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A mostrar mensagens de dezembro, 2013
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"Só o silêncio do rebentamento das ondas quebra o silêncio da espera." Podia ser uma daquelas frases bonitas que por esta alturas aparecem em inúmeros power points que todos os dias recebo alusivos ao Advento. Podia ser uma das belíssimas orações da manhã da Renascença com que tento começar os meus dias. Infelizmente, não é nada disso. É o título da notícia dos familiares que desesperam pelo aparecimento dos seus na praia do Meco. Não consigo imaginar um desespero maior que aquele que aguarda que o corpo de um filho dê à costa. Não consigo imaginar como é possível viver depois disso, como as noites são imensas noites, como os dias deixam de ser dias. Não consigo imaginar a dor superior a qualquer outra dor que é perder um filho, qualquer que seja a circunstância em que isso acontece. Silêncio e o barulho do mar. Duas situações que normalmente procuro quando preciso de me reencontrar, de me recolocar perante a vida. Duas situações que são o meu caminho seguro para encon
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Hoje, o Gusto faria anos. Faria já não faz, porque morreu há pouco tempo sozinho, no hospital. Na altura as minhas filhas souberam que ele estava no hospital com prognóstico muito reservado: a vida que escolhera levar rebentara-o todo por dentro. E ele sabia-o. Dissera-mo há alguns anos quando, numa das minhas idas aos sem abrigo, estivéramos juntos na estação de S. Bento. Eu sempre gostei dele, ele sempre gostou de mim e dos meus, e no entanto, apesar da insistência delas, não consegui ir vê-lo ao hospital. Por falta de tempo, dizia eu para mim e para os outros, sabendo no entanto que, se quisesse mesmo ir, tempo era o que não me faltava. Neste tempo do Advento tenho andado com a mochila na cabeça. O que carrego eu, todos os dias, na minha mochila? Para que é que reservo eu espaço na minha vida? Que coisas são apenas coisas, são apenas imensos nadas, que servem para rigorosamente nada, que servem apenas para me atrapalhar o passo e me darem a sensação de vida importante, ocupada,
“Não podemos ignorar que, nas cidades, facilmente se desenvolve o tráfico de drogas e de pessoas, o abuso e a exploração de menores, o abandono de idosos e doentes, várias formas de corrupção e crime. Ao mesmo tempo, o que poderia ser um precioso espaço de encontro e solidariedade, transforma-se muitas vezes num lugar de retraimento e desconfiança mútua. As casas e os bairros constroem-se mais para isolar e proteger do que para unir e integrar.   (…) O sentido unitário e completo da vida humana proposto pelo Evangelho é o melhor remédio para os males urbanos, embora devamos reparar que um programa e um estilo uniformes e rígidos de evangelização não são adequados para esta realidade. Mas viver a fundo a realidade humana e inserir-se no coração dos desafios como fermento de testemunho, em qualquer cultura, em qualquer cidade, melhora o cristão e fecunda a cidade.” Evangelli Gaudium, 75   Nunca é fácil falar ou escrever do que nos mexe cá por dentro. E o Espaço RAIZ mexe cá
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Quando, no âmbito de um trabalho para faculdade, me perguntou como me preparara para o Caminho, respondi que normalmente não me preparo: meto meia dúzia de coisas na mochila e deixo-me ir. Se a pergunta tivesse sido feita em relação a Taizé, a resposta teria sido idêntica. Nunca me preparo a sério para essas coisas: encho a mochila com o mínimo e abandono-me nos braços de quem me ama. Este despojamento, que tanto bem me faz, não acontece, contudo, no meu quotidiano. Aí tenho sempre a sensação que tenho que pensar em tudo, que preparar tudo, que organizar tudo, por forma a não desapontar aqueles que contam comigo. E a cabeça vai enchendo, a vida vai enchendo, e nem a almofada serve de consolo porque é justamente quando pouso a cabeça na almofada que os acontecimentos passados e futuros me assaltam e perturbam o sono. Em vão, claro. Porque, por muito que me avie em terra, o mar alto é imprevisível e escapa com facilidade aos meus anseios e desígnios. Há, nos tempos litúrgicos que