No ano passado, por volta desta altura, já andava pelas pontas. Corria de um lado para o outro como um desalmado, cansado, esgotado por fazer tudo em cima do joelho, saltando de umas coisas para as outras, sem qualquer tempo de preparação ou oportunidade de as saborear. Este ano uma circunstância mudou e a minha sensação de vida mudou com ela. Deixei de ter a obrigatoriedade de começar o meu dia logo de manhã bem cedo e isso dá-me uma outra qualidade de vida. Incomparável! Na realidade, não trabalho menos do que fazia antes. Continuo a sair de casa bem antes das oito e a chegar por volta das oito. Continuo a ter, num dia normal, cerca de dez horas de trabalho intenso, e quando o dia não é normal é porque trabalho ainda mais horas. Isto com algumas semanas de seis dias, deixando-me apenas o domingo para o dolce fare niente. E no entanto, há já algum tempo que não saboreava a vida desta forma!
Ontem almoçamos rápido e aproveitamos o calor à beira mar, num dos meus lugares preferidos, na Foz. Não estivemos lá muito tempo - pouco mais de meia hora - mas foi o suficiente para uma data de coisas. Interrompemos a correria do quotidiano, aproveitamos o sol, mergulhamos no barulho do mar e, claro, aproveitamos para colocar a vida em dia, conversando sobre coisa nenhuma.
Estas alterações de registo, apesar de imperativamente curtas, têm tido o condão de dar outro sabor aos meus dias. Poder começar um dia de trabalho caminhando à beira mar, com uma doce conversa ou completamente sozinho - mas nunca só - é um privilégio que antes não conseguia ter. E que muda - e de que maneira! - a forma como vivo os meus dias. Redescobri o prazer de fazer os meus peripatéticos encontros com Deus e com aqueles que me fazem companhia, presencial ou não, nas minhas cainhadas matinais.
Efetivamente sou um privilegiado!

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