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A mostrar mensagens de dezembro, 2011
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Nem todos os anos acontece, mas hoje dei comigo a fazer um balanço do ano que agora termina. E aconteceram muitas coisas, este ano. Regressei a Taizé (o meu paraíso na terra) depois de dois longos anos de interregno; fomos todos à Irlanda, numa daquelas viagens familiares que daqui a alguns anos se recordarão com enorme saudade; cumpri o sonho de ir a Santiago de Compostela a pé numa peregrinação memorável tanto pela experiência do encontro como pela excelente companhia; fui a Moçambique com (perdoem-me os outros) o melhor grupo de sempre, o que constituiu uma experiência de missão e de vida absolutamente irrepetível; e, last but not least, ganhei em definitivo uma nova filha com a vinda da Rita cá para casa. Graças a Deus! Todas estas viagens, todas estas experiências deixaram marcas. Profundas. De todas elas retenho fundamentalmente olhares e sorrisos e lágrimas e conversas e orações e silêncios e partilhas e cânticos e noites de luar e frio de rachar e calor de morrer e cheir
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“ No matter what anybody tells you, words and ideas can change the world. ” É o filme da minha vida. Sem dúvida. Não porque tenha uma história excecional, ou porque tenha atores excecionais. Apenas mudou a forma como me comecei a ver a mim próprio e, sobretudo, porque me disse como eu próprio poderia ser. Apercebi-me que poderia soltar amarras e que há um caminho para além do socialmente aceitável, que se pode ser respeitado como educador prescindindo das formalidades e da distância afetiva que muitos educadores acham essencial. O "respeitinho" é ainda muito bonito para muita gente.  Ontem fui com um dos meus filhos (o mais velho dos rapazes) ao Shopping. Enquanto andávamos lá vimos aquela que é uma das nossas melhores amigas. Tem a idade dele mas é uma das pessoas que mais admiro, que mais me ensina pela sua postura, pela sua doçura e pela sua tenacidade. Este ano fomos juntos a Moçambique e um mês de convivência diária apenas reforçou a admiração, que até sin
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Não cresci propriamente sem eira em beira. Ou sem raízes. Mas às vezes penso que não andei longe disso. Não tenho memória de alguma vez me terem sido pedidas responsabilidades quando era miúdo, de me terem dado na cabeça ou de ter cometido asneira da grossa. A imagem que me ficou desse tempo foi a de constantes mudanças até aos 9, 10 anos com a consequente necessidade adaptação - sempre dificultada pela gaguez - e, sobretudo, de uma enorme solidão. Quando olho para trás é fundamentalmente isso que consigo ver: uma enorme solidão. É curioso, porque não sou filho único - e adoro os meus irmãos, com quem sempre me dei às mil maravilhas - nem sequer sou pouco sociável. Tive muitos amigos - os "melhores amigos" da infância não foram muitos mas foram bons - brincava muito, tinha muitas aventuras daquelas de sair de casa de manhãzinha e apenas voltar para almoçar ou então à noitinha, num tempo em que as férias eram mesmo grandes, e sempre gostei de rir e brincar. No entanto...
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Não gosto. De nenhuma delas. Mas entendo-as. A ambas. Não gosto porque não gosto que digam mal de quem é importante para mim. O que não quer dizer que pense que são perfeitos. Longe disso. Quer dizer apenas que amo apesar dos defeitos, apesar da imperfeição, e não é raro descobrir que amo justamente pela humanidade que a perfeição lhes traz. Porque sempre que conheço alguém ou alguma organização perfeita torço o nariz. E descubro sempre que a sua pseudo perfeição não passa de uma fachada muito bonita para ver mas sem conteúdo, sem sumo, sem vida. E a Igreja não é assim. Não é perfeita, não é fachada, não é sem vida. Mais: é uma Igreja que viveu os seus piores momentos quando se julgou perfeita e exigiu a perfeição aos seus como se uma Igreja viva não fosse uma Igreja incarnada na vida e na história dos homens. Imperfeitos. Percebo que sejam justamente os que não acreditam na Igreja que lhe exijam a perfeição. Percebo melhor que essa exigência venha dos que não têm fé que daqu
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Não conheço melhor forma de avaliar a minha amizade, senão a das lágrimas e dos sorrisos. Nada do que acontece com aqueles de quem sou amigo me é indiferente, me passa ao lado, passa despercebido. Quando muito, olho para o outro lado, invento uma laracha que desvie as atenções, ou então faço-me de muito ocupado. Quando estas coisas não resultam, então, paro, olho nos olhos, acontece uma permissão mais tácita que formulada e preparo-me para o que aí vem. Às vezes é bom, às vezes é mau, noutras é pior ou melhor que isso. Quando as coisas são verdadeiramente boas ganho o dia como se fossem minhas, rejubilo, pincho e louvo a Deus. Quando são verdadeiramente más, sou de lágrima fácil e desavergonhada, não digo nada e louvo a Deus (Job ensinou-me muito no que toca a louvar a Deus). Entendo perfeitamente que isto possa parecer estúpido para quem está de fora. Exasperei já muitas vezes com a minha Catarina que nas coisas más sai tanto ao pai que dói. Perguntei-lhe inúmeras vezes se ela nã
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Hoje a Pat respondeu afirmativamente. Eu não consigo. Pelo menos ainda não. Não tenho ainda claramente definido o que sinto em relação a Moçambique. Ainda ontem falava com uma amiga acerca disso e, conscientemente, não consigo dizer, de caras, que voltaria lá. Tenho, deste lado do mundo, demasiadas coisas que me mantêm agarrado ao quotidiano, demasiados projetos inacabados, demasiadas coisas a fazer, e, ainda e fundamentalmente, demasiadas pessoas que me provocaram enormes saudades e das quais não estou ainda preparado para me voltar a separar. Sei, contudo, que a questão de fundo não é bem essa. A verdadeira questão é que não sinto necessidade de partir. Adoraria voltar a viver o que juntos vivemos, adoraria voltara a partilhar o que partilhamos e como partilhamos, adoraria voltar a rezar e a chorar e a rir e a brincar com a candura, a inocência e a abertura com que todos o fizemos. Se fosse para isso, certamente que o faria. Só que para que isso acontecesse precisaríamos esta
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Não sou particularmente diferente de ninguém. Também eu tenho uma zona reservada a olhares alheios, a julgamentos alheios, a opiniões alheias. Também eu tenho partes de mim que não gosto de revelar, de dar a conhecer, de colocar nas mãos dos outros. Não porque desconstrua qualquer imagem que possam ter de mim - já referi algures por aqui que essa é uma das coisas boas da idade: percebemos que não podemos agradar a todos e aprendemos a viver bem com isso - mas, principalmente, porque não quero incomodar niguém, pertubar ninguém, principalmente aquelas pessoas que me vão conhecendo melhor. Porque acredito piamente na nossa possibilidade de recomeçarmos sempre, todos os dias - por vezes até várias vezes ao dia - é frequente transmitir sinais confusos aos outros: ora pensam que sou melhor, ora pior do que efetivamente sou. Preocupa-me de modo particular a primeira hipótese. Porque quando os outros têm de nós uma imagem negativa só podemos subir, agora, quando sucede o contrário, o úni