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A mostrar mensagens de setembro, 2014
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Volta e meia, quando nada o faz suspeitar, vem o já habitual banho de água fria. Normalmente reajo bem, consigo olhar para além de, sacudo a água e preparo-me para  o que aí vem. É nas alturas em que estou mais descontraído, mais confiante, menos atento, que estes baldes mais me custam a encaixar. E o baque tem custos. Refugio-me em mim, fecho-me, não partilho, até descobrir como hei de encarar o futuro com aquela alteração das circunstâncias. Calculo que serão estes os momentos mais difíceis para quem vive comigo. Não é uma questão de falta de confiança, ou falta de amor, ou qualquer coisa deste género. É mesmo uma tremenda dificuldade em dividir o que é menos bom,  ver nos olhos que me são importantes qualquer tipo de dor infligida por mim, e ter a terrível sensação que sou um peso. Partilho com muita facilidade a alegria e os momentos bons. Não sei, aliás, vivê-los sem os gritar em plenos pulmões, sem tentar contagiar os que me rodeiam. É algo que encontra o seu paralelo no qu
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Não há muito que eu possa dar aos meus filhos. Mas também, em abono da verdade, não há muito mais que eu queira dar aos meus filhos. Dinheiro não pode ser, que esta coisa de ter cinco filhos e uma aposta fortíssima na educação suga-nos quase tudo. O que sobra vai para a alimentação, que nunca faltou. Depois, pouco fica, e é gerido com pinças. Ter despesas não programadas é um luxo que não temos há muitos, muitos anos. E não é grave. Houve um período, curto, durante o qual tive mais dinheiro que disponibilidade e fui uma péssima pessoa e, pior, um péssimo pai. Uma experiência a não repetir. Por isso o que eu posso dar aos meus filhos é o que tenho: a atenção, a disponibilidade, a brincadeira e a chamada de atenção sempre que o justificam. O estar é muito importante. Estar presente, estar disponível, estar atento, conhecê-los profundamente e não tomar nada como certo ou definitivo. Nem são sempre tão bons como quando se portam bem nem são sempre tão maus como quando se portam mal. Ah.
Contrariamente ao que é comum pensar-se, a esmagadora maioria das pessoas deste país não sente o ano novo no primeiro dia de Janeiro de cada ano. Festejámo-lo todos, nessa meia noite, com mais ou menos sono, com mais ou menos champanhe, com mais ou menos amigos, desejamo-nos mutualmente coisas boas para o tempo que aí vem, mas nas verdade, dois dias depois, tudo passou e voltamos à rotina habitual como se nada de especial tivesse acontecido. Mas em Setembro não é bem assim. E nem sequer precisamos de ter filhos ou netos ou crianças na família. A não ser que vivamos barricados nas nossas casas sem qualquer comunicação com o exterior, sentimos que por volta de meados de Setembro a vida efetivamente muda. Radicalmente! Muito mais trânsito, transportes públicos mais cheios, enorme barulho e confusão junto às escolas, minis, súperes e hipermercados a abarrotar de pais e filhos com listas de pastas e cadernos e canetas e tudo o que os meninos precisam e não precisam para o novo ano (este
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"Expliquem-me como se tivesse cinco anos, porque ninguém sabe nada enquanto não tem que o explicar a uma criança de cinco anos." A determinada altura, digo sempre isto em todos os meus DR. É um clássico, que alguns alunos já repetem ao mesmo tempo que eu. Não é da boca para fora. Acredito mesmo nisto. Acredito mesmo que tendemos a complicar as coisas simples e que, volta e meia, temos que regressar, temos que trocar em miúdos aquilo que julgamos que sabemos, aquilo que julgamos que sentimos, e perguntarmo-nos se será mesmo assim. Eu, então, que gosto tanto das ias (as filos e as psicos) tendo mesmo a ligar o complicómetro e a deixar-me enredar nas múltiplas questões que me vão assaltando. Quando consigo deitar a mão a um catecismo dos primeiros anos raramente deixo a oportunidade de fazer um upgrade. Pego nele, leio-o rapidamente, e volto a centrar-me no essencial. Porque o essencial é justamente aquilo que eles descobrem nessa altura e depois nós limitamo-nos a acresc
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Há muito que deixei de tentar que os outros entendessem a minha forma de amar. É daquelas coisas. De fora, por muito que olhem, por muito que tentem ver, por muito que eu tente explicar, por muito boa vontade que haja - e nem sempre há - não conseguem entender. Por vezes, nem mesmo aqueles a quem amo o entendem, quanto mais os outros! Eu percebo. A linguagem do amor apenas é entendível por dentro. E nem sempre! Esta semana festejamos o primeiro aniversário do ER. A confusão da festa não era nada de especial para nós, habituados que estamos àquela imensa energia e excitação, até porque se conciliava a festa com o primeiro dia, com o calor, com os convidados especiais. Mas a cara assustada destes, os olhares de pena que volta e meia nos lançavam e o seu olhar geral de pânico, dizia-nos bastante. Eles não sabem como são os miúdos, não os conhecem, não estão lá senão de passagem e por isso não entendem como é possível encontrar neles outra coisa que não seja a algazarra e os gritos e
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Gosto de pensar que sou atento. Que gosto de acompanhar, de ver os pormenores, de testemunhar o que a vida vai fazendo aos que comigo vão percorrendo a vida. Gosto de me colocar num canto e ir observando, atentamente, os mais pequenos gestos, os esgares mais discretos, aqueles momentos, que todos temos, que revelam o que, cuidadosamente, se tenta esconder. Quando era responsável pelo Clube de Leitura fiz este exercício com os miúdos. Fomos à exposição do livro e pedi-lhes apenas para observarem que lá estava. Como olhavam para os livros, para que livros olhavam, como pegavam neles e os desfolhavam tentando descobrir o que ia no seu interior, e depois se os compravam ou não. Descobrimos tanto quando fazemos estas coisas! No entanto, apesar de por vezes, erradamente, pensar que conheço bem quem tenho à minha frente, ainda me espanto com a descoberta. Quando fui a Taizé com a minha filha mais velha descobri nela alguém perfeitamente desconhecido: dinâmica, voluntariosa, apta a correr
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Foi muito isto, o que fomos conversando enquanto os nossos pés galgavam metros. Os nossos pés, sim, que a nossa alma, a determinada altura, não estava já bem ali mas algures, onde aprendemos - experienciando! como é essa coisa de ser feliz. E esta era uma casa para a qual não entrávamos sem convite há já algum tempo. Quando duas pessoas se encontram, na intimidade mais profunda do que cada uma é, deixa-se de pedir licença. Entramos, descalçamo-mos, pomo-nos à vontade, instalamo-nos o mais confortavelmente possível, e desatamos a conversar de coisa nenhuma. O que trocamos não são as informações de circunstância, mas o "como é que estás" ou o "o que é feito de ti" exige mais, muito mais, que uma mera resposta circunstancial. Entre quem se ama não existe a conversa de chacha. Existe falar de coisa nenhuma, daquilo que nos vem à cabeça sem a preocupação de se filtrar, de escolher as palavras, porque sabemos que estamos em segurança e podemos dizer o maior dos dispar
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Dizia-me alguém que não me conhece muito bem, ontem, a propósito de algo que tenho feito, que é preciso amar muito para o fazer. Eu devo ter posto a minha cara de parvo porque a pessoa em questão sentiu logo necessidade de trocar aquilo por miúdos. Nada que me aconteça algumas vezes. Como quando me dizem que deve ser muito difícil ter muitos filhos. Há coisas nas quais nunca penso. Deixo que fluam, que aconteçam, deixo-me levar ou pelo impulso, ou pelas batidas aceleradas, ou pela loucura - pode muito ser uma brisa do mar - e atiro-me de cabeça. Para muitos isto é uma estupidez pegada. Como posso embarcar numa coisa sem pesar riscos em consequências? E eu, quando me dizem isso, concordo sempre. A frio. Porque pouco depois, no calor da coisa, deixo-me novamente embalar com um sorriso nos lábios e o coração apertadinho. Cheio de pica, cheio de vontade, cheio de alegria por poder participar ou fazer alguma coisa que realmente valha a pena. Ainda agora, no Caminho, enquanto percorria os
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Há reencontros que não têm razão de ser, porque nunca o foram. Porque há pessoas que nunca deixamos, que nunca nos permitem saber o que é ser deixado, e por isso nos habitam e deixam que habitemos nelas. É algo que raramente acontece e que dá a sensação que se deve a uma qualquer confluência cósmica que permite que esse inusitado encontro se dê no mais íntimo de duas pessoas que apenas aparentemente não têm nada em comum. Assim uma coisa como o alinhamento dos astros ou um luar que apenas pode ser testemunhado - e revivido ad eternum! - a dois num qualquer terraço. Ás tantas descobre-se uma linguagem própria feita de olhares e silêncios e cumplicidades e sintonias quase perfeitas, feitos numa existência paralela para a qual tudo o resto é paisagem e nada mais importa. Recordo muitas vezes estas sintonias mais-que-perfeitas que, raras vezes, vão acontecendo na minha vida. Costumam ser fugazes, encerradas num tempo e circunstâncias próprias: uma música especial aliada a uma descober
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Hoje, em plena discussão, como que apaguei. Desliguei. Fui. Às tantas, não ouvia tanto a pessoa com quem discutia, nem o que era discutido, mas apenas pensava o futuro. Não podemos viver agarrados ao passado. Eu, que gosto tanto de história, que me assusto com esta tendência atual de se hipervalorizar a técnica à custa da memória, tenho do passado uma leitura funcional. Saber quem fomos em cada altura, o que fizemos e porque o fizemos, é fundamental para prepararmos o futuro, não para viver em eterna saudade. Agarrar-me às dores de ser magoado apenas se entende enquanto processo de defesa pessoal, num instinto que terá que ser ultrapassado logo que passe o perigo. Doutra forma viveremos sempre assustados, recalcados e amargos. Numa qualquer relação - amorosa, profissional, de amizade - o passado servirá apenas enquanto projeção do futuro, para ajuste de expectativas que, com sorte, serão sempre ultrapassadas. Quando o utilizamos como condicionante desse futuro, não estamos a ser j