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A mostrar mensagens de março, 2016
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Nasci para ser pai. Posso ser muitas coisas, para muita gente. Posso fazer muitas palhaçadas, posso dançar como um tolo, fazer figurinhas tristes, animar plateias ou partilhar a fé que me pulsa da vida. Posso preocupar-me, trabalhar até à exaustão, ficar confuso, não saber bem o que faço, quando faço, porque faço. posso cometer barbaridades, estar cheio de boas intenções, ficar magoado, triste desiludido ou embevecido com quem me rodeia. Posso trepar o mundo, fazer o diabo a quatro, ir daqui até à lua, fazer o pino, inventem o que quiserem. Mas eu nasci para ser pai. Nada, absolutamente nada, bate a a extraordinária sensação que é estar entre os meus e rebentar de orgulho com todos eles. Nada estará sequer perto da alegria que é estarmos juntos a cantar ou a passear ou a jogar PES ou a ver um file ou numa conversa à volta da mesa ou a discutir o que quer que seja como se  mundo acabasse agora mesmo. Nada se compara ao que sinto quando olho para a Igreja ao domingo e os vejo, a to
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Costumo dizer que escolhi ser cristão porque o meu Deus nunca me pergunta de onde venho nem o que fiz mas quer saber, fundamentalmente, para onde quero ir. No domingo, a homilia sobre o Pai Bondoso acrescentou algo a isto: o nosso Deus é um Deus que se alegra quando estamos. Houve muitíssimas alturas na minha vida em que foi fundamental sentir-me acolhido, que não me perguntavam de onde tinha vindo. Ansiava por uma espécie de reset, um renascer, um refazer-me para que pudesse voltar a tentar ser. São sempre alturas em que a imagem que o espelho nos devolve é demasiado cruel para poder ser enfrentada de mãos vazias, em que apenas a solidão nos faz companhia, até porque todos os outros estão - como nós próprios, aliás - mantidos à cuidadosa distância do sorri e acena. É o tempo em que o peso da máscara se torna de tal forma insustentável que começa a cair... e a arrastar a nossa vida com ela. É o tempo em que o que mais desejo é viver numa daquelas torres de apartamentos onde toda a
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Pediu-me aquilo que me é, provavelmente, mais difícil de conceder a quem amo: Fronteiras. Limites. Percebi que tinha que me refrear. Os meus filhos sabem bem o que é ser amado amado por mim. E que não é fácil ser amado por mim. Ainda ontem eu dizia que, por mim, os metia a todos no meu bolso das calças para que os pudesse proteger das agruras da adultez. E não. Não passa quando eles têm vintes e tais, não passa quando já são, efetivamente, adultos, não passa quando ganham o seu próprio ordenado, vivem na sua própria casa. Filho é filho. Qualquer que seja a sua idade. Qualquer que seja o seu género. Qualquer que seja o seu comportamento. Filho é filho. E eu sou o seu pai.  Sei que não é fácil para quem ama. Sempre o soube. Sempre o senti. E por vezes preciso que me recordem que não é fácil ser amado. Que tenho um jeito adolescente de amar. Inconsciente. Pouco adulto. Muito sonhador. Muito apaixonado. Demasiado apaixonado, porventura, incompatível com o que já deveria ser:
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Estávamos na arena, em plena hora do almoço, abrigados da chuva miudinha que caía. A cruz no chão, algumas velas acesas, uns papéis com cânticos, meia dúzia de miúdos sentados no tapete de relva artificial, meia dúzia de graúdos sentados nas escadas do anfiteatro. Cantamos serenamente, baixinho, falamos serenamente, baixinho, rezamos serenamente, baixinho, saímos como aí tínhamos permanecido, serenamente, em silêncio. Tenho aprendido que as coisas grandes são dos homens, não de Deus. Quando, numa visita a um museu de arte sacra, vi um monte de cálices em ouro e prata com jóias raras incrustadas, apenas conseguia pensar o que tinha aquilo tudo a ver com o cálice de Jesus. É irónico como amamos um Deus, que, sendo infinitamente grande, se faz pequeno por nós e para nós e O veneramos com o maior e mais opulente que conseguimos fazer. Mesmo as nossas celebrações têm que ter um quê de grandioso, de um litúrgico ininteligível que pensamos nos abre ao mistério quando na realidade nos af
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Sempre fui excessivo. Assumidamente excessivo. O que procuro - com alguma dificuldade, confesso - é tentar condicionar os excessos aos espaços e aos momentos certos. Mas, como digo sempre aos miúdos, acredito que devemos ser sempre todos em tudo, dar sempre tudo em tudo. Se é para dançar, dance-se; se é para cante-se; se é para fazer figuras tristes, façam-se energicamente, assumidamente, como se nada mais houvesse no mundo, nem amanhãs que nos recordem as idiotices de hoje (ou telemóveis com câmaras de filmar). Não me lembro de uma atividade com malta nova em que não tenha uma foto fatela num qualquer telemóvel de um qualquer miúdo. Sejam colheres de plástico nos olhos, sejam lenços na cabeça, sejam poses facilitadoras de reputações suspeitas, risos abertos, braços escancarados, tudo vale quando estamos juntos. Até ralhar muito, quando (raramente) é necessário. Há pouco tempo, num dos encontros ComTigo, um dos nossos miúdos partilhou que não conhecia aquela faceta de mim. Habit
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Sim, eu sei, admito-o perfeitamente, sempre que posso, com bastante alegria até: sou um privilegiado. Mas isso não invalida que volta e meia (mais volta que meia) me erga barreiras, me levante problemas, me perca em questões que me parecem mais inultrapassáveis que a muralha da china. E depois, passado algum sofrimento, volto a educar o olhar e a dar valor ao tanto que sou e tenho. Depois de conversarmos senti que algo de diferente se passava nas minhas costas. Olhei, a medo, por cima do ombro, e reconheci-as. Em boa verdade, nem precisava de ter olhado porque já tinha reconhecido os sintomas: pálpebras levemente fechadas, a permitir-me ver, sorriso leve, alma a empreender a sua viagem lá por cima... mas lá estavam elas, as minhas asas. De volta! Saborosamente de volta! Deliciosamente de volta! E deixei-me ir, como me deixo sempre ir, abandonando-me à conversa, permitindo a comunicação direta entre a alma e as palavras, apesar dos protestos veementes da razão, que nestas coisas se