Esta manhã, durante a eucaristia, tive vergonha de mim. Foi a eucaristia mensal onde o Fé e Luz está presente. Vê-los ali, com a alegria e a inocência que apenas eles têm, derruba-me toda e qualquer veleidade que eu possa ter.
Por vezes corro o tremendo erro de pensar que consigo algumas coisas apesar da minha gaguez.Que gaguejar e conseguir trabalhar com jovens e miúdos, alguns deles de Ramalde é uma grande coisa. Que, porque gaguejo, tenho a vida mais difícil que qualquer outra pessoa normal. Como consigo ser estúpido! Ver ali aqueles miúdos e, fundamentalmente, aqueles pais, coloca-me sempre no devido lugar. Não ouso sequer calcular o choque que deve ser para um pai ou uma mãe quando percebe que o seu filho, o seu herói, tem uma qualquer deficiência; que a sua filha, a sua princesa, na qual colocou todas as esperanças, afinal terá, para sempre, uma forma diferente de ser. Não duvido que, passado o choque, a vida acabe por promover a aceitação e até a descoberta de alegrias desconhecidas, mas aquele choque inicial deve ser tão intenso e tão difícil de ultrapassar!
São alguns os casais que conheço que me dão um testemunho do que é ser pai e mãe assim. Um testemunho extraordinário que me faz sempre sentir pequenino, pequenino, tal é o tamanho da sua generosidade. O que me causa sempre mais espanto é como conseguem manter a sua fé, como conseguem continuar a acreditar num Deus bom, num Pai que cuida dos seus filhos, num Deus que sabe o nosso nome e os nossos desejos mais profundos e no entanto nos dá algo absolutamente diferente. Espanta-me a sua ausência de revolta, a perseverança da alegria da fé, a manutenção da solidez da sua confiança, por vezes até o reforço desse amor a um Pai que deu algo absolutamente transformador.
Hoje, na eucaristia, enquanto cantávamos o "Senhor, ensina-me a viver, a dar e receber de ti o que mereço", perguntava-me o que eu próprio sentiria se cantassem isso comigo naquela situação. São muitas perguntas, que precisam de tempo para serem devidamente processadas. Provavelmente, durante a vida toda.  

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