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A mostrar mensagens de setembro, 2020

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Corro muitas vezes atrás de coisas que não interessam para coisa nenhuma. Discussões, ideiais, espumas, que ao fim de quinze dias já nem na memória ocupam lugar ou espaço. Puras perdas de tempo. Uma das minhas filhas é assim e eu espanto-me sempre que constato nela essa ânsia de correr atrás de moinhos de vento. Assume todas as discussões como se fossem fundamentais e, como eu instintivamente faço o mesmo, acabamos quase sempre em alta voz a debatermo-nos sobre coisa nenhuma, sem sequer nos apercebermos que estamos em concordância. A idade, no entanto, volta e meia vai-me permitindo algum juízo e já consigo ir distinguindo o essencial do acessório.  Lembrei-me disto ao ler um artigo acerca da descoberta do sexo por puro prazer, sem amor, depois dos quarenta. Aquele que pretendia ser um artigo liberalizador da mulher eu li como uma rendição. O artigo terminava com a constatação que a mulher em causa não era tão feliz (como era quando o sexo não era apenas prazer mas também afetividade)

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Uma das formas de avaliar o impactante na minha vida é o distanciamento. Eu, que tenho a propensão para o inebriamento do momento, normalmente preciso desse hiato de tempo para discernir os acontecimentos verdadeiramente importantes.  Diz-se que longe da vista é equivalente a longe do coração, e assim seria se não fosse essa coisa que, segundo alguns, é apenas nossa, que é a saudade, essa coisa boa que aquece o coração, torna presentes os ausentes, menosprezando o tempo. Nas eucaristias começa-me a faltar o tempo para recordar aqueles que partiram. Antes, nesse momento, recordava uma ou duas pessoas e agora são já tantas que quase sempre a eucaristia continua sem mim. Parece que de repente a morte passa a fazer parte da vida, não permitindo remetê-la para as calendas, para o ainda falta muito, para o terei muito tempo para pensar nisso. Todas as semanas morre alguém que carrega consigo uma parte das minhas memórias, e já sei que a cada notícia de morte são as memórias conjuntas que faz

Acolher, Discernir, Transformar, Retribuir, Agradecer

Os meus começos são sempre sonho. Depois poderão passar a projetos, mas em primeiríssimo lugar são sonhos. E gosto que o sejam. Porventura não demasiado ligados à realidade, porventura prenhes de impossibilidade, porventura irrealizáveis. Pouco importa. A vida vivida encarregar-se-à de me recolocar no lugar, de ajustar as expectativas, de me confrontar com os meus limites.  Os meus começos têm sempre um percurso idealizado, com etapas mentais onde, no começo - e quase sempre apenas no começo - tudo encaixo para que tudo faça sentido, para que eu possa crescer, para que eu possa manter a ilusão que o tempo traz consigo mais sabedoria. Este ano, este começo, tem também o seu percurso, uma espécie de mantra que procurarei recordar em cada dia: Acolher, Discernir, Transformar, Retribuir, Agradecer. Ontem, enquanto arrumava a cozinha, olhava para a esponja que tinha na mão. A forma como o líquido da loiça desaparece em si e se mistura com a água que cai da torneira, como a mistura que daí r