Assim que acabou a eucaristia, arrumei as minhas coisas e sentei-me. Ou melhor, recolhi-me em ti. Teria gostado de sentir que me saíra um peso dos ombros mas não é verdade. Doem-me os ombros, assim como me dói o corpo todo. Têm sido umas semanas loucas, estas duas, e eu já não tenho vinte anos, e estava a precisar de me sentar para estar contigo, para conversar contigo, eu que tenho estado por aqui tanto tempo mas não tenho tido esse tempo para me sentar e conversarmos. Eu sei que me esperas sempre, sei que nunca chego tarde, sei que tu, muito melhor que eu, sabes como corro e em busca do que corro, tantas vezes feito barata tonta, sem nunca sair do lugar. Sei que não teria que te dizer nada, nem pensar nada, nem explicar nada, que me bastaria estar, ali, sentado, para ti. Mas acho sempre que precisava de o dizer. Que a questão não é, nunca foi, se tu me esperas, mas se eu me dou conta que tu me esperas. Não é se tu tens mais que fazer, com um mundo inteiro para cuidar, mas se eu te coloco na minha lista de prioridades. Se eu te coloco na minha agenda "quinta-feira, 11 de dezembro, 11:15, sentar." Não o faço, sabe-lo bem, Nunca o fiz. Assim como nunca coloquei "hoje, falar com o meu filho" ou "hoje, falar com a Belita" ou "hoje, encontrar-me no terraço com a lua ." Não o faço. A agenda é para aquilo que é passageiro, que não faz parte do que sou mas do que quero fazer, do que não me posso esquecer, do que é esquecido se não for apontado, e recordado, uma e outra vez. Mas tu não és assim. Tu estás. Sempre. Estás. Quando eu corro, quando me esforço, quando me empenho, quando tenho eu apelar à bondade daqueles que comigo trabalham e levam com as minhas falhas, quando levo eu com as falhas dos outros, quando descanso, quando me recolho, quando caminho, quando faço e penso e sinto tudo o que faço e penso e sinto, tu estás.
Assim que acabei de arrumar as minhas coisas recolhi-me em ti. Esperei que a cabeça serenasse, que a minha vida desse lugar à vida que tenho em ti, à vida que fazes em mim, e não disse nada. Não haveria nada que te pudesse dizer que tu não o soubesses já. Por isso recolhi-me em ti. Apenas isso. Recolhi-me em ti. E soube-me mesmo bem!

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