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A mostrar mensagens de setembro, 2011
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Quando digo que gosto de envelhecer olham-me de lado. Numa cultura que endeusa o novo, o eternamente novo, bonito e saudável, de sorriso estúpido na boca, nem que seja à custa de toneladas de silicone, próteses dentárias e fortunas que colocariam um país africano no Primeiro Mundo, gostar de ficar velho soa a imperdoável anacronismo. Paciência! Uma das coisas boas da passagem do tempo é justamente a de nos podermos dar ao luxo de sermos quem somos. Podermos dizer o que nos vai na alma tendo apenas o cuidado de não magoar aqueles de quem gostamos mas com o desassombro de quem vai sabendo o que quer graças às escolhas que se foi fazendo ao longo da vida. Este desassombro - que por vezes é pelos outros tido como "cara de pau", "granda lata" ou "convencido como o caraças". Paciência! - é o que me permite dizer por exemplo que me sinto muito feliz quando sinto que faço alguém feliz, que contribuo de alguma forma para que o dia de alguém seja mais sorriden
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Quando estávamos em Moçambique passei os primeiros dias a tentar explicar que eu sou naturalmente sossegado. Normalmente quem contacta comigo não fica com essa impressão: ando sempre com a minha guitarra às costas, sorrio muito, gosto muito de ambientes descontraídos e bem dispostos e volta e meia digo até algumas larachas para gente rir. Não é, contudo, por muito tempo. Quando estou rodeado de pessoas, sejam elas amigas ou não, o meu ambiente natural, onde me sinto mais confortável, é num canto qualquer, sossegado, a olhar, a ver e a ouvir quem me rodeia. Apesar de estar só não me sinto só, nada disso. Vou vendo uns e outros, ouvindo uns e outros, lendo uns e outros. E sorrio muito, à medida que os vou vendo e descobrindo. Sempre. No início, esta minha forma de ser causou alguma confusão, mas cedo confirmaram que eu sou mesmo assim. Gosto muito de pensar, de dialogar comigo próprio, de me colocar em causa, de saber exactamente o que sinto quando sinto e porque sinto. E isso apena

andaimes

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Voltei a senti-lo ontem. Tivemos aqui a entrega dos diplomas do ano passado e voltei a senti-lo ontem. Como a nossa presença na sua vida é fugaz! Bastam alguns dias de distância, uma mudança de paradigma, os olhos postos num qualquer outro futuro, e tudo muda. O olhar, o sorriso, a cumplicidade, tudo é feito agora de uma forma mais distante, mais fria, muito mais impessoal. É normal que assim seja. Arriscaria a dizer até que é bom que assim seja. Temos que ter a capacidade de avançar, de continuar caminho, de fazermos nossas outras vidas e de sermos nós próprios vidas de outros. Tudo isso seria impossível de acontecer sem essa capacidade de avançarmos, transportando as nossas memórias, integrando-as naquele que queremos seja o nosso futuro. A nossa tentação de nos estabelecermos no cimo da montanha, montarmos a tenda e apreciarmos a paisagem é enorme. Queremos sempre guardar as pessoas que nos são mais queridas, os momentos mais marcantes, as experiências mais profundas de fo
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Leio e oiço muitas vezes que o melhor mesmo é não nos envolvermos, não nos incomodarmos, fazermos de conta que o que ouvimos e vemos não é nada connosco. Assobiamos e passamos ao lado. Não, obrigado. Não consigo, não quero, não se faz, não tem nada a ver comigo. No dia em que isso acontecer, internem-me, que eu já não faço nada aqui. Incomoda-me? Ainda bem, porque eu tenho mesmo a tendência para me acomodar, refastelar, vegetar, o que quer que seja, e por vezes preciso mesmo de uma qualquer abanão que me faça avançar. Comove-me? Ainda bem, porque me move ao encontro do outro, daquele que comigo todos os dias partilha um pouco de si e leva em troca um pouco de mim. Poderia eu, porventura, trocar estas formas de estar e de viver e fazer de conta que não era nada comigo? Não consigo. Ainda bem. Estou vivo.
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Lembrei-me hoje de uma coisa que sempre dizia aos meus filhos quando eram pequenos: "o não consigo não existe." Ainda na semana passa ouvi da boca do Nuno algo parecido, mas melhor: "existem apenas dois tipos de pessoas: os que conseguem e os que nunca tentaram." Vem isto a propósito da conversa que acabamos de ter, eu a minha mais-que-tudo, durante o habitual périplo que costumávamos ter e tentamos retomar. Mais uma das nossas filhas entrou esta semana para a Faculdade. Não houve stress nenhum, entrou na primeira opção, no local onde queria, sem o mínimo constrangimento ou dificuldade. O mau da coisa é que quando soubemos o resultado dissemos "ah e parabéns e tal" sem fazermos nenhuma festa, nada de especial. Apercebemo-nos disso apenas quando contamos aos amigos e estes nos dão os parabéns e dizemos que temos muita sorte, e quem lhes dera ter uns filhos assim, e nos deixam inchados como perus em véspera de Natal. É triste. Eu acho triste. Claro que é
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Não sou particularmente fã de reencontros. De grupo, nomeadamente. Sei que invariavelmente têm lugar, acontecem sempre, particularmente depois de uma experiência de comunidade forte, como foi a de Moçambique, é a de Taizé, Compostela, Colónias, etc. Apesar disso, quase nunca falto. Nem faço sacrifício algum em ir. Mas vou preparado. Ontem tive um desses momentos: um jantar de Moçambique com as nossas famílias. Foi bom estarmos juntos, foi bom darmos rostos aos nomes das pessoas de quem tínhamos saudades, foi muito bom voltarmos a jogar ao lobo. Mas foi apenas isso: bom. Nada que se compare com a experiência extraordinária, arrebatadora, que tivemos em Moçambique. E que, por isso, tudo teria mesmo que saber a pouco. É por isso que ofereço alguma resistência a estas tentativas de reencontro. Gosto muito de os ver, de voltar a estar com eles, e, particularmente em relação aos que não andam cá, tenho mesmo que aproveitar estas alturas para os poder rever. Mas o tempo para conversarmos
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Alguém me perguntava, num destes dias, se era muito mau não conseguir transmitir aos outros muito do que se passou lá, naquela terra de fim do mundo. Eu sorri e respondi que não, não era muito mau. O que se passa é que há coisas que aconteceram durante aqueles dias que são impossíveis de se transmitir. Como é que se transmite, por exemplo, que, apesar de estarmos longe como o caraças daqueles que amamos, apesar das saudades que nos cortavam por dentro, apesar do cansaço acumulado, estamos felizes por termos o privilégio de estar naquele lugar, naquela altura, com pessoas fabulosas? Como é que se explica aos outros a explosão de pura alegria que meia dúzia de canções pimbalhescas faz sentir enquanto se arruma uma cozinha, a forma como as defesas de cada um vão dando lugar à partilha, a maneira como estávamos atentos uns aos outros, como sentíamos que as dificuldades, as alegrias, as saudades, as pequenas vitórias e derrotas diziam respeito a todos e cada um de nós? Não consigo ver
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Digo frequentemente qualquer coisa como "veste um sorriso e faz-te à vida." Não que menospreze o valor de uma boa choradeira: chorar faz muito bem à alma e tenho para mim que muitas vezes nãos e consegue (re)começar nada a sério sem deixar que as lágrimas lavem a alma. Apesar da dor de cabeça que, invariavelmente, se instala quando choro, nunca senti que chorar me fizesse senão bem. Não é frequente, muito menos público, mas quando tem que acontecer, não me cai nada por causa disso. Mas acredito que o sorriso é uma arma bem mais poderosa que o choro. É muito ais motivadora, dinamizadora, desbloqueia aquelas alturas em que estamos chateados sem saber muito bem porquê e, mais importante ainda, um sorriso é normalmente retribuído com outro sorriso. E de sorriso em sorriso vamos ganhando o dia. Para além disso, afasta os "o que tens?" e os "passa-se alguma coisa?" que eu detesto. Em Moçambique ficaram gravadas as palavras do Irmão António logo no primeiro

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Nunca hei-de perceber a dificuldade que algumas pessoas sentem em expressar sentimentos. Positivos, claro,que os negativos é outra história. Mais incompreensível é, ainda, quando a minha experiência me diz que ficamos sempre melhor quando abrimos a torneira e nos deixamos ir, seja rindo, dançando, chorando e por vezes até cantando a altos berros. Quando estávamos em Moçambique um miúda extraordinária, com umas capacidades absolutamente fora de série no campo da dança, disse-me a determinada altura que a minha companhia era muito boa para lhe levantar a moral e fortalecer o ego. Seja. Se o que eu digo servir para alguma coisa, se servir para ela acreditar um bocado mais em si própria até de forma a agradecer o extraordinário dom que possui e o colocar aos serviço dos outros, já valeu o dia. Se servir para alimentar egos bacocos então mais valia ter estado calado. Mas isso já não depende de mim. Nunca depende de mim aquilo que os outros fazem com o que lhes digo, sobretudo quando av
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Li hoje, aqui  http://www.ionline.pt/conteudo/147575-porque-se-escreve?idEnvio=14  algo interessante. Eu não sei ao certo porque escrevo. Nunca o soube. E faço-o desde que me conheço. Por vezes, como a minha-mais-que-tudo não gosta que eu escreva - partilho em demasia com demasiada gente - decido não escrever. Quinze dias. Não mais que isso. Depois, como qualquer junkie que se preze, apanho-me a rabiscar qualquer coisa, apressadamente, meio letárgico, meio sem me dar conta. Não é nada de jeito, apenas umas frases, pequenas, que vão sucedendo a umas outras, e as coisas começam a fazer sentido cá por dentro. O possível, porque por vezes isto cá por dentro é mais confuso que Santa Catarina em época de saldos no Natal. O que é certo é que escrever é uma necessidade absoluta para mim. Pode ser aqui, pode ser num outro blogue, pode ser no meu Moleskine, pode ser nas costas de uma factura qualquer que esteja à mão, podem ser textos longos ou curtos, ideias fantásticas ou banalidades das qu
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Chegado aqui, reencontro-me com os meus velhos amigos livros, com o seu cheiro tão característico que me seduziu desde o primeiro dia - ao qual regresso todos os dias. Levanto os olhos e o espectáculo, contudo, não é bonito: todas as mesas têm livros empilhados, tal como os deixei em plena azáfama moçambicana. Não sei ainda o que lhes fazer, onde os guardar num espaço que não tenho, onde os colocar sem sem me incomodar com o inevitável sentimento de perda. Detesto "arrumar" livros, colocá-los em caixotes, longe da vista dos seus possíveis leitores. Lembro-me sempre do que dizia na catequese, que um livro só é livro quando é lido. De contrário não passa de um bibelot. Escondê-lo, retirá-lo da prateleira, colocá-lo à parte é impedir sempre alguém de usufruir do prazer da sua leitura, é sempre tarefa ingrata. Aliás, escolher é sempre tarefa ingrata. E nunca me deixa satisfeito.