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A mostrar mensagens de março, 2018
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El problema no es  la jaula o el pájaro,  o el pájaro  dentro  de la jaula.  E l problema es  la jaula  dentro  del pájaro.    Jorge Ampuero Acabei de ler. às vezes leio, vejo, oiço coisas destas, que imediatamente sinto que me têm como destinatário. As minhas jaulas, a minha preocupação em identificá-las, em pensá-las, em libertar-me de umas e permitir-me outras, são uma constante na minha vida desde que me reconheço cm capacidade para me refletir. É um daqueles casos em que o meu instinto e o meu consciente andam normalmente de candeias às avessas. Instintivamente, rejeito tudo o que me limita. Quando sou confrontado com qualquer tentativa, deliberada ou não, de condicionamento, reajo sempre de forma negativa. Sempre. O meu primeiro impulso é barafustar, normalmente com um travo a Contumil. Depois, quase sempre imediatamente a seguir, o sangue chega finalmente ao cérebro e percebo que é impossível fazer escolhas sem as correspondentes implicações na minha vida. O curios
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Ser pai nunca foi um projeto. Assim como ser marido. Ou educador. Ou amigo e companheiro confessor e escutador e tudo aquilo que volta e meia vou conseguindo ser. Mesmo o ser profissional, eu tenho dúvidas se foi um projeto. Preparei-me, estudei, tive um vislumbre do que queria ser e, acabei sendo feliz fazendo algo que nunca tinha projetado como profissão. Na realidade, em tudo aquilo que me é de fundamental e verdadeiramente importante e decisivo, escolhi não projetar. Escolhi abandonar-me. Fechar os olhos e saltar. Se sonhei casar e ter filhos? Claro que sim. Desde sempre foi o elemento mais constante dos meus sonhos. Sonhava chegar a casa, abraçar por trás a minha mulher, que sorri quando chego, dar-lhe um beijinho no pescoço e ir rebolar no chão da sala com os filhos, que me contagiam com a sua alegria. Este era o meu sonho desde miúdo. E concretizei-o. Vezes sem conta. Ainda agora (exceto a parte do rebolar no chão da sala "ó pai, ó pai, tem juízo!!") Mas foram coisa
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Já não são bem assim, que esta foto tem cerca de três anos. São ainda assim por que serão sempre assim para mim. Miúdos. Pessoas extraordinárias, com capacidades verdadeiramente extraordinárias, com escolhas extraordinárias. Mas miúdos. Os meus miúdos. A minha vida tem passado por uma série de convulsões, fruto de uma procura, que se pretende definitiva, de definição pessoal. Como estas coisas não acontecem por separado mas são como ímans, que se atraem umas às outras, colocaram-me há dias uma questão que começava assim: "se eu te perguntar quem é o Zé..." Já me estão a ver a salivar! Sou como aqueles putos que adoram que façam perguntas sobre eles próprios. Provavelmente porque cada resposta - que é muito variável em função do momento - é mais um degrau para que eu a consiga responder com maior grau de verdade. E passito a passito... Ontem, enquanto não desperdiçávamos o sol, íamos conversando justamente isto. Em boa verdade, como respondi a quem perguntou, o Zé não é
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Hoje, quando soube da morte do Stephen Hawing sorri. Imaginei-o a chegar, surpreendido, junto do Pai e a ser acolhido de braços abertos e um sorriso ainda maior. Tenho as maiorias das divisões como artificiais. Porto e Lisboa, Norte e Sul, Novos e Velhos, Católicos e Protestantes, Ateus e Crentes, tudo não passam de etiquetas que têm apenas o intuito de nos facilitar a vida, dificultando-a. Nunca me apercebi que fossem divisões efetivas, a não ser nas pessoas medrosas e mesquinhas. Todos temos a nossa própria história, todos somos sujeitos às nossas circunstâncias e todos lutamos contra elas até as incorporarmos devidamente, sabiamente, nas nossas personalidades. Claro que somos também o resultado delas, mas estamos longe, muito longe, de sermos gente apenas determinados pelas circunstâncias. Gosto sempre, por isso, de olhar bem à minha volta, de observar, de retirar as camadas que, cuidadosamente, todos colocamos em cima de nós para tentar ver quem existe por debaixo de tudo o
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Contrariamente ao que por vezes penso e digo (estas duas coisas andam quase sempre de mãos dadas) eu sinto o peso da idade de uma forma ostensiva. O primeiro impacto foi, curiosamente, físico. Há uns anos olhava-me ao espelho sempre com uma enorme confusão porque via o meu pai. Somos fisicamente parecidos e à tantas no meu imaginário ele ficou como que bloqueado no tempo e eu apanhei-o. Houve uma altura até em que deixei crescer a barba para que me pudesse ver a mim e não ao meu pai do outro lado do espelho. Depois da aparência foram chegando as limitações: as marcas das noites mal dormidas, as pernas pesadas das viagens, as dores nas articulações. Nada disto se coadunava com a imagem que tinha de mim próprio, e muito menos com o fulgor que me ardia no peito. Há pouco tempo, a maturidade. Que, curiosamente, começou a ser percebida de fora para dentro, a medida que outras pessoas se dirigiam a mim interessados na minha própria visão das coisas do mundo. A incredulidade inicial -
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Foi um jantar de família memorável. Para começar, uma das minhas filhas cumpriu a tradição: pagar um jantar quando começa a ganhar o seu próprio dinheiro. É-me sempre um pouco estranho quando isso acontece, mas creio que será mais um passo na aquisição de alguma humildade no meu papel de pai, que ainda é, para mim, o de cuidar. Sou, muitas vezes - demasiadas para os meus gostos (para o meu orgulho) - cuidado pelos meus. Mas o tempo não corre para novo, e estas coisas, como todas na vida, ajudam-nos a ir percebendo a transformação do nosso lugar e dos nossos papéis na família. Depois, pelo intenso debate, na mesa redonda da refeição (reservamos sempre aquela mesa redonda porque é à nossa medida) acerca da fé, da Igreja, da forma como nos inquietamos e vivemos a nossa vida com Deus dentro. É um tema mais ou menos recorrente cá por casa. Educamos os nossos filhos numa fé sem amarras nem obrigações. Com deveres, sim, com exigências, sim, mas apenas aquelas que emanam de Jesus, da vi
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Sou do cíclico. Sou da espera, do antecipar, do arrumar, engavetar, do projetar do futuro, do saborear o passado. Sou da distância, sobretudo se temporal, do repesar e do repensar, do refletir, do descobrir e decidir. Sou do diálogo entre o tudo e o nada, do fluir, do efémero, da fome de eternidade. Sou do hoje, do aqui, do agora, e do sonhar, do preparar, do anunciar. Sou da penumbra e da alvorada, da manhã que ainda não é manhã, da noite que ainda é dia. Sou do efémero, da areia que se escapa por entre os dedos, sou do tempo que passa e se torna passado, peso, âncora, raiz. Sou do deambular, do sempre novo, do descobrir, sou do reconhecimento do olhar, do antecipar, da certeza da espera. Sou da chuva num dia de sol, sou do reflexo do sol no chão que piso quando caminho no cinzento da manhã. Sou das gaivotas, das asas ao vento, da liberdade, sou dos elefantes, firmes e pesados, agarrados à terra, tendo como horizonte o lugar do último suspiro. Sou da verdade do "às vezes"
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O sonho é uma das minhas maiores e mais fiéis características de personalidade. Não implica que não goste da minha realidade ou que deseje uma outra vida, mas o sonho sempre foi, no meu caso, efetivamente, uma realidade alternativa. Uma mochila às costas de alguém, um Land Rover Defender, a imagem de um balão de ar quente, são motivos tão bons para viajar dentro de mim quanto uma casa de madeira no alto de uma colina à beira mar onde posso receber os meus netos ou um filme com as vicissitudes quotidianas de um casal apaixonado. Uns e outros são bons pretextos para projetar, imaginar, e, nalguns dos casos, quando a conjugação dos astros é perfeita, concretizar. Antes acreditava que isso acontecia como escape mental, como acontece com aqueles tipos que estão na cadeia mas ainda assim são profundamente livres. Mas agora não me sinto minimamente preso, ou infeliz, ou incompleto, e ainda assim, nas minhas peripatéticas manhãs à beira mar, ou enquanto conduzo, surpreendo-me frequentemen