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A mostrar mensagens de outubro, 2017
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Assim que se sentou ao meu lado percebi que hoje era dia de conversar. Aninhou-se em mim, como fazia quando pequenina, porque se para os pais os filhos são sempre filhos, para os filhos os pais são sempre pais. E essa verdade suplanta qualquer medida do tempo. Sabia do que iríamos conversar, que era chegado o momento de colocarmos as palavras em consonância com as ações, que isto de brincar às escondidinhas é sempre saboroso mas tem o seu tempo. Escutei, com enorme prazer, como escuto sempre aqueles que amo. Disse apenas que para mim o que importa nos meus filhos é se as suas escolhas são acrescento ou roubo. Se quem eles conhecem, a quem se ligam, a quem se entregam, lhes tiram ou acrescentam. E que a via íntima e profundamente feliz. E que, estando ela feliz com as suas escolhas eu estou feliz com as suas escolhas. Quando digo que aprendo muito com os meus filhos não é porque fica bem. Aprendo muito com os meus filhos. Quando acabou o recolhimento e ela foi à vida dela fiquei a
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Num dos meios onde passo uma parte substancial dos meus dias, a sensação mais importante que se pode transmitir é a possibilidade de recomeçar. São pessoas que sentem que nasceram já devidamente carimbadas, marcadas, como o gado destinado ao matadouro, e que muitas vezes desconhecem a possibilidade que (raramente) têm de assumir o seu destino nas suas mãos. Movo-me todos os dias num contexto educacional. Leio e releio, vejo e revejo, escuto e volto a escutar artigos, filmes e programas sobre o printing que nos é feito logo os primeiros anos de vida que, não sendo absolutamente irreversível, é algo com o que temos que aprender a viver. No entanto, na maioria das vezes, estas marcas são depois desvalorizadas por omissão, numa massificação que teimosa e cegamente quer fazer igual o que à partida é tão diferente. Não tenho nada a noção dos coitadinhos nem dos privilegiados. Trabalho todos os dias com miúdos que habitam ambas as margens da sociedade. Conheço-os. Converso com os que me
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Há pessoas que habitam no momentos que nos habitam. Pessoas que a vida mais tarde desmente dentro de nós mas que nunca nos deixamos desabitar. Recordamos conversas e olhares e risos e choros e caminhos calcorreados em comum sem permitir que nada conspurque essa memória. Há nisto uma espécie de inocência, um agarrar ao que é bom dentro de cada um e que, pelo menos naquele momento, se deixou desvelar. Um desvelo que é tão mais significativo quanto mais raro, porque nos concede o privilégio da memória da alma antes de. Um dos enormes privilégios de trabalhar com miúdos é que os conhecemos (quase) antes de tudo. Mesmo os do Raiz, que nos chegam às mãos muitas vezes já marcados pelos infortúnios que deveriam ser exclusivos dos adultos, estão ainda no seu estado puro de irreverência e rebeldia, com uma doçura que, quando conquistada, é absolutamente desarmante! Depois, como frequentemente acontece, quando nos vêm visitar já depois de muita vida vivida e marcada pela marginalidade, o se
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O que de mais importante acontece entre quem se ama não é visível. Nem palpável. Nem discutível ou sequer argumentável. Por isso não raras vezes meto água quando tento apalavrar a imensidão que ora alimenta ou atormenta o meu peito. E quanto mais tento traduzir essa imensidão, maior é a minha pequenez. Tenho uma tendência inata para a musicalidade, até nas palavras. Há uma cadência, um ritmo, uma sonoridade, que me acompanham permanentemente, nos mais variados momentos, que impede o sossego do pensamento mas me liga à alma. Quase sempre deixo-me invadir por essa musicalidade e permito que ela me conduza, numa espécie de ligação direta que não passa pela razão. Arrependo-me muitas vezes do que digo e resta-me, por vezes orgulhosamente, o único consolo da autenticidade das minhas palavras, que espelham, sem refletir, sem ponderar, o que de verdadeiramente sinto e sou em cada momento. Burro e confuso e incongruente, mas pelo menos autêntico. No sábado, depois da oração, o mai