali, no meu jardim, longe da vida. Mergulhado na vida. Creio que adormeci. Ou então, estava tudo tão entorpecido que posso ou não ter adormecido. Se calhar adormeci de olhos abertos. Sonhei de olhos abertos. repousei de olhos abertos. E alma fechada. Pelo menos para tudo aquilo que me era exterior. Só eu. Eu e a minha alma. Eu e os meus pensamentos. Eu e os meus sentimentos. Eu e os que amo. Eu e o meu Deus. Sem que uns ou outros disso saibam. Dir-se-ia que estava a perder tempo. Eu próprio, às tantas, sentia-me um tanto ou quanto culpado po
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Ele é daquelas pessoas que admiro profundamente. Há muitos anos. Provavelmente não devido aos motivos que ele achará, mas ele sabe que o admiro profundamente. É uma daquelas pessoas com um conhecimento que admiro, o tipo de conhecimento que, nem que eu vivesse cem anos, conseguiria alcançar. Junta fé a poesia e literatura, devidamente salpicadas com boa música, tudo envolvido numa profundidade e (às vezes) serenidade que me é tremendamente sedutora. Porque inacessível. Hoje escutava-o, embevecido, e apetecia-me abraçá-lo. Mas, mais que isso, a vontade que tinha mesmo era de sentar e conversarmos. Um dos meus maiores enigmas é perceber porque raio por vezes não damos o melhor de nós aos outros. É como se nos encolhêssemos, se nos apresentássemos pela metade, baixado sistematicamente a fasquia. No meu caso, andará provavelmente por aqui, uma vez que duas coisas me assustam de morte: as exacerbadas expectativas dos outros - que eu sei que algures no tempo irei defraudar; e que pense
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Li recentemente, num artigo de um padre cuja opinião eu respeito, que somos habitados pelo infinito. Que a nossa sede de Deus advém justamente dessa sede de infinito, dessa insaciável e incomensurável incompletude, que por vezes apenas encontra algum repouso na confiança e entrega totais. Eu, por exemplo, apenas encontro o meu repouso autêntico quando recordo Jesus: "faça-se a Tua vontade e não a minha" . É na entrega abandonada, confiante e recheada de esperança que descubro o reconfortante colo do Pai. Mas não acontece muito, confesso. Apenas nas situações de desespero total e absoluto. Fora desses momentos é o infinito que inapelavelmente me habita. É a procura constante, o fazer e refazer, o encontro e desencontro, o toca e foge permanente que me faz sentir que ora sou, inteiro, de corpo e alma, ora vou sendo, corpo e alma em permanente desavinda. Ler de um padre que a incompletude pode ser fome de Deus é importante para mim. Porque muitas vezes caio na tentação de i
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Aprendi, há muitos anos, que na vida apenas uma coisa me é verdadeiramente insuportável: o sofrimento dos que amo. Sobretudo, no topo dos topos, a consciência que esse sofrimento é provocado por mim. Sofrer com quem se ama é inevitável. Sofrer muito com quem se ama muito é natural. Os que me são indiferentes não me causam mossa. Na altura até me comovem, podem até estragar o meu dia, ou a minha semana, e ficar cá por dentro uns tempos. Mas quando penso a sério, isso acontece porque tendo a pensar "e se fosse comigo ou com os meus..." numa espécie de projeção egoísta e auto-centrada. Apenas aqueles que acampam cá por dentro têm essa possibilidade, essa nefasta capacidade de me fazer sofrer verdadeiramente com o seu sofrimento. E eu posso com isso. A custo, mas posso com isso. Eu tenho vida e mecanismos e defesas que me ajudam a aceitar essa dor e a viver com ela, apesar dela. É uma dor de fora para dentro, que me chega por meios dos que me são importantes, e que me impel
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Digo muitas vezes que me fiz. Porque é, em grande parte, verdade. Com as dificuldades e as consequências que uma construção desse tipo inevitavelmente acarreta: um errar constante, um refazer constante, uma excessiva permeabilidade, uma atenção exacerbada aos ecos que vamos provocando, como um morcego que, às cegas, está permanentemente expectante do retorno do som para se poder orientar. Há, no entanto, uma grande parte que já é assim tão verdade. Justamente porque os sons que me orientam acabam por ser incorporados, acabam por ser, eles próprios, construtores de personalidade. E, às tantas, os sons que me orientam não são já aqueles que emito mas os que me falam no silêncio do que sou. Até aqui tudo bem. É sinal que, embora muito timidamente, para meu verdadeiro espanto, vou ganhando alguma maturidade. Há algo de incrivelmente solitário quando nos escutamos na escolha do caminho. E livre. E libertador. Se a maturidade traz acopladas maiores certezas, por outro lado impossibilita
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Há pouco tempo disseram-me que eu não sei ser amado. Acredito. Não sei porquê, mas às vezes cheira-me que poderá ser verdade. Para mim, em determinados momentos, amar é extraordinariamente simples. Anda algures entre o D. Quixote, o Mr. Morgan e o inevitável Walter Mitty. Do Mr. Morgan, o amar em silêncio, em segredo, até do próprio. O amar fora de tempo e de lugar. O amar fora da vida sonhada. O amar da borla. Silenciosa. Respeitosa. Fisicamente distanciada. Do Mitty, a transformação, a superação, o passar do sonho à realidade, o vale tudo, o que se lixe, o perdido por cem ganho por mil. E a frustração do desencaixe, do desadequado, dos pés pelas mãos, da camioneta demasiado pequena para tanta areia.  Do D. Quixote o cavaleiro cavalheiro, a indominável vontade de salvar uma qualquer donzela em perigo numa qualquer torre mais alta de um qualquer castelo e, sobretudo, a triste figura, a falta de senso, a falta de racionalidade, a falta de realidade. Pegue-se nos três, misture-se co
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Ontem foi dia da família. Até há bem pouco tempo na família não havia lugar para grandes recordações. Habituáramo-nos a cavalgar a espuma dos dias sem grandes reflexões ou ilações para inquérito nos ia acontecendo. Que era muito! Histórias passadas, nem sempre bem passadas, muito menos bem resolvidas, mas nunca deixamos que isso interferisse na forma como apreciávamos a companhia uns dos outros. Não era uma falência, umas dívidas às finanças, uma perda de casas ou um atolado comum de vidas adiadas que nos ia impedir de sermos quem sempre fomos uns para os outros: amor feito de gestos e parcos em palavras. Cada família tem a sua maneira muito própria de funcionar e a nossa sempre foi assim: se é para dividir não se discute, faz-se de conta que o elefante não está no meio da sala. É discutível, claro que sim, mas apesar de tudo permitiu-nos sobreviver juntos às falências e à crónica falta de dinheiro. Sobretudo permitiu-nos concentrar-nos no essencial, dando-nos o tempo para saberm
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Durante o fim de semana em Londres, duas experiências antagónicas. Fomos à eucaristia. Católica. Uma língua diferente, um país diferente, uma Igreja diferente, minoritária, de resistência, num país esmagadoramente e politicamente protestante. Mal me sento, olho à volta e vejo uma assembleia envelhecida, como as nossas, mas composta maioritariamente por imigrantes negros. Arrisco a avaliar que a meia dúzia de brancos são irlandeses, não ingleses. Mas o que mais me chocou foi a negatividade da homilia. Apelou constantemente à resistência, inúmeras referências ao mundo, lá fora, que é exclusivamente motivo de pecado, e que, para nosso consolo, é apenas temporário. Devemos, por isso, fugir do mundo, resistir até que chegue o Reino dos Céus, penitenciarmo-nos quando não o conseguimos. Graça, zero. Esperança, zero. Alegria, zero. Creio que nunca tinha escutado uma homilia assim, tão pesada, tão negativa, tão desesperançada, tão carente de Jesus. No início, é muito esquisito. Ver dois
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Há, na consciência do pecado, uma porta para o divino que seria muito difícil de acontecer com a mesma intensidade numa qualquer outra situação. Quando me recolho no Evangelho, as personagens que mais me são significativas são, de longe, aquelas que sabem que pecaram. Zaqueu, a Samaritana, a pecadora, são com quem me identifico imediatamente, são aquelas com quem facilmente transponho a minha vida, as minhas circunstâncias e com quem, invariavelmente, aprendo. E o Jesus que é com elas, é o Jesus de quem eu mais necessito e que mais amo. É a este Jesus que eu recorro mais vezes, aflito. O melhor do pecado é a consciência que peco. é quando não me adio nem me iludo mas sinto claramente que há algo que me desfoca de quem sou chamado a ser. É aí, nesse momento, que me volto com maior verdade para o meu Deus, em busca do socorro do Seu amor. É aí, nessa circunstância de pecador, que eu, muitas vezes por falta de alternativa, me coloco inteiro nas Suas mãos e me confio de corpo e alma
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Vi ontem uma primeira reportagem que a SIC está a passar acerca do cancro. A determinada altura, um paciente - que me pareceu daquelas pessoas extraordinárias que tudo suportam - dizia que enfrentava com facilidade as dores próprias. Difíceis eram as das mulheres da sua vida: a mãe, a mulher e a filha. Pensei logo no que faria se fosse comigo. Há pouco tempo estava na cavaqueira com a minha filha mais velha e até nos rimos: quando se sente apertada, sob stress, a sua vontade mais incontrolável é dormir. Tal como eu. Desde sempre que sou habitado por heróis e super heróis e cavaleiros e donzelas fechadas nas mais altas torres dos altos castelos. Desde sempre que me imagino a salvar donzelas em perigo e a protegê-las contra todos os perigos do mundo. Desde sempre que eu me vejo do lado dos fortes, dos salvadores, dos protetores. E estive desde sempre do outro lado! Via a reportagem e só pensava na colonoscopia que fiz recentemente. Enquanto estive deitado, à espera para ser le

700

vi hoje que publiquei o post 700. E que este blogue existe há já 7 anos. É muito disparate no mesmo sítio!!!!
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Conversávamos, agora com mais calma, enquanto caminhávamos, aquilo que havia sido dito, fugazmente, à distância. Sabia das suas decisões, das suas idas e vindas, das suas perdas e ganhos, das partidas e reencontros. Não é tudo mau, nas redes sociais, que estão muito longe de substituir o olhar mas vão servindo para nos mantermos a par do indispensável. Naquelas conversas - que antecipáramos numa espera paciente e cuidada - falávamos de escolhas e dores e silêncios e partilhas e sofrimentos e decisões complicadas. E de consciência. Tranquila uma vezes, conturbada outras. E procura. Serena uma vezes, desesperada outras. Somos ambos habitados pela procura. O que nos permite uma linguagem comum. Por vezes feita de palavras. São duas forças distintas. Quase diametralmente opostas. São duas formas absolutamente distintas de tentar chegar ao mesmo lugar: a felicidade. Por um lado, o inconformismo. Não és apenas isto, és chamado a muito mais, és melhor quando és mais, és mais bonito quand
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No final, comentava eu com quem me acompanha sempre nestas e noutras lides da vida, que é bom sentir que ainda tive um papel a desempenhar. Por vezes acusam-me de dar demasiada importância à minha idade. Não me sinto velho. Mas também nunca acreditei na balela do espírito jovem com que se pretende fugir da idade. Acredito no tempo, sim, e nas alterações que, quando temos sorte, juízo e boa companhia, verificamos que o tempo provoca em nós. Ainda fiz os mais de vinte quilómetros diários à vontade - embora ainda me doam os músculos - mas já não dormi da mesma maneira. Ainda animei e cantei e provoquei a dança e a alegria, mas sei já que não cantamos as mesmas coisas com o mesmo gozo. Ainda me metia com eles e eles alinhavam a brincadeira mas sei que há brincadeiras e formas de ser e comunicar que têm o seu tempo que não é bem este tempo. Gosto de ficar atento aos efeitos do tempo em mim. Não para evitar o que tenho a fazer mas para e tentar ajustar ao que tenho que fazer. Até porque
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Assim que se passou para as perguntas de quem assistia à mesa redonda comecei a contar os minutos. Por escasso tempo. Foi a primeira pergunta. Não foi recorde, no entanto. Junte-se uma conferência da Igreja - sobre qualquer tema - e pessoas nos entas, e a pergunta é tão previsível como a morte: como se há de combater o demónio que se esconde no facebook e o mal que as redes sociais fazem aos nossos jovens e às nossas famílias. Torço-me sempre na cadeira. Sei que não adiantaria nada tentar responder. Sei que os argumentos que o mal não está nos facebooks ou quejandos mas na distância que se instalara antes, quando os miúdos eram novos caem em saco roto. Sei que explicar que temos que ir ao encontro da malta nova onde ela está - e se está nas redes sociais porque não irmos até lá - e não batermos no peito como virgens ofendidas é redundante. Sei que recordar que Jesus, que aos pescadores falava de peixe e aos agricultores de sementes, ia ter com as pessoas onde quer que elas estives
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Hoje, como sempre acontece à terça, tivemos reunião no RAIZ. Às tantas, a conversa vai ao encontro das nossas preocupações constantes com o futuro dos nossos miúdos. Enquanto permanecem por cá, enquanto os temos debaixo de olho, as coisas ainda vão correndo. O pior é depois. Falamos de uma série deles que, ao longo dos últimos meses, ou foram ter à prisão ou estão em casa com prisão domiciliária ou então foram libertados em julgamento. São marionetas. Dos pais, dos irmãos mais velhos, dos traficantes, das força policiais. São carne para canhão. Aqui no bairro, se eles não funcionarem em condições, rapidamente são substituídos por outros com maior vontade, maior estupidez, menor consciência e escrúpulos. Oiço e não acredito. Conheço bastantes deles e o que conheço, o que recordo, são momentos que nada têm a ver com o seu passado próximo e com o seu presente. Miúdos traquinas, com pouca vontade de estudar, vivaços, muito alegres, muito dóceis. Miúdos que noutras circunstâncias poderi
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É já proverbial, para os meus, a minha recusa em ser sepultado num cemitério. Os meus sabem-no sem dúvidas há muitos anos. Sabem que quero ser cremado, onde gostaria que fossem espalhadas as minhas cinzas - nos meus lugares de pertença física e espiritual: Porto e Taizé - e estou certo que este é um daqueles casos em que a minha vontade será satisfeita. E no entanto... Tenho vindo a redescobrir os cemitérios. Pode parecer macabro, mas não é. O meu futuro, em algum momento, implicará a minha morte, por isso é natural que eu pense nisso. Ultimamente, com alguma tranquilidade, até. Depois do choque das recentes mortes que tanto me mexeram cá por dentro, é uma espécie de assumpção, de aceitamento por absorção. Uma espécie de fase nova, em que vou percebendo (finalmente!) que o corpo tem limites e que qualquer dia será o dia. Ainda na semana passada, numa das já habituais conversas à volta da fé com os meus filhos, um deles perguntou-me se eu creditava mesmo que iria estar olhos nos ol
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Estou a (tentar) ler a Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate, que o Papa Francisco escreveu recentemente e ontem foi publicada. Espanto-me sempre com a simplicidade daquela cabeça. Quem, como eu, tende para as coisas profundas e densas - sim, eu escolho muitas vezes um livro pelo número de páginas - tipo Bento XVI, facilmente encontra nos textos do Papa Francisco alguma tendência para a superficialidade, para a excessiva simplificação do que se espera ser complicado, a exigir dicionário teológico, quanto mais não seja para nos alimentar o ego da sabedoria! Uma das minhas provocações mais comuns e favoritas é "expliquem-me como se eu tivesse cinco anos". Todos os meus filhos já tiveram cinco anos - bem, quase todos, porque a idade mínima da Rita foi nove - e eu recordo-me bem como era difícil responder à sua enorme e constante sede de respostas. Tentar explicar algo a um miúdo de forma a que ele entenda - e se cale - exige um esforço de síntese que nos conduz ao essenc
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Li, era ainda muito miúdo, que a dor, se não existisse, teria que ser inventada. Na altura não entendi. Não sei se entendo agora. Há qualquer coisa na Via Sacra que me questiona até à medula. Cada estação, cada passo de Jesus, cada reflexão, cada oração, são como se fossem minhas, como se fosse a minha vida, as minhas cruzes, as minhas dores, as que rezamos. A determinada altura, não sei se são minhas as dores de Jesus, ou de Jesus as minhas dores. Talvez sejam ambas. Talvez sejam de ambos. Com certeza serão de ambos, e andará por aí a humanização de Jesus, e a divinização do zé. Dizia eu num destes dias que não consigo estar desatento nas homilias. E são muitas e boas, aquelas que me são dadas a escutar. Numa delas, despretensiosa, o sacerdote a determinada altura dizia que, se não somos deuses, somos Deus. Todos somos Deus! Esta frase remeteu-me imediatamente para conversas de mais de trinta anos, num gabinete de contabilidade, onde eu e um amigo, ambos em fase de descoberta,
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El problema no es  la jaula o el pájaro,  o el pájaro  dentro  de la jaula.  E l problema es  la jaula  dentro  del pájaro.    Jorge Ampuero Acabei de ler. às vezes leio, vejo, oiço coisas destas, que imediatamente sinto que me têm como destinatário. As minhas jaulas, a minha preocupação em identificá-las, em pensá-las, em libertar-me de umas e permitir-me outras, são uma constante na minha vida desde que me reconheço cm capacidade para me refletir. É um daqueles casos em que o meu instinto e o meu consciente andam normalmente de candeias às avessas. Instintivamente, rejeito tudo o que me limita. Quando sou confrontado com qualquer tentativa, deliberada ou não, de condicionamento, reajo sempre de forma negativa. Sempre. O meu primeiro impulso é barafustar, normalmente com um travo a Contumil. Depois, quase sempre imediatamente a seguir, o sangue chega finalmente ao cérebro e percebo que é impossível fazer escolhas sem as correspondentes implicações na minha vida. O curios