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A mostrar mensagens de junho, 2017
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Hoje sentamos e conversamos com um dos miúdos do ER em quem mais confiamos. Estávamos todos convencidos que este ano ele tinha feito um excelente percurso: finalmente estava bem encaminhado num curso profissional que ele tinha escolhido, muito ativo, competente e responsável como monitor, ao ponto de lhe confiarmos ocasionalmente uma das salas e, o melhor de tudo, já começava a participar e a dizer o que pensa quando a isso era solicitado. Um caso de sucesso, quase um oásis no meio do deserto. Esta semana descobrimos, no entanto, por portas travessas, que ele nos estava a mentir desde fevereiro. Tinha desistido do curso e não nos disse nada, apesar de todas as semanas lhe perguntarmos como estava a correr e ele responder que estava tudo muito bem. Perguntamos-lhe porque nos tinha escondido a verdade por tanto tempo e a resposta foi óbvia: vergonha da desilusão que sabia que nos ia provocar. Hoje, sentados, olhos nos olhos, dissemos-lhe que a desilusão não diminuiu em nada a import
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Paradoxalmente, à medida que tenho que ir vivendo mais rapidamente, vou escolhendo viver mais devagar. Uma coisa é o que tem que ser: as reuniões, as programações, as realizações do que se programou, tudo isso acontece normalmente no fio da navalha. Tudo para ontem - quando não para anteontem - num frenesim constante que, para mim, tem tanto de desgastante como de sensacional. Quem me conhece sabe que eu não percebo nada de queijinhos verdes - só entende isto quem joga Trivial - e por isso não faço ideia de aciona adrenalina ou o que quer que seja cá para dentro, mas o que é facto é que tenho alturas em que quase fico bêbado de trabalho, de tal forma mergulho e me sinto imerso e feliz com o que faço. Mas isso é o que tem que ser. Que, em parte, escolho ser enquanto profissional. Depois há a lei da compensação. O que eu escolho viver quando não estou em modo trabalho. E aí vou-me apercebendo que vou escolhendo o lado mais calmo da vida. Uma boa caminhada, uma boa conversa, uma boa pa
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Pergunto-me - pergunto-Te - muitas vezes porquê eu? Se não te terias enganado, se não estarias demasiado ocupado para olhares com atenção, se foi um descuido da Tua parte, se tinhas outras preocupações naquele dia - uma guerra, um conflito qualquer, alguém esfomeado - e estivesses a olhar para outro lado qualquer quando me senti chamado. Algumas vezes gostaria mesmo que me tivesses olhado atentamente. Que tivesses concluído que não valia a pena, que Te daria muito trabalho - que me darias muito trabalho - e que seria bem mais simples e eficaz escolheres outros. E olha que eu conheço tantos que seriam tão melhores! Algumas vezes gostaria de poder dar essa desculpa sem sentir a culpa de me e Te estar a tentar enganar: não conheço, conheço mas não ligo, não quero saber. Algumas vezes gostaria de me poder refugiar na minha pequenez, no meu nada, conseguir barrar de alguma forma essa Tua mania de me encher o peito e acelerar o sangue e sentir uma vontade incontrolável e inconsciente de s
Dois dias. Duas orações. Completamente diferentes. Como as pessoas que as prepararam. É bom quando o diálogo com Deus reflete a personalidade de cada um.
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Não me recordo de um único dia de aniversário feliz até me casar. Dado o meu espírito reservado, sonhador e solitário  - que ainda hoje se mantém, para surpresa dos que me conhecem da superfície - os meus pais sempre pensaram que eu não ligava nenhuma a isso, que era feliz com e no meu mundo e que por isso não precisava de festa de aniversário para nada. Daí até se esquecerem que eu faço anos foi um pulo - o que se mantém até hoje, a não ser que sejam convidados para a minha festa - e eu habituei-me a passar exteriormente o meu aniversário como se fosse um outro dia qualquer. Interiormente, ficava felicíssimo quando alguém se lembrava que aquele era o meu dia. Quando me casei, a Isabel fez de tudo para alterar a situação. Com alguma resistência da minha parte, confesso. Quando nasceram os filhos,a coisa ganhou um outro cariz, muito mais agradável, e agora é verdadeiramente um dia especial. E a Isabel empenha-se fortemente para que assim aconteça! Quando vim trabalhar para o CNSR,
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A dor, particularmente a dor alheia, deixa-me sempre sem palavras. Em silêncio profundo. Nada há que eu possa dizer que consiga, ainda que brevemente suavizar a dor. Esse silêncio, nessas alturas, é sempre orante. Pode ser composto de interrogações, de incredulidade, porventura até de alguma revolta, mas é sempre dialogante com o meu Deus. que é o único interlocutor que me poderá ajudar a descobrir, eventualmente, algum sentido para o que, aos meus olhos, é completamente desprovido de sentido.
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Ainda ontem comentava, a propósito do que dissera um amigo, que me vou apercebendo da tendência de falarmos sobre aquilo que nos é mais importante. A pessoa em causa é um tanto ou quanto intempestiva na sua abordagem aos outros. Como tenho tido o privilégio de trabalhar com ele mais intensivamente em vários projetos, tenho-me vindo a aperceber da sua necessidade de, nos seus momentos formativos, apelar ao cuidado que devemos ter na forma como lidamos com as pessoas que fazem parte do nosso quotidiano. Não o conhecesse como conheço e pensaria que ele faria um exercício de hipocrisia ao aconselhar aquilo de que ele próprio mais necessita. Mas na realidade eu sei que ele refere justamente aquilo que é mais importante para si próprio, e que ele sabe que não consegue alcançar com facilidade. Ainda esta semana, enquanto o escutava, constatava que eu próprio faço isso com muita facilidade. Alguns dos conselhos que vou dando ser-me-iam muito úteis se eu me escutasse devidamente quando os d
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Disseram-me, recentemente, que não sei ser amado. Provavelmente, será uma das minhas maiores verdades. O normal em mim é sentir-me mais vezes resgatado que amado. Mesmo nas maiores de amor que as pessoas na minha vida me vão proporcionando, o que fica, quase sempre, é gratidão. Por me irem buscar ao fundo do poço, por me fazerem voltar a ver a luz, por impedirem de permanecer na escuridão. Ontem, numa das minhas bocas de mim próprio mais comummente utilizadas, disse que era um rafeiro. De imediato me assaltaram memórias de conversas de cães e de personalidades e de desmontagens e desmistificações que me acompanharam quase a vida toda. Não sei se alguma vez conseguirei resolver essa amálgama de memórias, de convicções, de fantasias, de discursos interiores que eu constantemente invento para conseguir encaixar em qualquer coisa. Mesmo nos meus momentos de serenidade interior, esse discurso dificilmente dura mais que quinze dias e lá tenho eu que voltar ao princípio, aos questionament
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Ainda acho incrível quando descubro - e carrego comigo esta ifantilidade de descobrir a mesma coisa como se fosse sempre a primeira vez - que algumas das pseudosabedorias que deito pela boca fora me seriam preciosas se tivesse a clarividência de as aplicar em mim próprio. É como se eu primasse por dar aos outros os conselhos de que mais preciso... e aos quais permaneço surdo. Aquela gasta máxima de olha para o que eu digo não olhes para o que eu faço aplica-se a mim como uma luva. Como se o que sai de mim, dito ou escrito, saísse verdadeiramente de outra pessoa que não eu. Um alter ego, ou um grilinho falante que me soprasse as coisas ao ouvido. Não me orgulho nada desta permanente incongruência, que me trouxe desde sempre mais problemas que soluções. A autenticidade do que vou sendo em cada um desses contraditórios momentos serve-me de fraco consolo, na realidade. O que sou, apenas me serve se o for também para os outros, e isso quase sempre é uma tarefa que não consigo desempenh
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Eu sou católico. Não quero nem saber se sou um bom ou mau católico, na medida em que essas são formas de avaliar quem é mais ou menos, e eu acredito que na Igreja em que vivo e acredito esse tipo de avaliação ou julgamento não deve ter lugar. Eu sou católico. Não nasci uma família católica mas a vida encarregou-se de me dar a Igreja a descobrir e a possibilidade de a escolher. Poderia ter escolhido apenas Jesus - e não seria em nada menos por isso - poderia ter escolhido qualquer forma de protestantismo mas, depois de estudar as várias opções, escolhi a Igreja Católica como família à qual gostaria de pertencer. E pertenço! Não sei se sou um bom católico. Como referi, não me interessa grande coisa. Assim como não me interessa se qualquer pessoa é ou não boa católica. Ou boa cristã. Ou boa muçulmana. Ou boa ateia. Quanto muito, interessa-me se é boa pessoa. Nunca esquecendo no entanto que todos nós temos os nossos momentos, bons e maus, e as nossas fases, boas e más, e a nossa vida
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É antiguinha, a foto. Mas podia não ser. Seria exatamente a mesma coisa. Até poderia ser uma foto de bebés, que não mudaria nada. Ainda há pouco tempo disse à minha mais velha, que é já autónoma, já vive fora de casa - mas nunca fora de nós - que, ainda que tenha 90 anos, será sempre minha filha. No entanto, não são bebés, os filhos que tenho. São pessoas. De corpo inteiro. Adultos. Com uma extraordinária capacidade de pensar e decidir e fazer escolhas e partilhar e defender as escolhas que fizeram. Não sei se será por terem sido habituados, desde pequenos, a pensar e a escolher. Não sei se será por termos privilegiado o que privilegiamos na sua formação: a educação, a consciência, a pertença, a abertura aos outros, o transcendente. Naturalmente, não gostamos de todas as suas decisões, de todas as suas escolhas, de todas as suas atitudes. Naturalmente, continuamos a discutir, abertamente, o que somos e o que fazemos. E a dizer quando não gostamos. E a aceitar quando não gostamos. E