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A mostrar mensagens de março, 2011
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Até há bem pouco tempo, o meu maior sonho era poder recomeçar. Sempre! Infinitamente! Passava a minha vida à procura, não do que não tinha, mas do que não era: um homem impecável, sábio, muito responsável, muito querido por todos, muito conceituado, que deixasse uma marca de amizade, de bondade, por quem passasse. Ultimamente não tenho sentido essa necessidade. Não porque entenda que tenha atingido a perfeição, nada disso, mas provavelmente porque vou convivendo melhor com a minha realidade. E, se calhar, até me sinto mais perto do que posso ser. Simplesmente adoro a minha mulher e os meus filhos, que são tudo para mim. Adoro (literalmente) o meu Deus com quem me relaciono a cada momento e por quem professo uma religião com a qual, à medida que me vou percebendo que também ela é pecadora, me identifico cada vez mais. Todos os dias sinto um enorme prazer me me levantar para vir trabalhar porque tenho a tremenda sorte de lidar todos os dias com miúdos e graúdos que são muito mais do
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Se há algo que me deixa perfeitamente fora de mim é quando cometo alguma camelice daquelas que apenas eu é que não vejo. E quando, ainda por cima, essa camelice - que é real - é mal interpretada por outros, que vêem nela alguma intencionalidade negativa, aí eu fico desolado. Não culpo ninguém a não ser eu próprio, por ter dado o flanco. É por estas e por outras que uma reputação leva toda uma vida a ser construída. Por muito bem que nos tentemos portar, por muito esforço que façamos em permanecer para cá do risco, acontece sempre alguma coisa que, em segundos, provoca um rombo na forma como os outros nos olham. Claro que na génese disto tudo está a excessiva importância que atribuímos à forma como somos vistos. Claro que se estivermos absolutamente certos do que fazemos o impacto será menor. Claro que as intenções são boas e somos sempre incompreendidos. Claro que isso tudo e mais alguma coisa. Mas é igualmente claro para mim - e infinitamente mais importante - que eu não sou
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Desde que me conheço que tenho um respeito enorme pelo Mestre Tempo. Respeito, não medo, porque acredito que o tempo corre sempre a nosso favor. Apesar de ter chegado há menos de um mês, Taizé faz já parte daquelas memórias longínquas que quase parece mentira terem acontecido. Depois de Taizé já fiz mil e uma coisas, participei em muitas actividades, tive grandes e pequenas derrotas, grandes e pequenas vitórias. É um pouco como se eu fosse o Japão e o meu quotidiano fosse enterrando experiência atrás de experiência, vivência atrás de vivência, não me permitindo sequer saborear convenientemente aquilo que vou vivendo, sujeito que estou aos malabarismos do tempo. Paradoxal, esta situação, quando Taizé deveria servir exactamente para parar e viver o meu tempo de uma forma distinta. Mas Taizé, como dizia um amigo, é um oásis onde paramos para abastecer por um curto período de tempo e depois seguimos viagem, para onde a vida acontece. Como em qualquer oásis, temos a sensação que o temp
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Não fiz as malas, ainda. Nem era preciso. Umas calças de ganga, roupa interior, um calçado extra, umas camisolas quentes e toca a andar. Essa é apenas uma das coisas boas de Taizé: apresento-me tal como sou, inteirinho da silva, com os meus medos, as minhas dúvidas, as minhas pequenas conquistas e glórias, as minhas enormes e estrondosas derrotas. Apresento-me assim, como Egas Moniz, com a corda ao pescoço, despojado de tudo o que tenho para poder dar lugar ao pouco que sou. Ou ao que Deus quer que eu seja. Taizé é o meu ponto de encontro (há pouco tempo alguém lhe chamou o spa da alma) com os outros e com Deus a partir de mim, ou comigo e com os outros a partir de Deus, pois tudo acontece ao mesmo tempo, num enorme turbilhão de interioridade que, paradoxalmente, é sereno como um enorme lago sem brisa. Tudo em Taizé é paradoxal: duas mil pessoas e não há confusão, dois mil jovens e silêncio profundo, duas mil pessoas para comer e dois mil voluntários para ajudar, escasso ritual e d
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No livro, fala várias vezes do rosário que fez e usava no pulso, das orações. Como conseguiu nunca perder a fé? Não podia perdê-la. Mas na selva confrontei-me com essa fé e pensei: eu creio ou não? A fé é real e honesta ou um instrumento psicológico? Essas questões foram muito profundas. Tive a sorte de ter comigo a Bíblia. Fora do cativeiro já a tinha tentado ler mas adormecia sempre, era um óptimo soporífero. Lia três páginas e pronto, porque aquilo é muito aborrecido... mas o cativeiro é muito mais aborrecido por isso lia a Bíblia porque não tinha mais nada que fazer. E gostei muito do Deus que lá encontrei. Nunca questionou "se Deus realmente existe como é possível isto acontecer?" Claro! Mas essa não é a pergunta que temos de fazer, a pergunta é: como posso eu sair daqui e enfrentar isto que me aconteceu? A relação com Deus muda. Achamos que Ele faz connosco o que quer, como se fôssemos marionetas. Mas não. Deus criou o mundo com liberdade para todos, para fazermos
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Durante a formação que nos tem preparado para Moçambique, a determinada altura, perguntavam qual a nossa motivação que nos levou a participar nesse projecto. Tínhamos acabado de falar dos nossos medos - e esses para mim são claros: saudade, saudade, saudade - mas nas motivações empanquei. Ainda hoje não consigo dizer com clareza o que me leva a participar nestas coisas. Eu adoro estar em casa, no meu canto, sem fazer nada, ou alapado no sofá a vegetar. Adoro o meu sossego, uma boa música, um bom livro, uma boa conversa. Adoro quando estamos todos em casa a ver um filme ou a cantar ou então quando saímos todos juntos na galhofa. Adoro um fim-de-semana ou um jantar a dois com a minha mais-que-tudo e a nossa capacidade de envolvência mútua que transforma uma tasca num 5 estrelas. Todo eu sou, verdadeiramente, voltado para a vida familiar. Excepto... Vibro mesmo com estas coisas da malta nova. A sério. Basta que alguém me conte que está a pensar em fazer uma caminhada, um retiro, um