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A mostrar mensagens de agosto, 2015
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Já foi há uma data de anos que vim de Moçambique. Mas parece que foi ontem. Quer pela proximidade, ainda que à distância, que sinto com quem lá esteve comigo, quer pelos suspiros de saudade sempre que vejo fotos, filmes ou documentários de África, parece que foi ontem. Porque foi marcante. Realmente marcante. Um dia destes, quando discutíamos esta loucura dos migrantes, eu falava no que vira em Quelimane. Para nós, instalados, confortavelmente instalados, parece loucura que tantas pessoas corram tantos riscos para viver naquilo que de nos queixamos constantemente. Como podem elas ver o El Dorado num clima de austeridade, de desemprego, de precariedade? Como é possível que arrisquem tanto para depois viverem nas ruas ou em vãos de escada sem condições de dignidade nenhumas, com condições de vida piores que as da maioria dos nossos animais domésticos? Retenho ainda, demasiadas vezes, as cabanas de alguns deles em Quelimane, os esgotos a céu aberto junto às fontes de água, as lutas
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Recomeçarei hoje a minha rotina. Parcialmente, apenas, mas já é muito bom. Estou mesmo a precisar! Curiosamente, tenho pensado na minha reforma. Deve ser de não ter nada de especial para fazer, a não ser inventar coisas para fruir deste tempo de dolce fare niente. Não há correrias, não há programações, não há agenda cheia de coisas para ontem... Nunca me dei muito bem assim. Aliás, estou de férias vai par um mês, o que é francamente demasiado para os meus gostos. E a questão coloca-se: e se fosse a minha reforma? E se não fossem apenas férias, mas a reforma? Como seria eu? Como serei eu quando já não tiver nada para fazer? Nunca deixei que o meu trabalho fosse mais que apenas um trabalho. Nunca permiti que aquilo que eu faço me definisse. Jogava à cautela, claro, porque conheço os meus limites e sempre soube que dali não viria grande coisa. Mesmo agora, em que trabalho e prazer se misturam de forma quase constante, preocupo-me em não me levar demasiado a sério naquilo que faço,
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Regressei há pouco de Paris. Adorei. Surpreendentemente! Nunca tido Paris como um destino desejável, mas, por altura das nossas bodas de prata, os nossos filhos entenderam que Paris era um bom lugar para recuperarmos forças. E sintonias. Sábios, os meus filhos. Com toda a lata do mundo, conseguiram contactar com os nossos amigos e angariar, junto deles, o dinheiro que eles não tinham. Paris é imenso! Em Paris, tudo é imenso! Os edifícios, os jardins, as avenidas, os museus, a organização do tráfego, tudo. Foram quatro dias excelentes pelo que vimos, pelo que namoramos, pelo que conversamos, pelo tempo que tivemos, juntos, para fazer tudo isso. Sem interrupções, sem preocupações, sem nada que nos atrapalhasse o gozo da mútua companhia. Hoje fui caminhar. Junto ao rio. Na minha cidade. E nenhum outro lugar substituiu o enorme gozo que sinto sempre que caminho na minha cidade. Paris pode ser lindíssima e imponente e ultra cultural, mas caminhar no meu Porto, no meio das minha
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Acabei de ver um filme que, creio, será daquele que terei ainda bem presentes daqui a uns anos. Chama-se Le Week-End - ai as maravilhas do Popcorn time! - e retrata um casal que comemora o seu 30º aniversário de casamento em Paris. Se há coisa que me assusta verdadeiramente é a eventualidade de poder chegar ao fim da vida e chegar à conclusão que tudo foi em vão. O que não é nada difícil de acontecer! Demasiadas vezes deixamos que a vida se nos escape por entre os dedos, em nome não sabemos bem de quê, e permitimos que os dias se sucedam aos dias se que nada de relevante façamos acontecer debaixo do céu. Se calhar é por isso que me questiono tanto e tantas vezes, acerca de tudo e de (quase) todos, e se calhar é por isso que me sinto sempre à procura do sentido e do motivo e das razões que, a cada momento, me levam a sentir o que vou sentindo, me levam a fazer o que vou fazendo. Não é já um questionamento desenraizado, desenfreado, sem qualquer noção dos limites e pronto a revolver
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Fui matar saudades. Sozinho, como por vezes gosto, apenas com o mar e o sol e o som do mar e das gaivotas a acompanhar. Perfeitamente alheio à multidão que, por esta altura, descobre que caminhar e correr e deitar à beira mar é bom. Perfeitamente alheio a todos quantos por mim passavam, completamente mergulhado nas minhas boas memórias de pensamentos e conversas e partilhas feitas ao longo daquele lugar. O meu ritmo era o que sempre foi, ao longo do ano. Calmo, saboreando, apreciando, deixando que a cabeça andasse lá por cima enquanto o corpo desliza cá por baixo. Tenho feito uma série de propósitos. Que sei que provavelmente darão em coisa nenhuma, como me é tão natural. Um deles é substituir a caminhada matinal pelo ginásio, logo de manhã. Não me cheira que vá acontecer. Ainda hoje, enquanto caminhava, confirmava a falta que me fazia aquele momento para que eu possa focar no que é realmente importante. Ainda hoje voltei a sintonizar, voltei a recordar, voltei a sentir aquele pra
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Volta e meia sinto uma saudade imensa. Estúpida. Sufocante. Estúpida porque não se refere a algo que eu já tenha vivido e por isso recorde, mas porque se refere a algo que ainda não vivi, ou melhor, é uma saudade de algo que não chegarei nunca a viver. Nem sequer são saudades do futuro, porque esse nunca chegará, mas das hipóteses de futuro que, à medida que o tempo vai passando, à medida em que eu, nesse tempo que passa, vou fazendo as minhas escolhas, vão sendo cada vez menos escolhas, vão sendo cada vez mais memórias de sonhos... que nunca chegarão a memórias de vidas. Ainda é mais estúpido porque a vida e os que me rodeiam têm-me proporcionado a verdadeira bênção de poder fazer, a cada momento, as melhores escolhas. Neste tempo de paragem - as férias são sempre alturas difíceis para mim - talvez até por ser o meu 50º ano de vida, tem-se propiciado fazer uma série de balanços. E eu adoro a minha vida. Os últimos dez anos, então, têm-me dado a conhecer horizontes que sempre acr