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A mostrar mensagens de junho, 2020

202006260953

Provavelmente será da idade, que sabiamente atribui peso ao que antes era leve, mas um dos grandes privilégios do meu dia de aniversário é fazer a revisitação da imensidão das pessoas que me habitam. Os parabéns que me enviam pelas diversas redes sociais têm gente dentro, têm olhos e conversas e cantorias e caminhadas e partilhas. O meu aniversário tem sido, graças a isso, um rememorial, um revisionamento daquele que tem sido o meu percurso de vida, uma vida que, como dizia tantas vezes o Padre Almiro, mais vale que seja gasta que enferrujada. Viver com quem vivo, viver como vivo, é uma Graça imensa e gratidão tem sido o sentimento que mais tenho por companhia neste dia. Isto é tanto mais curioso quando eu recordo com facilidade como eu detestava este dia. E, nisso como em tudo na minha vida, o mérito da Isabel e da filharada é decisivo. Empenha-se de uma forma ainda mais afincada para que eu me sinta verdadeiramente amado e para que sinta este dia como meu. E isso, confesso, para a

202006191915

No início da pandemia, sobretudo no início do confinamento, haviam algumas expectativas no ar. Sabia que iriam ser tempos estranhos, muito estranhos, ainda para mais quando eu estou mais habituado à correria que à quietude. A primeira semana lembrou-me o primeiro dia de um retiro que eu fiz: apesar de meio perdido porque não sabia o que me esperava e sobretudo o que esperavam de mim, aproveitei para colocar o sono em dia, as coisas em dia, o trabalho em dia, e até o jardim ficou mais em condições. Rapidamente, no entanto, percebi que iriam ser tempos exigentes. Adaptações em cima de adaptações, novas formas de fazer, novas formas de contactar com tanta gente, e, sobretudo, procurar novas soluções para conseguirmos ajudar quem precisava ainda mais da nossa ajuda. Como tudo isto cansa! Hoje de manhã estava a olhar para a minha agenda para, apesar dos imponderáveis, tentar preparar o tanto que aí vem. Como sempre acontece - com incidência especial na fase final de cada ano lectivo - estav

202006181013

Estou a poucos dias dos 54. Tem sido um longo e belo percurso. Aqui chegado, olho para trás e fico feliz, percebo que, sobretudo atendendo ao meu ponto de partida, é imenso o que alcancei. Muitíssimo mais do que alguma vez, em miúdo, sonhei ou desejei ou pensei ser possível alcançar. E isso é muito bom. E tranquilizador. Há pouco tempo falava acerca da gratidão. De como eu gosto de me sentir grato. De como eu preciso de agradecer. De como eu tenho motivos para agradecer. A tanta gente! A alguns quotidianamente, de forma evidente e veemente, várias vezes ao longo de cada dia, não desperdiçando oportunidades para o fazer. A outros de forma menos regular mas não menos sentida ou importante. Tenho a imensa graça de conviver com pessoas sábias que se preocupam, que cuidam, que me ensinam, ajudam, corrigem e me apontam metas e estabelecem desafios. São os meus motores fora de bordo sem os quais a minha vida seria uma imensa, aborrecida e improfícua calmaria. São pessoas que transvestem Deus,

202006091130

Trabalhar onde trabalho e com quem trabalho assenta-me os pés no chão. Todos os dias lido com gente boa e menos boa que habita as margens da sociedade: rica e pobre, brancos e ciganos, negros e mestiços. Já fiz voluntariado em Quelimane e por este país dentro, sempre junto de miúdos e menos miúdos, para quem "família", "carinho" e "futuro" são meras palavras com conteúdo pouco menos que duvidoso... e sofredor. Já fiz catequese numa Instituição em que, quando disse que "Deus é Pai" obtive como resposta "se for como o meu, dispenso bem". Sou um privilegiado, portanto, por ter a oportunidade de viver os meus dias com pessoas assim, que me trazem a realidade e ma metem pelos olhos dentro sem me dar sequer hipótese de olhar para o outro lado. Há já imenso tempo que me desenganei, há já muito tempo que percebi que as dores são partilhadas pelos miúdos e pelas pessoas que habitam ambas as margens e que se umas têm vícios caros para se esquecer

202006081008

Sempre que, num programa de televisão, oiço a pergunta se alguém deve um pedido de desculpas ao entrevistador, raramente oiço a resposta. Porque penso na quantidade de pessoas a quem devo um pedido de desculpas. Eu não gosto da palavra culpa e muito menos do que ela significa. Apesar da culpa que por vezes sinto. Ou se calhar por causa disso mesmo. Fiz e disse coisas profundamente infelizes, normalmente a pessoas que me eram e continuam a ser importantes. Quando olho para trás, não são poucos os momentos em que não me reconheço nas palavras, nos atos ou nos gestos, e isso causa-me vergonha. Houve um tempo, até, em que me era dificilmente olhar ao espelho por não me reconhecer na pessoas que via do outro lado. O sentimento de culpa é, por isso, em mim, algo com o que tenho que conviver no meu quotidiano. Por isso, quando oiço aquela pergunta, penso numa série de pessoas com quem gostaria de voltar a conversar, olhos nos olhos, para tentar resolver algumas coisas. Não consigo alterar o p

202006041653

Ainda andam cá por dentro os oito minutos e quarenta e seis segundos. Os últimos do George Floyd. Hoje na rádio perguntava-se porquê esses e não outros, os milhares de outros que morrem de maneira igualmente infame. Para mim a questão é simples: eu vi estes. Sim. Não será politicamente correto afirmar, mas é isso que acontece comigo. Já referi aqui várias vezes a mobilização que me encheu de orgulho na altura em que todos nós nos levantamos por Timor. Sabíamos há muito o que lá acontecia, sabíamos das mortes e do desespero e do desrespeito pela vida. Mas nós nos comovemos quando ao som das balas se juntou o som da oração do terço em bom e percetível português. E fomos a correr ver as imagens e acordamos. foi preciso ver e ouvir para que o que se passava do outro lado do mundo tivesse a ver connosco. Não andamos muito longe disto, neste caso. Vemos, comovemos, achamos inconcebível, como se lidássemos com o desconhecido. Daqui a alguns dias avançaremos para outra. Por vezes concordo com

202006041047

Ontem à noite, depois de mais uma derrota do meu FCP, coloquei uma brincadeira no Facebook. E obtive logo uma resposta de um bom amigo, a levar demasiado a sério a minha brincadeira. Respondi-lhe que era apenas uma brincadeira e que não levo o futebol demasiado a sério. Hoje vinha a conduzir e a pensar nisso. Em como, para mim, há coisas que não são mesmo para levar a sério. Os meus filhos tiveram todos atividades extra escola. Ligados ao desporto ou à música. Eu sempre as vi como excelentes oportunidades para aprenderem a desenrascarem-se sozinhos. As matérias do ensino eram para serem levadas a sério e eu e a Isabel encarregavamo-nos disso; as matérias extra-curriculares dependiam deles. Eles é que falavam com os professores e treinadores, eles é que tinham que conjugar horários, fazer sacos, planear treinos e estudos. Eu limitava-me a levá-los, esperá-los, apreciá-los e trazê-los. Jamais falei com um treinador ou professor de música - a não ser quando eles me solicitavam. Estas eram

202006021643

Liguei ao meu pai. Não é muito hábito em mim, ligar aos meus pais. Vivemos a curta distância mas passam-se meses sem nos visitarmos mutuamente. Agora, a propósito do covid, falamos mais, contactamos mais. E isso é bom. Ha uma ressintonização, uma reidentificação, um reconhecimento mútuo que a vida agora se vai encarregando de pôr no devido lugar. E isso deixa-me mais tranquilo, mais sereno, mais resolvido em todas as minhas diatribes interiores que por vezes dão horas às minhas noites. Há coisas que não me definem no quotidiano mas acabam por me definir na vida. Essa convulsão interior não me impede - a maior parte das vezes - de ser feliz nem de fazer as coisas, mas a serenidade muda a forma como as faço e sinto. É como a harmonia de uma paisagem: quando não existe eu até posso gostar do que vejo, mas quando não há caos, quando tudo se conjuga nas cores e nos espaços, desperta em mim um sentimento de gratidão pela beleza, com aquela saborosa sensação que tudo está onde devia estar. Fo