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A mostrar mensagens de agosto, 2014
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Numa qualquer relação, ter o eu como ponto de partida, é errado. A não ser que sirva para me colocar em questão. Qualquer outra maneira é o caminho mais curto para a desgraça. Hoje acordei centrado em mim. Durante mais de uma hora andei-me às voltas e aos tropeções comigo mesmo. É incrível como não consigo sair do sítio quando isso me acontece. O mesmo pensamento, o mesmo raciocínio, a mesma linha de reflexão, tenta abrir caminho em mim até fazer sentido, mesmo que raramente o consiga. É um raciocínio pobre, fechado, limitativo, autorreferencial, mas incrivelmente poderoso, ditatorial: eu penso aquilo, eu sinto aquilo, eu baseio-me naquilo, e dali não saio. Invariavelmente, fico convencido que tenho toda a razão do mundo, que tudo e todos estão contra mim e sinto-me incompreendido e injustiçado e profundamente infeliz. Hoje acordei assim. E depois levantei-me, fui buscar o pão - como faço sempre ao Domingo - preparei o pequeno almoço, acordei-os, sentamo-nos à mesa, e tudo pas
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Lentamente, muito lentamente, vou-me arrumando por dentro. Revisito os cantos, limpo o pó, levanto os tapetes, limpo o pó, olho as molduras, levanto o pó, reparo nas manchas dos vidros, limpo o pó. Sempre foi uma das minhas tarefas preferidas no Centro de Recursos: mal me apanhava sozinho, tirava todos os livros das prateleiras e, lentamente, com o tempo do meu lado, ia revisitando-os, limpando-os, folheando algumas das suas páginas, refazendo juras de amor eterno e prometendo, mais uma vez, que os iria levar comigo para os ler, o que acabava, invariavelmente, por não acontecer. Sempre que alguém entrava pelo CR dentro arrepiava-se e tinha pena de mim. Via aqueles livros em cima da mesa e calculava o enorme sacrifício que eu fazia, sozinho, a limpar e a arrumar aquilo tudo. Eu sorria, como sorrio sempre, e furtava-me a explicações, como me furto sempre. Não sabiam que aquilo que eu fazia com os meus livros - sim, eram os meus livros - faço sempre que posso com a minha vida. E adoro!