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A mostrar mensagens de 2019
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Não é sempre, mas há dias em que a Palavra, que todas as manhãs escutamos durante a viagem para o trabalho, vem mesmo ao encontro do que precisava. Hoje veio. Graças a Deus! Porque eu estava mesmo a precisar dela. Ainda esta semana disse na catequese, a uma das miúdas mais à procura que conheço - e que está na fase do "não" a tudo, que a Bíblia iria ser o livro mais importante da vida dela. Olhou para mim com aquele ar de incredulidade que a caracteriza, como se eu tivesse dito a maior barbaridade que jamais tinha ouvido. Mas a verdade é que eu, conhecendo-a como a conheço, acredito mesmo nisso.  Sobretudo para quem se questiona, sobretudo para quem não se conforma, sobretudo para quem anda sempre à procura de ser mais, a Palavra é absolutamente fundamental. Aí encontramos tudo: todas as dores, todos os desesperos, todas as escuridões. E aí encontramos todas as curas, todas as esperanças, toda a luz. A Palavra é resposta confiada de muita vida vivida e, apesar da
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Não me lembro de ter tido um dia tão complicado quanto o de ontem. De problema em problema, de urgência em urgência, de inesperado em inesperado, sempre a correr atrás do prejuízo, sempre em reação, sempre em cima do joelho. E sempre com alguma dose de conflitualidade. Tudo o que eu detesto esteve ontem concentrado no meu dia de trabalho. Cheguei ao final do dia como se tivesse apanhado uma coça: cabeça a rebentar, dores no corpo, completamente esgotado. No final de um dia assim, nada há de melhor que regressar. Que ter para onde regressar. Que ter para quem regressar. Chegar ao carro, pôr uma musica calma que abafe o trânsito, uma boa dose de conversa, chegar a casa como se chega a um refúgio, com a confiança que aquele é o nosso lugar, que aqueles são o nosso lar. A partilha das nossas vidas, à mesa, por entre gargalhadas, conversas e brincadeiras, com as tecnologias fazendo perto quem já vive longe, traz-me de volta ao essencial, ao fundamental, que é o mesmo que dizer à min
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Tenho um enorme respeito pelas dúvidas de fé. A necessidade de encontrar razões para acreditar vem das entranhas e quase sempre com algum sofrimento à mistura. Mesmo que a vida não tenha ainda proporcionado ainda as desilusões que põem tudo em causa, quem quer pautar a sua vida - e a sua fé - com alguma racionalidade sente na pele uma luta que é tremendamente difícil, controversa, e permanentemente sobre o arame. ão devem, por isso, ser votados ao abandono. Há pouco tempo, numa daquelas conversas em que as ideias saem sem grande reflexão, que, apesar de preferir ter mais certezas que dúvidas, tendo a gostar mais de pessoas com dúvidas que cheias de certezas. Enquanto as dúvidas são sempre ponto de partida, as certezas são ponto de chegada. Uma vez chegados lá não saímos do sítio, não avançamos nem recuamos mas ficamos entricheirados, confortavelmente entricheirados, enquanto a vida corre fora do nosso alcance. No que toca a Deus, então jamais podemos ter certezas. Quando aponta
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Também somos feitos de outros. E por vezes, outros que apenas lemos, vemos ou ouvimos intermediados pelas tecnologias - sim, um  livro é uma tecnologia, e poderosa!. E, quando temos sorte, por pessoas que à partida nada têm a ver com as nossas escolhas mas nos surpreendem com uma forma de estar sábia. Há uns (bastantes) anos, tive uma muito interessante discussão num qualquer fórum cibernético com o Miguel Relvas, a propósito não sei bem de quê. A determinada altura disse-lhe que não concordava com o que ele defendia mas que admirava a sua coerência. E ele disse-me para ter cuidado com a coerência que, quando excessiva, permitiu as maiores barbaridades da história. Coerência é importante, mas não devemos tirar os olhos do que é melhor, e mudar, se necessário. Nunca mais o esqueci, ao ponto de o transportar para a minha vida, e de o aconselhar a quem me quer ouvir. Pensei hoje nisto enquanto ensaiava uns miúdos do 12º ano. Como os conheço particularmente bem, via em alguns de
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Hoje ando a trautear pelos corredores. Aqueles com quem me cruzo olham-me como se eu fosse verde e tivesse antenas. Uns - os que me conhecem melhor - sorriem; outros, surpreendidos, não conseguem ou não querem esconder a estranheza. É um dos imensos privilégios da idade: já não ligo. Adoro acordar assim, com o coração fora do peito. Talvez seja uma reação ao dia que sei que me espera, que se adiciona à semana que já tive e à que ainda vou ter. É como se me revestisse de ânimo, se me preparasse para o embate, se me negasse o direito a reclamar. Na realidade, vivo aquela que é, certamente, uma das melhores fases da minha vida, e não o valorizar é, para além de ingrato, profundamente estúpido. No já longínquo nono ano tive um professor de história muito peculiar. Andava sempre vestido à inglês, de pisco, óculos redondos, e ensinava história de uma forma muito física. Escondia-se atrás da secretária para exemplificar as trincheiras, dividia a sala - carteiras e tudo - para exp
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Procuramos sempre o que mais falta nos faz.  Eu, que vivo mergulhado no "para ontem", detesto viver na sofreguidão. Procuro a calma, a ponderação, o tempo, o ecossistema que torna possível a Ecologia da Escuta (aprendi este conceito recentemente) e me proporcione serenidade.  Tudo isto me é contra-natura.  Eu empolgo-me com extraordinária facilidade no que há para fazer. Ainda estamos em equipa a pensar nas coisas e a minha cabeça é já um turbilhão de ideias e projetos e dinâmicas e formas de fazer acontecer aquilo que apenas mal se aflorou. Fico feliz quando olho para o calendário e vejo que consigo encaixar esta ou aquela atividade, ainda que à custa do meu tempo pessoal. E depois, a partir daquele momento, as coisas armam tenda na minha cabeça e acampam, e acredito que devem ter fogueiras e isso tudo, porque me impedem de adormecer ou me acordam a meio da noite, por vezes com soluções para o que me preocupava. E depois, quando chega a altura de fazer, fa
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Uma das minhas mais fortes convicções de fé é que Deus nos fala. De muitas maneiras, em muitas ocasiões, através de muitas pessoas, do que vemos, ouvimos e lemos.  Vínhamos, como temos vindo nestes últimos tempos, a rezar juntos a oração do Passo a Rezar, um excelente hábito que nos foca, nos situa e desafia no início de cada dia. Hoje era sobre a fidelidade, explicando que é a relação que temos com alguém e que marca a nossa vida, mesmo na sua ausência. Rapidamente me remeti ao início deste ano, quando lançamos a semente à terra na Costa Nova. A minha palavra foi justamente fidelidade, e, enquanto semeava, disse em voz alta: fidelidade a mim, fidelidade aos meus, fidelidade à fé. E hoje voltei ao que escrevi na altura: fidelidade a mim e às minhas convicções, à minha história, às minhas escolhas, à minha personalidade, à minha forma de ser e de ver e estar no mundo; fidelidade a nós, à nossa história de vida, à educação que escolhemos dar aos nossos filhos, ao nosso amor,
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Passamos, hoje, como passamos todos os dias, perto da janela das minhas primeiras memórias. Trovejava, o que tornou a memória de hoje ainda mais presente. Revejo-me, pequenito, em cima de um banco, com a minha irmã, a olhar para o - naquela altura ainda vasto, porque sem prédios - horizonte, deliciado com os raios que caíam sobre as montanhas. Imediatamente repesquei uma outra memória, uns anos depois, da praia de Salgueiros, onde estávamos acampados. Começou uma daquelas trovoadas repentinas de verão e eu corri para a praia, justamente na altura em que todos os outros corriam em sentido contrário. Que me lembre foi a primeira vez que percebi claramente que eu fazia coisas que mais ninguém fazia. Debaixo daquela chuva torrencial e maravilhado com a trovoada que caía sobre o mar, em plena praia deserta, descobri o puro prazer, que ainda hoje se mantém, de caminhar na praia sob as nuvens escuras e carregadas de chuva. O prazer do som do mar revolto, do vento a assobiar nas orelha
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Tenho começado por escrever. Um verbo. Dois, no máximo. Antecipo as atitudes que precisarei de ter para que o meu dia seja Dia. Preparo-me para o embate do que aí vem, para a organização do tempo, para aquilo que não conto, para o que é para ontem e esqueceram ou esqueci. Tento estar todo, inteiro, em cada momento. Tento ser todo, inteiro, antes da tomada de cada decisão, de cada escolha, de cada resolução. Depois tento viver, usufruir, aproveitar, e para isso preciso de me sentir preparado. São breves minutos, escassos num dia de trabalho, mas fundamentais. Para que, no final do dia, possa olhar para trás e sentir que valeu a pena.
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O Re da vida é-me absolutamente fundamental. Recomeçar, recuperar, reatar, é-me tão necessário quanto o respirar. Poder fazê-lo por amor, porque me sinto amado, porque sinto que posso, sem perder, foi e é ainda, muitas vezes, o factor decisivo da minha adesão a Cristo. Ter alguém - muitas vezes não é necessário ser Deus, basta mesmo alguém - que me acolhe de braços abertos e sorriso nos lábios e sinceridade no olhar apesar de mim, faz-me sempre sentir a criança que se recolhe nos braços do Pai. Outra coisa, diferente, muitíssimo diferente, é conceder o Re. Permitir reatar, recuperar, reatar, traz consigo grandes dúvidas, grandes questões, grandes desconfianças. Conhecida a dor, abraço com maior facilidade a desilusão que a alegria, entro em perda, permito que a memória da dor seja a pauta, e descubro-me a dançar ao som do ressentimento: zangado, azedo, amargo. Então, percebo que este meu desejo de recomeçar é próprio da minha humanidade. E que, acolher, por amor, o desejo de recome
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Serenar. Olhar para dentro. Respirar. Deixar que o ar entre nos pulmões por entre a respiração apressada. Serenar. Olhar. Ver. És mais que uma agenda, és mais que uma sucessão de acontecimentos marcados, és mais que uma mera peça de engrenagem. Serenar. Analisar. Há coisas mais importantes e coisas não tão importantes. Há coisas que esperam um arranque e coisas que andam pelo seu próprio pé. Há coisas tuas e apenas tuas e coisas dos outros e para os outros. Serenar. Centrar. Religar. Ao que é verdadeiramente importante. Ao que permanece. Ao que está para além do tempo. Ao que é o próprio tempo. Serenar. Encontrar. Tens uma música. Tens um passo. Tens um ritmo próprio. Não se dá dois passos ao mesmo tempo. Primeiro isto, depois aquilo. Serenar. Partir. Vamos a isto. Uma boa semana.
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Verdade e Serenidade Evoluir é estar mais perto hoje que ontem, é avançar, é não ficar parado, imobilizado, atado ao que se é. E isso é bom. Implica a coragem de arriscar, o enfrentamento do medo, o abandono do conhecido. Permite a descoberta, o impensável, o novo que nos desperta para a existência de novos sabores, novas paisagens, novos olhares. Evoluir é bom. É sempre bom. Mas não é apenas sair do sítio. Porque também o vento se move, mas não evolui: limita-se a mover-se, daqui para ali, de lá para acolá, em função da pressão, em função da temperatura, em função do momento. Exatamente como nós quando nos falta o sentido, a meta, o objetivo. Evoluir implica caminho, rota, intencionalidade, saber onde chegar e vontade de chegar. Sem isso, somos meros lançadores de redes com a ilusão de sermos pescadores.
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Verdade & Serenidade O mero desejo de perfeição é um leitmotiv poderoso. E envolvente. E totalizante. E radical. Tens que te conhecer e à tua história, tens que te analisar e saber das tuas motivações, justificações e desculpas; tens que te perscrutar até às entranhas com coragem e determinação. E tens que cortar. O que não gostas, o que não vale a pena, o que te faz mal, o que te torna pior, o que te afasta. Tens que escalpelizar a tua história pessoal e compará-la com as dos que conheces e te conhecem. E, inevitavelmente, tens que te perdoar, pelo menos na medida em que és perdoado. Nem mais, nem menos. E, ainda assim, tens que te amar, pelo menos na medida em que és amado. Nem mais. Nem menos. Tudo isto sem que te deixes ficar. Ajustas o azimute, redefines o teu próprio olhar, voltas-te para o horizonte e, de bússola no coração, avanças.
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Verdade e Serenidade Começo a semana na belíssima capela do colégio. Daqui a pouco estará cheia da vida dos miúdos mas nesta altura está "apenas" cheia da Vida de dentro. Esta é uma excelente maneira de iniciar uma semana. Confronto-me comigo próprio na pequenez de quem sabe que está longe, muito longe, do que Deus lhe pede para ser, mas no consolo e na confiança de quem sabe que é acolhido pelo Pai na vontade de mudança e de voltar a arrepiar caminho.
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Não conheço muitas abordagens quanto à questão da possibilidade. E a possibilidade, para mim, na história da minha vida, é absolutamente fundamental. Desperta-me a curiosidade perceber porque é que a malta nova com quem lido no meu quotidiano joga tanto nas raspadinhas e faz tantas apostas. Apesar de isto acontecer com miúdos que habitam ambas as margens da sociedade, aquela que passa mais dificuldades porque tem mais baixos recursos financeiros e, sobretudo, mais baixas expectativas, deposita no jogo uma fezada que não considera em mais nenhum outro aspeto da sua vida. Quando conversamos acerca disso, eles falam, invariavelmente, do que farão com o dinheiro que vão ganhar com aquela aposta, o que, com a mesmo invariabilidade, nunca acontece. Pelo menos não significativamente. Eu jogo no totoloto e no euromilhões desde que totoloto e euromilhões existem. Nunca ganhei nada de interessante e sei perfeitamente que, apesar de apostar o mínimo em ambos os casos, não é pela probab
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Recebi a notícia com o mesmo arrepio com que a reencaminhei para os meus filhos: ao que parece, houve abusos em Taizé por parte de um dos irmãos.  Lá em casa todos estamos de alguma forma ligados a Taizé. Seja porque já fomos, seja porque outros foram, seja até como Igreja idealizada, Taizé é como um reduto. Já quase todos fomos felizes lá - falta apenas o mais novo - e todos queremos regressar. Sabia, por isso, que iria ser uma pedrada. Mas não podia deixar de enviar. Esta semana, na catequese, não falamos de Taizé - que ainda não lhes diz muito - mas de santidade. Do que é ser santo e, sobretudo, se eles querem ser santos. Como já há alguns anos tínhamos falado de santidade, desta vez sabiam o que responder: santidade é querer viver com Deus como pano de fundo. Não é conseguir, não é ser perfeito, não é ser impoluto, é antes saber que temos um Pai pronto a acolher-nos de braços abertos apesar do nosso pecado. Assim saibamos ser suficiente genuínos no arrependimento e no d
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"... expliquem-me como se eu tivesse cinco anos..." No início, esta minha expressão causa alguma estranheza. No final do dia, os miúdos que acompanho em Dia de Reflexão já nem me deixam terminar: "... como se eu tivesse cinco anos..." Eu sou seduzido pela complexidade. Particularmente do pensamento, do raciocínio, que me ocupa horas todos os dias, e cuja descoberta me faz vibrar sempre intensamente. Quando consigo ler, ver, ouvir, ou esclarecer eu próprio aquilo que permanecia intuitivamente intrincado, já ganhei o dia. Percorro muitas vezes a Bíblia à procura do imenso que ainda não entendo mas que intuo que deve andar por lá, leio textos e livros e comentários, muitas vezes à procura de um pormenor que não interessa a ninguém - muito menos ao Menino Jesus - mas que teima em andar às bolandas cá por dentro, e que, enquanto anda, não me permite sossegar. Por isso deixo-me espantar muitas vezes pela simplicidade do evidente. Do imedi
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Verdade e Serenidade.  Odeio situações de tensão. Às vezes são inevitáveis, porque todos os dias lido com pessoas e tenho que tomar decisões e assumir posições que, naturalmente, não agradam a todos. Quando tenho que o fazer faço-o, nunca sem alguma dificuldade, mas também sem virar a cara. Mas tento preparar-me antes. Fazer uma espécie de percurso interior, antecipando aqueles que prevejo serão os meus estados de alma, por forma a conseguir seguir um guião.  Ontem o guião era Verdade e Serenidade. Nenhuma delas é minha amiga íntima. E ambas estão intimamente ligadas.  Provavelmente por motivos que enraízam na minha infância, tenho a tendência para a fantasia, construindo realidades paralelas que possam encaixar em mim ou nas quais eu possa encaixar. Mergulho nelas com alguma facilidade, e isso, quase sempre, provoca confusão e decepção à minha volta, e apenas à minha volta, porque eu, imerso na minha verdade privada, nem me apercebo que possa confundir ou desiludir. E como
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Ainda ontem, em conversa, partilhava aquelas que foram algumas das minhas desventuras e que, Graças a Deus, desembocaram naquilo que eu faço e sou hoje. Acho sempre castiço quando me apercebo de particularidades de mim próprio e das minhas escolhas através de conversas de vão de escada que vou tendo com outros. É como se precisasse que eles sejam o meu espelho e apenas através deles me conseguisse ir destapando. Essa, creio, é uma das vantagens da idade: quando olho para trás consigo ver um percurso, um rumo, que continua a fazer sentido apesar dos acidentes, apesar de algumas más escolhas, sobretudo apesar de alguns dos inebriamentos com que a vida fertilmente me presenteia. Durante alguns anos acreditei que me perderia com alguma facilidade. Era como um barco no estaleiro, que se consegue manter em doca seca graças aos apoios de que dispõe. Eu pensei, durante muito tempo, que era aí o meu lugar, no conforto da doca seca, onde o maior risco que corria era o cansaço simultâneo d
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Tem sido uma semana justamente como a prefigurava: demasiadas coisas importantes a acontecer ao mesmo tempo e eu com aquela sensação terrível de correr contra o prejuízo. Correr contra o prejuízo nunca é coisa boa. Mas acontece com alguma frequência. Por muito que tente jogar na antecipação, pensar nas questões adequadamente - o que implica pensar nas alternativas e arranjar as soluções correspondentes - há alturas em que a vida se sobrepõe ao programado, em que a vida é o que é e não o que eu gostaria que fosse, e muito menos aquilo para o qual me preparei. No meio disto tudo, no entanto, há sinais nos quais eu reparo e valorizo como sendo de Deus. Todas as manhãs e fins de tarde mergulho na VCI. Lembra-me as artérias por onde o sangue é conduzido, com todos em filinha, com as entradas e saídas e os atropelos também. Hoje aconteceu algo que me espanta sempre: estávamos todos em fila, devagar paradinhos, quando se ouve uma sirene. Como por magia, num sítio onde não se via e
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Este é uma daqueles dias em que me sinto verdadeiramente um privilegiado. Não é um sentimento novo, ou raro, em mim, mas sabe-me sempre às mil maravilhas. Acabei de ter uma sessão de catequese com miúdos do 9º ano, na capela a pedido de uma delas, que tinha ficado de organizar esta sessão de catequese. Aproveitou algo que o sacerdote tinha dito na eucaristia de hoje e fez disso a nossa sessão de catequese. À atenção que teve durante a eucaristia juntou a sua forma de ser e levou a questão que a incomodava para o espaço onde merecia ser discutida: na capela, na catequese, com e por todos nós. Nos primeiros tempos em que peguei neles lembro-me que uma delas disse que eu faço muitas perguntas. Foi um caminho nosso, em conjunto, ao seu ritmo, mas que permitiu que hoje se sintam à vontade para falar de tudo o que à fé diz respeito, sem receio das perguntas nem rendição simples e aparente às respostas que vamos dando uns aos outros. É uma catequese feita de perguntas e respostas, de ques
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Uma confluência de pessoas e acontecimentos recentes. Estava em Roma, em pleno Vaticano, nada deslumbrado com a sua opulência, e lembrei-me, como sempre me lembro naquele lugar, do Tiago "Sabes, Zé? para mim isto não é Igreja, é turismo. Igreja é Taizé." Jantar de família, comemorativo, onde mais gostamos de nos juntar para jantares comemorativos. Naquela mesa redonda, com os meus à volta da mesa, a conversa acalorada à volta das coisas da Igreja. E a velha, antiga, pergunta do meu mais velho "como é possível que aceites que a Igreja paute a tua vida quando tem tanta coisa errada?" E a minha resposta: "quem configura a minha vida não é a Igreja, é Jesus. E como não consigo nem sei nem quero alimentar e viver a fé sozinho, a forma menos má de o fazer com os outros é na Igreja." Terceira confluência: missa dominical em Madrid, numa basílica menor. Tudo lá é conservador: a liturgia, a homilia, as pessoas que a frequentam. O sacerdote, velho e demasiado rot
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É comum envolver-me de tal modo que me esqueço do mais elementar. Por isso gosto de voltar à base. Umas vezes voluntariamente, outras, porém, levado pela mão, como uma criança. Amar dificilmente basta. Ou se basta. A não ser numa perspetiva umbilical. Mas aí, nesse caso, apenas existe uma pessoa amada: o próprio. Amar tem sempre uma dimensão de saída, de projeção, de transbordo. Ainda que numa dimensão mais silenciosa, como a ternura, amar tem sempre alguém dentro. Este ano Cuidar é uma das palavras chave. Espanto-me sempre comigo próprio quando acordo e descubro aquilo que está diante dos meus olhos e não consigo ver sem que me peguem pela mão. Não há amar sem cuidar. Não há amar sem fazer crescer, sem mimar, sem acompanhar de perto, sem a alegria de testemunhar as mais ínfimas alterações, os minúsculos rebentos que são sinal de nova vida, o lento desabrochar. Não há amar sem assumir, sem fazer vida de, com e para quem se ama. E como eu por vezes me esqueço do mais elementar da
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Cheguei ao CR e logo fui invadido pelo seu cheiro característico a papel e a livros. "O meu Pai tem muitas moradas" vem-me logo à memória. Eu também tenho muitas moradas. Afetivas. Eu também sinto muitas vezes que regresso a casa, apesar de estar em lugares diferentes, mas não novos. São lugares  e pessoas - sim há pessoas que são também minhas moradas - revisitados que reativam memórias, boas memórias, que vão fazendo aquela que é a história da minha vida. Passei o fim de semana num desses lugares, à beira mar, numa das minhas moradas afetivas, com pessoas que são, elas também, minhas moradas afetivas, a falar e a viver um Deus que é a minha morada. Nada ali me era estranho. Nem sequer aqueles que eu ainda não conhecia e que começaram a fazer caminho e que daqui a uns tempos serão também memórias boas. Há, no entanto, moradas que não são lugares de passagem, mas de refúgio, de chegar e ficar, de permanecer. São aqueles lugares, aquelas pessoas, onde permitimos que o co
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Não há, na vida, nada que se possa sequer aproximar da sensação de amar e ser amado. É como se as várias imagens que compõem a nossa vida, e que se vão lenta e progressivamente afastando umas das outras com o tempo, se voltassem a alinhar e o mundo se tornasse perfeito e nós perfeitos no mundo.
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Tendencialmente, instintivamente, ferozmente, evitamos a dor. Comprometemos e descomprometemos, abdicamos e ligamos, recuperamos e perdemos, na vã tentativa de lhe escapar. Por vezes vamos ao limite de nós mesmos, ao limite dos limites que estipulamos para que nos possamos ainda reconhecer quando nos enfrentamos com o nosso reflexo, para que a dor não se torne tão presente. Tão inexoravelmente presente. Em vão. É sempre em vão que fugimos da dor. A sabedoria, então, não está em fugir da dor mas em integrá-la. Aceitá-la, torná-la nossa, sabendo que que também a dor é vida, também a dor é importante para que a vida seja plena. Também somos dor. Apenas assim nos aceitamos como um todo. Apenas assim nos conseguimos confrontar com a nossa própria escuridão, porque ainda a ilumina a nossa própria luz. Apenas assim, enquanto não nos perdemos na fuga, enquanto ainda nos temos, podemos superar a dor. E dar-lhe um sentido. Que é apenas um: o do amor.
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Sempre gostei muito dos Jesuítas. Da sua visão do mundo, do seu estudo, da sua cultura, que é quase sempre mais vasta que a mera teologia. Normalmente os jesuítas são pessoas do mundo, embora ultimamente tenha pressentido uma tendência mais elitista do que gostaria. Do que não gosto mesmo, é da recorrência com que falam do demónio ou do diabo. Não acredito que sejamos anjos ou demónios. Acredito que somos anjos e demónios. Acredito que, antes de mais, somos. Com a nossa personalidade, com os nossos vícios e virtudes, com as nossas dificuldades e dons. E acredito que vamos sendo, nos vamos definindo, à medida que vamos permitindo ou impedindo que as circunstâncias nos moldem ou desviem do que somos chamados a ser. No âmago das nossas entranhas. E gosto de acreditar, ou faço por acreditar, que se nos dermos verdadeiramente ouvidos, se nos escutarmos atentamente no silêncio onde Deus nos fala, e se tivermos a coragem de fazer nossa essa voz conjunta, seremos mais felizes. Inte
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Quando fores convidado para um banquete nupcial, não tomes o primeiro lugar. Pode acontecer que tenha sido convidado alguém mais importante do que tu; então, aquele que vos convidou a ambos, terá que te dizer: ‘Dá o lugar a este’; e ficarás depois envergonhado, se tiveres de ocupar o último lugar. Por isso, quando fores convidado, vai sentar-te no último lugar; e quando vier aquele que te convidou, dirá: ‘Amigo, sobe mais para cima’; ficarás então honrado aos olhos dos outros convidados. Na minha vida, há várias passagens bíblicas que me foram definindo ao longo dos tempos. Esta é uma delas. E uma das mais marcantes. Em várias dimensões. A primeira, e aquela que será mais evidente para mim, é o de me deixar ficar para o fim. Na realidade, sinto-me sempre mais confortável na sombra que na luz. E quando assumo a luz é sempre no serviço, sempre no "lá tem que ser", porque o que gosto mesmo é de fazer parte de, sem dar nas vistas. Ao longo do ano que passou tive a po
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Saborear. Esta é a palavra chave: saborear. Chego demasiadas vezes à conclusão que a expectativa dá cabo de tudo. Que se estiver aberto ao que é, e menos ao que gostaria que fosse, vivo melhor porque vivo mais feliz. E saboreio o que a vida me dá em vez de me frustar. Há uma parte de mim que é mais ou menos obsessiva. Gosto do processo de organizar. E organizar é antecipar cenários: aqui acontecerá isto e eu precisarei daquilo naquelas condições. Pode ser contraditório com o saborear, mas é justamente essa antecipação de cenários que me permite depois saborear melhor. Porque, pelo menos para mim, saborear e acaso não conjugam. Eu preparo antes para poder saborear quando as coisas acontecem, à medida que as coisas acontecem. E se acontecerem à minha medida, melhor. Quase sempre, não reajo bem ao imprevisto. O meu primeiro impulso é quase sempre barafustar. Estava tão bem! Estava tudo tão bem pensado! Tinha tudo tão preparado! Expectativa, expectativa, expectativa! A minha sorte
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Enquanto solávamos numa esplanada junto à praia, olhava as pessoas que passavam no solarengo sábado de agosto. Adoro olhar as pessoas que passam. Ver como andam, com quem andam, ouvir os fragmentos das suas conversas que me entram nos ouvidos na sua passagem por mim. Particularmente os casais mais velhos que nós que ainda caminham de mão dada e me fazem acreditar que, apesar de tudo, o amor ainda acontece.  Foi justamente quando um desses casais passou junto à esplanada onde estávamos que dei comigo a sonhar, de olhos abertos, com o futuro. Não é que espere ou deseje que ele venha a passos rápidos - eu tenho tempo! - mas é que nem me assusta nem, se as coisas correrem pelo melhor, me impedirão de fazer aquilo que mais gosto.  Na realidade, continuo a sonhar com a casa da colina à beira mar, com longos passeios recheados de excelentes conversas na melhor das companhias. Sonho com a antecipação da visita dos que amo, preparando, para cada um deles, um cesto com as coisas da nossa
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Tenho aproveitado estas férias para ver filmes. Um deles, que estava na carteira há muito tempo, é "A Queda", que relata os últimos dias passados no bunker de Hitler. Um filme densíssimo, violentíssimo, durante o qual tive que registar algumas das interrogações que me suscitou, até como forma de lidar com tamanha violência. Sobretudo as perpetradas pelos pais aos seus filhos, que desde que sou pai nunca consegui ver da mesma maneira. Uma das reflexões que me surgiu e que me intrigou foi que, no final, a passividade de uns e de outros face à morte era muito semelhante. Se os judeus aceitavam morrer sem se revoltarem, no final os militares mais fiéis a Hitler fizeram o mesmo: suicidaram-se mesmo quando nada o exigia. Em nome de quê uns e outros aceitavam morrer? Em nome da dignidade? Em nome da vida? Em nome da morte? Em nome da adesão total a uma religião ou a uma ideologia? Temos que ter muito cuidado com o lobo que alimentamos dentro de nós. Com aqueles que escutamos, c
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Já escrevi algures por aqui que o Tempo traz consigo uma outra perceção das coisas. Que, quando as coisas correm bem, não é mais premente mas desliza em sentido oposto, o da suavidade, da serenidade. É até paradoxal, porque à partida o que se imaginaria era que, tendo nós menos tempo, teríamos mais pressa. Não tem sido assim. Talvez esteja a escrever isto influenciado pela serenidade destas férias. Mas é justamente disso que estou a falar. Estamos numa fase da vida em que poderíamos fazer outras escolhas. Os filhos vão sendo cada vez mais autónomos, vamos tendo mais folga financeira, sobretudo quando comparada com os aflitivos anos que já tivemos, e no entanto, o que escolhemos vai tomando o caminho da simplicidade e, sobretudo, da serenidade. Nada de aeroportos, nada de viagens longas, nada do temo vertiginoso de outros tempos em que chegávamos ao trabalho mais cansados do que tínhamos saído. Vemos como algumas das escolhas dos nossos filhos vão nesse sentido e damos Graças po
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Uma das coisas boas de se ter muitos filhos é que podemos comprovar, com o coração, como as pessoas são diferentes. E o que faz dela quem são não são compartimentos estanques. Uma delas conversava comigo um dia destes e, face a alguma circunstancial indefinição, sentia necessidade de voltar a redefinir algumas prioridades. Como nas suas inquietações é muito parecida comigo, eu sabia perfeitamente do que estava ela a falar. e sugeri-lhe que pegasse numa folha de papel e escrevesse o que a preocupava, esquematicamente, por forma a ser mais clara a resolução. Que normalmente é mais simples do que pensamos ser. Hoje de manhã estava justamente a pensar nessa nossa conversa enquanto prosseguia com a minha rotina matinal, encantado da vida. Os meus filhos acham piada aos meus passos que são, quase invariavelmente, os mesmos todas as manhãs. Tenho as coisas no mesmo sítio, faço as coisas pela mesma ordem, e quando falta alguma delas ajusto-me sem dificuldade mas com alguma sensação de p
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Sol na eira, chuva no nabal. Eis uma expressão que utilizo muitas vezes. Em forma de conselho. E que faria bem melhor se guardasse, religiosamente, para uso próprio. Lembrei-me dele esta semana.  Fruto de conversa, de desilusão, de alguma discussão. De indefinição. Minha, claro, que quero sempre o melhor de dois mundos. Impossível, claro. Não é possível servir a dois senhores. Nem partilhar o impartilhável. Acaba-se, irremediavelmente, dividido. E, se partilhar é multiplicar, dividir é diminuir, é cortar pela metade, é não ser nada, muito menos o que se espera, deseja muito, ser. É ficar a perder, é ninguém ganhar, é ser metade do já pouco que se é.
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Volta e meia regresso ao twitter. Porque gosto. E porque preciso. Gosto do twitter porque lá nada tem filtro. As pessoas escrevem o que diriam na tasca. Como se ninguém ouvisse, como se ninguém lesse, como se não ficasse registado. E leio as coisas mais incríveis! Quando se trata de futebol, então, é completamente irracional. Pessoas que vou vendo e ouvindo e até respeitando pelas suas opiniões e postura perante a vida, aqui perdem completamente as estribeiras e são capazes das maiores barbaridades. Por isso preciso de ir ao twitter. Para desmistificar. Para me lembrar que todos nós dizemos coisas que preferiríamos calar e que teríamos calado se respirássemos convenientemente, dando tempo para que os nossos dois dedos de testa funcionassem. E se não tivéssemos palco. Assim, perante a estupidez alheia, não me sinto tão só.
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Nunca consegui entender o racismo. A diferença é sempre complicada. Para mim, que gaguejo, sei um bocadinho o que isso é, Numa escala muito pequena, claro, porque normalmente a gaguez até desperta alguma simpatia e cativa quem me escuta. Mas ainda assim é diferença, causa estranheza e reações que não ocorreriam se não existisse. E eu vejo-as. Todas. Mas não há grande estigma nisso. O que não acontece com o racismo. Trabalho com miúdos brancos, negros, ciganos, ricos, pobres, com inteligências e aptidões diferentes, com religiões diferentes, sem religiões, com boas referências de vida, com péssimas referências de vida. Sou um privilegiado, portanto. A todos eles conheço pelo nome e conhecem-me. Conheço um pouco as suas famílias e os seus percursos. Há algo que os une: são miúdos. Têm os mesmos anseios, as mesmas brincadeiras. E são muito diferentes. Nos seu instintos, nos seus sonhos, na sensação de proteção ou de luta, nos seus anseios, naquilo que eu gosto de chamar o horizon
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Suicidou-se. Não morreu, suicidou-se. É muito diferente! Para quem fica. E quanto mais íntima a ligação, maior a diferença, exponencial a culpa. Suicidou-se. Recuo sempre. Ao choque, inacreditável, de um outro suicídio, ou pretenso suicídio, porque nunca soube a certeza, porque nunca perguntei, porque na altura não me pareceu assim tão importante. Devia ser. Se ainda hoje recuo imediatamente àquele dia, devia ser importante saber. Sei que me recordo como se fosse hoje a questão que imediatamente me assaltou. Onde estava eu? Porque não me ligou? Porque não falou comigo? Será que tentou? Quando foi a última vez que conversamos? Como foi a última vez que conversamos? Conversamos? Tive tempo, dei tempo para conversarmos? Ontem, depois de conhecida a notícia, dei comigo a pensar na eutanásia. Preferia mil eutanásias a um suicídio. Talvez na ilusão que no processo da eutanásia a solidão está ausente. Uma visão romântica, de certeza, mas ainda assim, arrisco que a solidão no suicídio d
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Ando a ler três livros. Ao mesmo tempo. Vou saltando entre eles com facilidade porque as temáticas estão ligadas: a fé vivida. Um deles é o último do Tomas Halik, um dos meus autores de eleição. Os outros dois estão ligados à Logoterapia e, por isso, a Viktor Frankl. O problema não é saltar entre eles, é o tempo que me demoro quase em cada uma das suas frases. Leio, aponto - é um velho hábito - e viajo. Uma eternidade de tempo para uma profundidade ainda maior. Gosto mais de pontos de partidas que de chegadas, de perguntas que de respostas, de viagens que de certezas. Principalmente no campo da fé. Fico feliz quando escuto ou leio algo absolutamente novo de uma passagem que li e reli dezenas de vezes. Isso acontece porque as interpretações são diferentes e também porque eu sou diferente, e são diferentes as minhas sedes. Acabei ontem (mais) um curso ligado ao estudo das coisas da fé. Fi-lo com muito gozo, muito estudo e, confesso, alguma facilidade. Conseguia ler e ligar à vida,
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Tenho andado desligado daqui. É mais ou menos comum, ou sazonal, se entendermos os estados de espírito como estações. Quando ando feliz, acertado, concertado, integrado, tendo a escrever menos. Se a isso juntarmos uma imensidão de coisas para avaliar, fazer e programar, fica mais difícil. Se, ainda por cima, estiver calor e o corpo não respirar, então aí é quase impossível sair alguma coisa, quanto mais alguma coisa minimamente de jeito. Sim, estou meio concertado (não confundir com consertado, que isso ainda falta), resignado talvez, mas mais feliz. Já não ladro atrás de cada carro que passa ao largo, já não ando à procura da última bolacha do pacote e os moinhos de vento vão sendo menos sedutores. Já tenho muito com que me entreter e, sobretudo, que saborear, calmamente, enquanto me preparo para o por do sol. Provavelmente será da idade, do cansaço na sua versão mais pessimista; da sabedoria na versão mais otimista, que prefiro, mas estou numa outra fase, diferente, porventu
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Como qualquer mortal pensante, estou mais ligado a algumas ideias, que expresso em palavras idênticas, e resultam de uma linha de vida que, para o bem e para o mal, vai sendo a minha. Olhares, escutas, caminhos, juntos, tempo, parecem ter lugar cativo naquilo que escrevo apenas porque têm lugar cativo no que vivo. No entanto, por vezes acontece ver, ler, ouvir, deparar-me de alguma forma com algo que escapa a esta dinâmica. Acontecimentos curtos ou esporádicos, que nada teriam para acamparem cá por dentro de são fosse uma palavra, um olhar, algo que me causasse espanto verdadeiro - o que, talvez fruto da idade, vai sendo cada vez mais difícil. Mudei de operador de tv e net e tiveram que ir uns senhores lá a casa instalar o serviço. Dois. Brasileiros. Ambos na casa dos 30 e muitos, 40  e poucos. Um deles absolutamente normal. Outro, porém , com um olhar que ainda anda por aqui: triste, sofrido, mas grato. Como estivemos juntos a manhã toda, a determinada altura conversamos um pouco
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Disse à mesa que o Jean Vanier iria ser santo rapidamente. Como é hábito quando falo nestas coisas cuja importância os meus filhos ainda não entendem, fui olhado de lado, meio no gozo, como se eu vivesse noutro mundo. Como é hábito, sorrio e deixo que a vida se instale. De há uns anos para cá - creio que depois de visitar a campa do Ir. Roger - tenho vindo a perceber como é importante termos contacto com santos. Atuais. Conhecermos a vida deles, lermos os seus escritos, contactarmos diretamente com a sua obra. Na verdade, pouco sei da sua vida concreta, mas o seu legado é uma lição de vida. Tanto o Ir. Roger como Jean Vanier são parte da nossa casa, apesar de nunca lá terem estado. Os meus filhos estão ou estiveram envolvidos com a dinâmica de vida e oração de Taizé e estão ou estiveram envolvidos na dinâmica de acolhimento do Fé e Luz. Não conhecemos os seus fundadores pessoalmente e, no entanto, pautam alguns dos momentos das nossas vidas. E isso é bom. Muto bom. Ainda que eles
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Diariamente leio muita gente, nos mais variados meios - blogues, jornais e livros são o meu meio de eleição - acompanho muita gente, converso com muita gente. Nem sempre aprendo mas fico sempre feliz quando aprendo. Sem me preocupar de onde vem o que aprendo. Muitas vezes vem de onde menos espero e recrimino-me por não o esperar, noutras vezes vem justamente de onde ou de quem eu espero e fico feliz pela confirmação. Também não sou esquisito acerca do que aprendo: aprender é aprender e faz-me sempre feliz. Nem que seja para não fazer ou não dizer ou não sentir, tudo isso é aprender e de tudo isso se faz a minha vida. Um dos muitos blogues que sigo é o da Helena Sacadura Cabral. Por vezes gosto, por vezes não gosto, por vezes passo a correr, por vezes detenho-me na leitura. Gosto particularmente da forma como fala do e com o filho Miguel, já falecido. E aprendo. E fico sempre feliz quando aprendo.
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Páscoa. Férias da Páscoa. Casa, celebrações, compras, limpezas, filhos. Ter de novo a casa cheia com a inevitável e saborosa confusão, com as inevitáveis e saborosas discussões, com a inevitável ausência de silêncio e sossego. Esse, juntamente com a serenidade, estão reservados para as caminhadas a dois e encontramos todas as noites na nossa Igreja, em comunidade, nas belíssimas celebrações que nos promovem o reencontro. A Páscoa é sempre tempo de regressos. Há já coisas que não faço a mínima ideia de como é viver sem elas. Não imagino como será viver sozinho, não imagino como será decidir sozinho o que quer que seja, não imagino como será projetar um dia tendo-me apenas como ponto de partida e chegada. Da mesma forma, não imagino como será viver sem Deus. Sem celebrar Deus. Não imagino como será Domingo sem Eucaristia, Natal sem Nascimento, Páscoa sem Ressurreição. Não são meros rituais, meros acontecimentos nos quais participamos externamente. São, todos eles, momentos de enc
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(Des)Confiar habita o muro. Sempre. Nunca se afasta dele, nunca deixa a sua sombra, nunca permite que abandone o horizonte do olhar, nunca se deixa o seu alcance, nunca se deixa de colocar migalhas no caminho, só para o caso de se ter que voltar. Rapidamente. Em esforço. A (des)confiança não nasce connosco. Vem com a consciência de nós próprios, da possibilidade da dor, da necessidade de avançar apesar da possibilidade da dor. Vem com a consciência dos outros, daqueles que contamos que nos amparem a queda ou nos reergam, sacudam o pó que engolimos, e nos impelem a avançar. A (des)confiança é irmã gémea do medo, omnipresenças de um equilíbrio que se queria permanente mas afinal periclita, abanando-nos por todos os lados. Li um destes dias que as pessoas hoje, apesar de se sentirem ligadas ao Transcendente, se desligam dos rituais. Sorri. Eu sou um homem de rituais. Gosto de fazer as mesmas coisas nas mesmas alturas do dia e, embora goste de surpresas, não é nelas que encontro