Creio que ninguém me consegue fazer desejar recolher como Damien Rice.
Tem tudo a ver com inverno, com chuva miudinha, com uma boa conversa, uma lareira acesa, e o suave crepitar da madeira, e o suave o incenso que liberta, uma boa garrafa de vinho, uns cobertores e tempo, muito tempo, para que a conversa possa ser devidamente saboreada, degustada, como se de um bom Porto se tratasse.
Tem tudo a ver com regressar a casa, à nossa casa, onde nos sentimos aconchegados e eternos, protegidos de tudo aquilo que nos assalta a alma e perturba os dias. Uma casa que nada tem a ver com paredes e janelas e muros mas onde tudo são recantos, nossos, que falam a nossa linguagem, sussurrada, suspirada, transpirada por tudo o que vivemos e trocamos e conversamos uma e outra vez com o mesmo gozo e a mesma surpresa da primeira vez, porque para quem se ama como nos amamos qualquer vez é a primeira vez.
Tem tudo a ver com a noite, com o escuro da noite, aqui e ali apenas entrecortado com a luz refletida de uma lua que recorda, silenciosa, distante, o testemunho doutras paragens, muito mais distantes do corpo que da alma, que essa por vezes continua lá, autonomamente, (in)conscienciosamente, à espera que ambos se reencontrem e voltem a experimentar a liberdade que apenas a (in)consciência permite experimentar.
Tem tudo a ver com saudade, ser sermos quem somos, de voltarmos a ser quem éramos e de desejar sermos muito mais do que então poderíamos sequer imaginar. Uma saudade feita, por isso, de memórias e de desejos, de anseios e sonhos, de vontades não confirmadas mas sempre, sempre, desejadas.
Creio que ninguém me consegue fazer desejar recolher como Damien Rice. Tem tudo a ver connosco!
 

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