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A mostrar mensagens de maio, 2013
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Tenho saudades de Bento XVI. A sua escrita simples, exigente e inteligente, a sua determinação, a sua enganadoramente frágil aparência, a sua extraordinária lucidez que nos levava ao encontro dos temas verdadeiramente determinantes do nosso tempo, são características que admiro profundamente numa pessoa e que desejo para o "meu" Papa. Francisco é de outra estirpe. Muitíssimo diferente. Tão diferente que me arrisco a dizer que o melhor papa são estes dois papas juntos. De um lado a inteligência, do outro a acção. De um lado a serenidade devidamente alicerçada na sabedoria profunda encontrada na intercessão entre fé e razão; do outro lado o arrojo do peregrino, a voluntariedade de quem encontra o seu caminho na justa medida em que faz caminho, para quem a fé e a razão estão ao serviço da acção. É um pouco como se Paulo e Pedro fossem Papas ao mesmo tempo. E sabemos como foram ambos fundamentais no estabelecimento dos alicerces da Igreja. Naturalmente, num e noutro há
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Não é todos os dias que encontro coisas que encaixam em mim como uma luva. Começou por este post-tt (muito úteis estes post-its quotidianos que me levam muitaz vezes a refletir) e acabou neste estrondoso texto do Tolentino  http://www.snpcultura.org/a_arte_da_lentidao.html Se, por um lado, eu anseio por essa lentidão, que me ajuda a saborear a vida, por outro, desde que me conheço que não consigo deixar passar um dia sem fazer o esforço de crescer alguma coisa. Não existe, para mim, percepção de maior inutilidade que sentir que adormeço ainda menos do que acordei. Podem ser pequenas coisas, aparentemente inúteis, aparentemente sem valor algum, mas que me fazem sentir que não deitei a vida pela janela fora. Este é um equilíbrio, ou melhor, uma tentativa de malabarismo, que nem sempre consigo alcançar. A imensidão de artigos, de textos, de músicas, de filmes, que tenho guardados à espera de dias melhores, de quando eu tiver tempo, irão justamente fazer com que nunca tenha tempo, n
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Por vezes, depois de escrever qualquer coisa por aqui, recebo alguns ecos positivos. Que escrevo bem, que deveria pensar em publicar o que escrevo, se calhar um livro... Volta e meia, ao entrar para aqui, deparo-me com a estatística dos meus eventuais leitores. Passo sempre a correr, quase de olhos fechados, como em criança passava em frente do Bazar Paris, na Rua de Sá da Bandeira, para não cair na tentação de desejar o que nunca poderia vir a ter. Por várias vezes escrevi aqui que volta e meia sou acusado de ser pouco ambicioso. Sou-o, efectivamente. Gosto muito do que vou tendo, aprecio muitíssimo o que vou conquistando, passo a passo, e consigo ter espaço e tempo para saborear esses momentos, por muito curtos ou pouco importantes que pareçam aos olhos alheios. Esta valorização do pequeno não me rouba ao grande, mas, pelo contrário, creio que me vai proporcionando uma consistência que de outra forma nunca teria. Eu não quero escrever com a responsabilidade de ter que escrever
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Vai hoje a votação uma proposta de permissão de adopção para casais homossexuais. Enquanto vinha para cá, ouvia na "minha" TSF o testemunho de um homem, homossexual, cujo companheiro adotou um filho mas que não pode por o seu nome no BI como pai, nem o do seu (efectivamente) filho como filho. Estas coisas incomodam-me, no sentido em que me fazem sair da letargia em que muitas vezes me encontro em determinados assuntos para que os possa repensar, reavaliar para, eventualmente, os voltar a catalogar e arrumar no devido sítio. À partida sou contra a adoção por casais homossexuais. Aliás, tive que fazer um percurso interior para tentar compreender - e assim aceitar - a homossexualidade, que me tende ainda a parecer um desvio comportamental profundo causado por um qualquer trauma de infância. E se nesta altura a homossexualidade me vai incomodando menos, não posso deixar de me questionar interiormente o que sentiria se um dos meus filhos me dissesse que era homossexual. Pro
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Se me dissessem, há 23 anos atrás, que acordar estes anos todos ao lado da mesma pessoa seria motivo de felicidade, eu rir-me-ia. De nervoso. Que nada teria de miudinho, era graúdo, mesmo. Eu morria de medo de me casar. Sabia, como sempre soube, que o casamento seria para toda a vida, sabendo, como sempre soube, que isso de toda a vida é história. Um casamento não dura toda a vida: dura, quando muito, um dia de cada vez, um momento de cada vez, um minuto de cada vez. Apenas assim, num jogo a quatro mãos - e tendo consciência que nem sempre estão todas as mãos em simultâneo - permanente e constante, é que é possível acordar feliz ao fim de todos estes anos. Volta e meia ainda nos chamam "casal maravilha". Antes faziam-no mais, e mais às claras, mas eu devia deitar um daqueles meus olhares sempre que isso acontecia até que foi acontecendo cada vez menos. Eu detestava fazer parte do "casal maravilha". Até porque sabia que de maravilha não tinha nada. Amamo-nos m
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Hoje sei que vou ter esta foto a assaltar-me o dia. Tanto quanto percebi trata-se de duas pessoas que morreram no recente acidente de Bangladesh. Como acontece muitas vezes em muitas coisas da vida -  particularmente nas coisas do amor, qualquer que seja a forma de amar que testemunhamos - esta é uma imagem que encerra em si o mais profundo paradoxo, onde o belo e o horrível estão, à primeira vista, em pé de igualdade. Francamente, não creio que a minha morte seja a pior coisa que me pode acontecer. Nunca o considerei. Acredito que há coisas muitíssimo piores que nos podem acontecer, no topo das quais está, com toda a certeza, a morte de um filho, que todos tememos tanto que remetemos para os confins mais confins de nós próprios para conseguirmos viver. Numa primeira fase da minha vida, por causa dos imensos livros de aventuras e de guerras heróicas que li, talvez por causa até do cavaleiro da fraca figura que ainda hoje me continua a apaixonar, sempre me pareceu uma boa coisa m
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O que afere a amizade? Quais os critérios que me permitem afirmar que alguém é ou não amigo? A presença, constante ou episódica, quando preciso? O facto de me ajudar a crescer? A minha vontade de estar na presença de...? A partilha dos mesmos pontos de vista, dos mesmos ideais? A partilha de experiências fortes? A admiração e o respeito profundos pela sua personalidade? Por vezes penso que os meus amigos são aqueles que estarão disponíveis para mim sempre que eu preciso deles. É uma visão utilitarista e egoísta, que não quero crer que seja verdadeiramente definidora da amizade.  Até porque outras vezes acredito que são aqueles cujo sabor interior permanece imune ao tempo, que podemos até passar muito tempo sem nos vermos mas quando estamos juntos vivemos esse momento como se o passado cedesse o seu lugar a um eterno presente, num tempo que não tem tempo. Mas depois, no entanto, eis que conheço alguém com quem sintonizo imediatamente, descobrindo uma empatia que também é imune ao t
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A palavra latina cor (ou cordis), que significa coração, deu origem a várias palavras da nossa língua. Veja alguns exemplos: concordar é palavra formada do latim con + cordis, isto é, com coração. Quando duas pessoas concordam é porque seus corações estão juntos ou unidos. Discordar, por outro lado, é o oposto. Vem do latim dis (separar) + cordis. Quem discorda, portanto, afasta-se do coração do outro. Recordar, por sua vez, quer dizer "trazer de novo ao coração". A expressão "saber de cor" também vem diretamente do latim: saber de coração, isto é, de memória. E, por último, vamos destacar a palavra coragem, que também deriva de cor. Para os antigos romanos, o coração era a sede da coragem.  http://www.dicionarioetimologico.com.br/searchController.do?hidArtigo=5747DD9B09FCF4BC1BDF8E2BA2B8D09B Na eucaristia de ontem, o meu pároco referiu, a propósito do Evangelho, a origem etimológica da palavra recordar. E disse, naquele seu tão típico tom assertivo, que todo
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Recordo-me bem de uma discussão que tivemos, há cerca de um ano, acerca do Facebook, Twitter, Blogues e outros que tais. De como seria imprescindível, para fazer catequese, hoje em dia, utilizar estes meios de comunicação. De um lado estavam os defensores das redes sociais e do outro, em aparente oposição, aqueles que privilegiam o olhos nos olhos. Claro que as coisas não são excludentes. Não é pelo facto de eu alimentar o meu blogue ou de colocar pequenas questões no Facebook que acho que o contacto pessoal é dispensável. Será mais uma porta, mais uma janela, mais um meio de iniciar a conversa, como quem não quer a coisa, mas de forma alguma substituirá o que apenas o cruzamento dos olhares permite. Desde que comecei a minha actividade mais assídua no Centro que os pedidos de amizade no Facebook aumentaram exponencialmente. Com eles veio toda uma série de pedidos de jogos, de aplicações, de fotos, de gostos, que têm o condão de me incomodar profundamente. Ainda esta semana, enq