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A mostrar mensagens de outubro, 2011
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À medida que o tempo passa - e como eu gosto da sensação que o tempo passa! - vou sentindo que aquilo que me seduz na vida vai sendo diferente. Estou numa fase em que aprecio muito a calma, a paz, a serenidade. Não que as tenha agora em maior ou menor quantidade que antes, apenas as aprecio melhor, as saboreio melhor. O novo livro do José Tolentino Mendonça começa justamente com essa calma, essa serenidade. Depois de ler as primeiras linhas fechei-o por não conseguir conciliar o que me ia na cabeça com o que lia. Acontece-me muito isso, particularmente com os bons livros que, apesar se por vezes terem poucas páginas, são os que me levam mais tempo a ler... e a degustar, como um bom Porto. A interrogação maior que me assaltou logo naquelas linhas - e que ainda agora vai vagueando cá por dentro - é o que me impede de, nesta altura, sentir aquele tipo de paz, de harmonia: se o meu interior, se o meu exterior. A resposta não é difícil, mas incomoda.
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Uma das coisas que aprendi em Moçambique foi que o meu olhar por vezes incomoda. Nunca tinha pensado nisso dessa forma. É certo que para mim o primeiro impacto das pessoas está sempre ligado aos seus olhos, se sorriem, se têm vida, se são vazios, alegres ou baços. É natural, por isso, que tenda a olhar fixamente para as pessoas, que tente ler nos seus olhos o que lhes vai na alma. Para mim o olhar é o mais claro indicador da beleza de uma pessoa, e para o caso nem sequer é importante se é homem ou mulher. Há olhares que me despertam logo à partida para um tipo de beleza interior que transborda e torna todo o exterior mais especial. Outros, porém, não me dizem nada, e costumam ser fatídicos: pessoas com olhares mortiços têm que se esforçar muito para me agradarem. E há também olhares frios, absolutamente gélidos, que me intimidam sempre, que me levam a pensar meia dúzia de vezes antes de dizer o que quer que seja, com cujos donos tento ser cordial mas de quem não sou amigo. A não ser
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Lá tenho eu que voltar aqui. Já me falta pouco para acabar o livro e como história não é grande coisa. Curiosamente, acho-o bem mais útil como manual de bíblia que como ficção. A sensação que tenho é que José Rodrigues dos Santos empenha-se em demasia em justificar as ideias do Tomás perante uma demasiado crédula Valentina que nunca se preocupou em pensar a sua fé. Realmente, creio que uma católica um bocadinho mais afirmativa, mais convicta da sua fé, menos cabeça de vento e menos maria-vai-com-as-outras, que pudesse dar alguma luta ao historiador - não tanto na informação mas nas conclusões que tira a partir delas - apenas enriqueceria a história. Provavelmente estragaria a leviandade do Tomás Noronha, mas um bocadinho de contraditório enriquece-nos sempre, e aquelas constantes interjeições dela tiram-me do sério. É preciso nunca ter pensado a sério em Jesus e na fé que se professa para se espantar com o facto de ele ser judeu. Mas também não se pode exigir muito ao autor porque
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Comecei ontem a ler o Último Segredo, do José Rodrigues dos Santos. Li já quase todos os livros dele, faltando-me apenas, por falta de tempo, O Anjo Branco. Gosto muito do seu estilo, que me torna sempre dependente ao ponto de pegar nos seus livros e apenas os deixar quando os acabo. Aprendo sempre alguma coisa, também porque gosto da pesquisa que ele faz e da forma como a mistura com a história. Para mim é uma espécie de Dan Brown para melhor, com mais rigor, com melhor escrita, com uma maior mestria na gestão das suas histórias. Não o considero, contudo, um grande escritor, daqueles profundos, que nos mexem cá por dentro, que tem a capacidade de nos pôr a questionar as nossas opções de vida. Este O Último Segredo retoma o tema dos documentos e conclusões supostamente escondidas pelo Vaticano, cheio de organizações super secretas compostas sempre por católicos obscuros que podem contar com um sanguinário que está disposto a obedecer a alguém em nome da fé cega numa qualquer insti
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Dizia hoje a uma amiga que ela estava a falar com o rei da sublimação. Há dias assim, em que os acontecimentos se encadeiam uns nos outros, como se fossemos instrumentos de uma sinfonia conduzida por uma maestro atento a cada um de nós. Hoje de manhã, ao pequeno-almoço, o João, o meu filho mais novo fez-me pensar no passado. Nessa viagem que fiz num tempo que era simultaneamente curto e longo, pesei vários acontecimentos provocados por várias decisões que tomei e que tiveram implicações graves tanto para mim como para aqueles que me amam. Questionei se hoje as voltaria a tomar, sabendo das suas consequências para todos nós e surpreendi-me ao pensar que talvez voltasse a repetir os mesmos erros. Não porque não tenham tido importância ou repercussões sérias, não porque não me sinta mal por causar mal, e estou muito longe de pensar que as minhas decisões foram as melhores. Teria que ser maluco ou muito inconsciente para o fazer e (já) não o sou. O que acontece é que a questão de f
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Tenho alturas em que sinto claramente que Deus tem os olhos postos (também) em mim. Quem me conhece de perto, mesmo de perto, sabe que tenho uma grande tendência para me armar aos cucos. Que quando as coisas me correm bem por muito tempo, quando vou tendo algum sucesso, algum reconhecimento,começo a embarcar em mim, a ficar cheio de mim e a dar espaço à arrogância. Como estou rodeado por pessoas que me conhecem bem, autênticos grilos falantes, sou muitas vezes corrigido, mas o verdadeiro perigo é quando não ligo patavina ao que me vão dizendo. Às tantas estou mesmo obcecado com a minha própria visão das coisas e não consigo ver um palmo para além do meu nariz, ou do meu enorme umbigo. É nestas alturas, justamente nestas alturas, que sinto que Deus intervém na minha vida. E quase nunca de uma forma agradável. Normalmente actua através de um qualquer acontecimento que me faz cair em mim, ver as minhas enormes limitações, e assumir que preciso de um bom banho de humildade. Foi isso
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Apesar de ambos nos amarmos, sabemos que somos diferentes. Muito diferentes. Num dia destes, enquanto via - via efetivamente, não lia - o que vou colocando nos meus blogues, dizia-me que eu parecia um adolescente, com questões que já não deveria ter na minha idade, com tentativas de respostas que já não deveria dar. Sorri, como sorrio sempre que me faz esse tipo de críticas. E respondi como sempre respondo, com a verdade mais lapaliciana que conheço e mais digo porque é frequentemente esquecida: tudo tem custos. Se queres alguém na tua vida que dê um pouco de ar fresco à enorme seriedade e responsabilidade que usas em toda a tua vida, tens necessariamente que lidar com algumas infantilidades fora de tempo e de moda. Será esse, possivelmente, um dos nossos "segredos". Somos ambos muito diferentes, fizemos percursos quase opostos até que a vida - Deus? - nos colocou frente a frente. Desde esse dia, ainda que por vezes fisicamente longe um do outro, nunca mais concebemos
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Ontem, depois de ouvir o discurso do Primeiro Ministro, fui estudar. O dia fora enorme e intenso, às 21.30 tinha duas reuniões ao mesmo tempo - uma do jornal da paróquia outra da Pastoral Familiar - pelo que não tinha tempo a perder: ainda poderia aproveitar uma boa meia-hora. No meu livro de Teologia Espiritual - é a cadeira do momento - tinha algo assim: "Neste processo de transformação a fidelidade do crente é posta à prova: crer, na total escuridão; amar, no abandono; esperar, contra toda a esperança." Bingo! Pensei imediatamente naquilo que ia lendo no twitter à medida que ia estudando, os ecos do discurso, o desespero de algumas pessoas, a falta de lata de outras, a prontidão com que muitas se dispuseram a insultar o nosso Primeiro e a mãe dele, a convocação para inúmeras manifestações. Pensei que enquanto estava essa malta toda a vociferar contra a situação - é um direito que se lhes assiste - estava eu a aproveitar uma folga para estudar depois de um dia intens
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Detesto as ligações, às claras ou não, de alegria, festa, divertimento, com o álcool. Quando a minha filha chegou à faculdade teve que levar com n avisos da minha parte a alertá-la para esse verdadeiro flagelo. Ainda na semana passada, enquanto ouvia mais um podcast do "O Amor é", o Prof. Júlio Machado Vaz falava nisso, no perigo do álcool institucionalizado, de tal forma enraizado na nossa sociedade que tudo o que é importante tem que ser bem "regado" porque senão não fica baptizado como deve ser. Apesar de gostar de beber, com muita moderação, não posso com bêbados. Acho verdadeiramente inacreditável as cenas degradantes das praxes e da Queima das Fitas, das noites, onde malta nova se arrasta e se deixa arrastar porque bebeu uns copos a mais. É um negócio com uma margem de lucro verdadeiramente inacreditável onde as pessoas ganham verdadeiras fortunas à custa da miséria e do descontrolo alheio. Todos os sábados levanto-me bem cedo para ir levar uma das minhas
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Daily Quote: Leaders are not what many people think – people with huge crowds following them. Leaders are people who go their own way without caring, or even looking to see whether anyone is following them. John Holt Nunca fui um líder. Nunca o consegui ser. E nunca o quis ser. Sempre foi muito incomodativo para mim quando me apercebi que de alguma forma davam demasiada atenção ao que eu dizia, ao que eu escrevia, e me tornavam numa espécie de guru, que eu detesto. Não quero ter - não posso ter - esse tipo de responsabilidade em cima dos ombros. Não tenho a consistência necessária, as certezas absolutas e firmes, a despreocupação pelos outros que um líder tem que ter. Ando demasiado aos apalpões do terrenos, meio sem saber qual o caminho, sempre sem respostas definitivas, sempre com a dúvida à flor da pele, sempre na procura do melhor caminho, e, por isso, sempre a recomeçar qualquer coisa depois de descobrir que afinal o caminho era outro. Adoro conversar a profundidade,

Steve Jobs

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Devo ser dos poucos que não gosta particularmente dos I qualquer coisa. Isso nunca me impediu, contudo, de admirar o Steve Jobs, como admiro outros fundadores de impérios como a Google, o Facebook, a Microsoft... São pessoas cujas vidas nos ensinam muita coisa: como aproveitar as oportunidades, como não ter medo de avançar sozinho, ignorando os velhos do Restelo, como se pode correr muitos riscos e ainda assim triunfar, como cair e levantar para aprender a cair melhor. Hoje, enquanto vinha para cá, ouvia uma excelente peça que passava na TSF acerca do Steve Jobs, das suas dificuldades financeiras quando estudava, dos sacrifícios que fazia para não gastar as poupanças de uma vida dos seus pais, da sua escolha por estudar caligrafia, porque era bela e antiga apesar de aparentemente não servir para nada - e que, afinal, lhe cultivara o gosto pelo belo que tão profundamente marcou toda a Apple. Quando nós olhamos para estes verdadeiros magnatas dos tempos modernos temos tendência para
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Não posso afirmar, em boa verdade, que tenha orgulho em mim. Quando olho para a minha vida vejo, isso sim, muitos motivos de orgulho nos meus, naquilo que eles conseguem... apesar de mim. Agora já não, porque nestes últimos anos cresci e serenei o espírito, mas houve uma altura em que o que mais temia era que aqueles que me amam descobrissem quem eu sou e que, por isso, deixassem de me amar. Apesar de tudo, uma das coisas de que me orgulho, porque sempre fez parte de mim quaisquer que fossem as circunstâncias, é a minha vontade de ir sempre mais longe. Quase nunca é na direcção que alguns esperariam, mas o Mestre Tempo tem revelado que é na direcção certa. Esse desejo muito íntimo, muito meu, muito latente, de ser cada vez mais foi o que me permitiu sair do bairro, ter uma verdadeira fixação por aprender com tudo e com todos, e, acima de tudo, desenvolver uma boa dose de resiliência - que não poucos entendem como sendo loucura, e talvez com razão - que me tornou num sempre-em-pé.