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A mostrar mensagens de janeiro, 2013
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Um dos meus problemas é que me espanto com demasiada facilidade. Na internet, então, pareço um puto no Bazar Paris (nem sei se ainda existe) que arregala os olhos a cada momento com a quantidade e a qualidade de artigos, estudos, fotos, filmes, com maior ou menor profundidade, com maior ou menor sabedoria. No princípio, nem conseguia sequer separar o trigo do joio. Com os blogues, então - que demonstram a imensa qualidade de muitas pessoas que desconhecemos, principalmente quando as comparamos com muitas daqueles que vemos nas televisões - lia tudo o que apanhava, cortava e colava, coleccionava, acumulando textos que nunca teria tempo para ler na íntegra, repetindo aquilo que fizera toda a minha vida com livros e música. Desde que me lembro que tenho livros reservados para ler na velhice e música para ouvir num tempo que nunca chegará. Apenas fui percebendo esta minha ânsia guardar coisas quando vi os miúdos das colónias a açambarcar a comida que nunca conseguirão comer. Apenas pe
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Ando a saborear, lentamente, de há uns tempos para cá, um livro que me caiu no colo: Jesus, CEO, de Laurie Beth Jones. Tem como sub-titulo "Como usar a Sabedoria da Antiguidade para uma Liderança Visionária". Todos os dias forço-me a ler apenas um capítulo, que são muito curtos, e a percorrer o dia seguinte com as perguntas que a autora coloca no fim de cada capítulo. O livro não tem muitas novidades, nem o pretende, mas tem sobretudo uma sistematização dos olhares de Jesus que me interpela porque é muito prática, muito voltada para o aprender a ser e a fazer para os outros. Entre uma imensidão de outras coisas, aprendi com os meus filhos que é-nos muito útil voltarmos às bases. Que podemos saber mil e uma coisas, conhecer uma determinada área na profundidade, sermos verdadeiros especialistas, mas que, justamente por causa disso, é muito bom termos que aprender a explicar as coisas simples aos simples. E tremendamente difícil. Explicar de forma simples algo que a vida no
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"É engraçado! Porque fala sempre dos livros de uma forma esquisita? Mastigar as palavras, saborear as histórias, viajar pelos livros..." Isto foi-me dito hoje mesmo no Clube de Leitura, por uma miúda do sexto ano e deu-me um gozo enorme. No Clube temos enveredado por uma série de caminhos que eles normalmente não percorrem: elaborar pistas secretas a partir de um texto de uma revista, visitar a feira do livro só para observar a forma como as pessoas escolhem (ou não) os livros, enviar-me uma notícia que tenham lido no primeiro dia deste ano, tudo serve de pretexto para os tentar agarrar à leitura, para os fazer sentir que ler é bem mais que somar letras e palavras e páginas. Respondi-lhe que assim como a comida vem para dentro de nós para nos dar energia, um livro bem mastigado, bem saboreado, sem ser lido à pressa, vem para dentro de nós para nos ajudar a ser o que somos. São conceitos que eles não aprendem nas aulas, com muita pena dos meus colegas professores, que t

"Talvez devêssemos ouvir Mozart juntos"

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Sugere Tolentino Mendonça, Mozart como um dos caminhos para a redescoberta na amizade. Pessoalmente, prefiro Bach, mas não foi isso que me assaltou o pensamento. Provavelmente de forma abusiva, veio-me logo à cabeça aquela cena de uma das melhores séries que já vi vária vezes e levei os meus filhos a ver: Band of Brothers.  Dessa vez, quis ver toda a série com os meus filhos. Tratando-se de uma série da Segunda Guerra Mundial, ao fim de dois episódios as raparigas desmobilizaram. Mas os rapazes não e vimos, juntos, todos os episódios pouco antes do Natal. Durante o episódio em que os aliados descobrem, atónitos, o campo de concentração nazi, aparece várias vezes um conjunto de cordas a tocar uma peça de Beethoven sobre os escombros da vila destruída. Como no Titanic, a banda continua a tocar no meio da catástrofe, enquanto o regime se afunda.Como se trata de uma série e não de um filme, os episódios dão-nos o tempo necessário para nos questionarmos várias vezes e esse mesmo epis
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Há alturas em que as palavras só estragam.
A ajuda humanitária é agir e testemunhar. É, em primeiro lugar, uma questão de homem a homem, de mulher a criança perdida, de jovem a velho isolado, de reformado a desempregado desesperado. De humano a humano... Abbé Pierre, 1993 Foi uma das coisas que mais me chocou em Moçambique: "Sabe, Pai Zé? Aqui só vive bem quem pertence ao partido do governo ou a uma ONG. Os outros vivem do que sobra." Lembro-me que estávamos a vir do Hospital com o Miguel e, como sempre, conversava com o Teófilo, que me ia mantendo a par de como as coisas eram em Quelimane.  No entanto, não precisava que ele mo tivesse dito. A ostentação das carrinhas com um qualquer símbolo de uma ONG na porta, a atitude vergonhosamente colonial de muitos dos funcionários das ONGs que se servem da população como se fossem carne para canhão, entrava-me pelos olhos dentro desde que lá chegara. Lembro-me da única vez que almoçamos fora, no Hakuna Matata, em Zalala, em que chegaram duas pickups de ONGs e os seus ocup
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As circunstâncias da minha vida levaram a que fosse Jesus a vir ter comigo. Por volta dos meus quinze anos, servindo-me do meu proverbial (e precoce) encanto pelos elementos do sexo feminino, Ele descortinou um meio para me desviar do caminho que estaria traçado. Como a minha casa estava inserida num Bairro Social, tinha por companheiros de aventuras (grandes tempos!) os amigos do Bairro. A partir de determinada altura convivi por isso frequentemente com droga, prostituição, roubos e coisas similares. Se nunca nelas participei, a verdade é que também até àquela altura nunca as condenei porque me pareciam quase normais. Foi neste contexto que, perto de minha casa, começou a ser construída uma capela, que era para os outros, para os betinhos que lá iam e que eram gozados por nós. No entanto, sempre que havia ensaios, ou eucaristia, passava no cimo da rua uma miúda muito gira por quem me embeicei. Rapidamente comecei a ir à Capela para a conhecer e com isso fui descobrindo um mun
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Não estou a atravessar uma fase particularmente feliz. Não tanto o eu total, mas a parte de mim que vive voltada para fora não está a atravessar uma fase particularmente feliz. Irrito-me com demasiada facilidade, agarro-me em demasia às minhas próprias ideias, e, pior que tudo - no que constitui o meu verdadeiro sinal de alerta - não me consigo aperceber sozinho que isso acontece. Preciso que o meu grilo falante - que seria de mim sem o meu grilo falante! - me alerte. E isso é terrível para mim, Ainda ontem, numa das minhas reuniões, ela me disse que isso tinha acontecido. E eu nem me apercebi. Não tenho dificuldade nenhuma em escolher ser feliz. Escolher, sim, porque acredito que temos a capacidade de escolher a forma como vivemos os nossos dias. Basta apelar ao que de bom nos rodeia, basta educar o olhar, dar importância ao que nos puxa para cima e relegar para segundo plano tudo o que nos limita. Um pouco como quem varre para debaixo do tapete. Isso não elimina a sujidade, clar
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Em dois dos maiores diários fomos submetidos, nos últimos dias do ano passado, a dois olhares da esquerda: Carvalho da Silva no DN, Jorge Sampaio no Público. O primeiro com um olhar muito mais radical, como a sua vida, o segundo com maior qualidade, como eu, pessoalmente, lhe reconheço. Mas são sempre dois olhares da esquerda.  Se, por princípio, o que a esquerda é, muitas vezes, o alvo predilecto do meu próprio olhar, é indesmentível que vemos nos entanto coisas muito diferentes. O meu olhar está calibrado pela Doutrina Social da Igreja, essa coisa que para muitos católicos é perfeitamente desconhecida, mas que eu tenho como uma das bases sólidas do meu agir. é um olhar que coloca a humanidade e a dignidade da pessoa, de qualquer pessoa, acima de qualquer ideologia, de qualquer discurso de boas intenções, de qualquer programa político. é um olhar que, tendo necessariamente em conta a condição específica de cada homem ou mulher, promove as condições para que possam ser, eles p