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A mostrar mensagens de agosto, 2020

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Recordo uma deliciosa conversa de muitos anos: eu, um padre e um amigo então ligado à comunicação social. Eu, na altura como sempre à procura de segurança, perguntei se não seria melhor termos orgãos de comunicação social confessadamente católicos. Dessa forma, argumentava eu, saberíamos exactamente em que acreditar. O padre encolheu os ombros e o meu amigo, então ligado à comunicação social, disse logo que não, que o melhor era que os católicos que trabalham na comunicação social fossem verdadeiros e dessa forma tudo seria melhor. Serviu-me de exemplo e desde então tomo essa maneira de fazer como boa para tudo: é-se testemunho no que fazemos qualquer que seja o lugar, altura ou disposição. Ontem lembrei-me desta conversa quando vi que um partido que eu desconhecia mas se intitula democrata cristão se vai aliar ao Chega. Incomodou-me, claro. Não tem tanto a ver com o Chega - mas tem um bocado, confesso - mas com a audácia de um partido se auto-intitular democrata cristão. Eu entendo qu

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Penso em demasia. Sempre. Desde sempre. Tempos houve em que isso era uma bênção. Noutros, uma maldição. Agora, como outras realidades em mim, tento aceitar tal como são para as poder trabalhar. Vem isto a propósito da oração da manhã de hoje, que a dado momento pergunta se obedeço à minha consciência, não a traindo para agradar aos amigos. Comecei logo a divagar: o que forma a minha consciência? É algo que vem comigo, que nasce de dentro, ou que vem de fora, do que vejo e escuto? E o que vem de dentro é sempre mais importante que o que vem de fora? E sou melhor quando escuto o que vem de fora ou o que vem de dentro? A qual das duas vozes - entre tantas outra que me habitam - devo obedecer? Sendo assim, não é demasiado simplista dizer-me que devo obedecer à minha consciência?  Admiro muito os corações simples, os que pouco questionam, os que são suficientemente seguros de si para não sentirem esta necessidade de se questionarem. Muitas vezes quis eu próprio ser assim, com as certezas da

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Aprendo muitíssimo com a interioridade. Não é apenas em termos de reflexão, ou serenidade momentânea enquanto a pratico, mas na vida, nas escolhas que vou fazendo ou na forma como vou escolhendo. Talvez a coisa mais importante que aprendi foi a chamar a mim o que me rodeia. Antes de a conhecer e de a praticar, tinha a ideia que precisava de tirar o mundo de mim para que me pudesse encontrar. Cedo aprendi, no entanto, que o primeiro passo para um bom recolhimento é fazer o movimento oposto, é chamar a mim o que me rodeia para que me possa habitar. Um movimento simples, que acontece logo no início, é justamente escutar atentamente e assimilar, incorporar, o que se escuta. Apenas assim, tornando-o meu, o som que escuto pode ser reorganizado. Este gesto, este movimento, não me afasta do mundo mas coloca o mundo em mim.