Não há muito que eu possa dar aos meus filhos. Mas também, em abono da verdade, não há muito mais que eu queira dar aos meus filhos. Dinheiro não pode ser, que esta coisa de ter cinco filhos e uma aposta fortíssima na educação suga-nos quase tudo. O que sobra vai para a alimentação, que nunca faltou. Depois, pouco fica, e é gerido com pinças. Ter despesas não programadas é um luxo que não temos há muitos, muitos anos. E não é grave. Houve um período, curto, durante o qual tive mais dinheiro que disponibilidade e fui uma péssima pessoa e, pior, um péssimo pai. Uma experiência a não repetir. Por isso o que eu posso dar aos meus filhos é o que tenho: a atenção, a disponibilidade, a brincadeira e a chamada de atenção sempre que o justificam. O estar é muito importante. Estar presente, estar disponível, estar atento, conhecê-los profundamente e não tomar nada como certo ou definitivo. Nem são sempre tão bons como quando se portam bem nem são sempre tão maus como quando se portam mal. Ah. E uma coisa fundamental: nunca fechar portas. Nunca! Quando é tempo de discutir, discute-se. Se tiver que ser, forte e feio, dizer o que se tem a dizer, limpar a alma. Quando acaba a discussão, a discussão acabou. Nada fica por dizer  mas também não se prolonga no tempo. Passada meia hora, respira-se fundo, sacode-se o pó, e a vida continua como se nada tivesse acontecido. É muito importante que eles saibam que estou aqui e nunca digo "eu avisei-te". Eles sabem-no. A vida avisou-os. Para quê realçá-lo? Cada um é como cada qual. Não há fórmulas por atacado, não há educar por atacado. A mesma ação implica um ralhete a um e um afagar de cabeça a outro. Não estou nem aí para a justiça de tratamento ou para a equidade. Estou aqui pata tentar dar a cada um o que cada um necessita a determinada altura. Isto não é uma democracia nem uma ditadura. Não é um estado, é uma família. Gosto de que pedir para que alguma coisa seja feita mas se não o for não me importo de mandar, de puxar os galões, que eles são filhos e eu sou pai. E não me custa nada ter que lhes pedir desculpa sempre que se justifica. E já se justificou muitas vezes. E eu fi-lo em todas. Especialmente quando eles não mo pediram. Não há muito que eu possa dar aos meus filhos. Mas dou-lhes a certeza de não ter certezas nenhumas acerca destas coisas e de muitas outras. De não ligar puto aos conselhos dos imensos psis que sabem muito de psi mas não sabem nada dos meus filhos e, sobretudo, não imaginam o que é amar os meus filhos muito para além do que eu alguma vez sonhei ser possível amar alguém.

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