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A mostrar mensagens de junho, 2018
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Mais a sério, mais a fundo, faço dois balanços por ano: um no final e outro a meio, por altura do meu aniversário. Eu gosto muito de balanços, de os fazer, de os avaliar, de analisar a minha situação, o caminho percorrido, o caminho perdido, o caminho escolhido percorrer, o que fui perdendo e ganhando, o que foi ficando para trás, para segundas núpcias, para uma outra vida! Este é, inegavelmente, um exercício de memória. Não tanto do que foi feito, exatamente, mas do que fica do que foi feito, do que fica do que foi dito, do que fica daqueles com quem foi feito. E este foi um ano de muitas coisas, muitos acontecimentos completamente novos e renovados, de erros e recomeços, de renascimentos, de novas maneiras de fazer o que antes tinha sido feito de uma outra maneira. Este foi também ano de projetos, novos e renovados projetos, novos e renovados sonhos, novas e renovadas maneiras de sonhar o que sempre foi sonhado. Chego à meia idade com essa sensação: que esta é, mesmo, uma meia i
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Eu mesmo, por mim mesmo, para mim mesmo. Esta foi a conclusão do estudo de hoje. Simples. Eu, quando começo, continuo e acabo em mim. Só. Eu e Eu & Cª Lda. como se dizia antes. Penso muitas vezes em mim, não como o diabo - não acredito no diabo mas na existência do mal - mas como alguém em quem o mal está sempre à espreita. Eu vivo num limbo. Permanente. Provavelmente é o que acontecerá com a maioria das pessoas, eu não sou especial de corrida em coisa nenhuma e por isso não serei nesta, mas o que é facto é que eu vivo num limbo. Permanente. por isso deveria pensar cada passo, cuidadosamente, laboriosamente, dando tempo e espaço ao juízo que, embora vaga e preguiçosamente, ainda vou tendo. Não acontece. As decisões mais importantes, porventura mais decisivas, são sempre as menos fundamentadas. Tipo Lucky Luke: disparo primeiro e depois vê-se. Vivo, deixo-me viver, sigo um impulso, e depois, por vezes, muitas vezes, deito as mãos à cabeça. É, por isso, frequente, ver o diabo
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Gosto muito de elefantes. Do seu porte, do seu olhar doce apesar do porte, da forma como se mexem, como escolhem morrer, da memória, que tradicionalmente se diz que têm. Se eu fosse apenas animal, gostaria de ser elefante. Já estaria a meio caminho. Talvez goste tanto deles porque gostaria de ser um deles. Não sou de esquecer. Nunca fui. Muito menos de querer esquecer - quando caio nessa asneira mais não consigo que recordar constantemente o que tão forçosamente quero esquecer. Recordo gestos e atitudes e conversas que tive ou escutei desde que era menino. Quase de colo. Por vezes dizem-me que nós só conseguimos reter coisas na memória a partir de determinada idade, mas naquelas idas ao baú com os com os meus pais e irmãos eu recordo discussões ou acontecimentos que tiveram lugar quando eu era mesmo pequenito e eles ficam a olhar para mim. Recordo muito, e com muito quero dizer muitas coisas, muito presentes, muito vivas, como se tivessem sido ontem. Recordo coisas que não servem p
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A saudade dói. Sempre. Com dores diferentes, umas despertam sorrisos, outras provocam esgares de dor, silenciosa ou manifestada, mas dói sempre. Saudade do que já fiz, daqueles com quem já fiz, das circunstâncias em que foi feito. Mesmo que na altura disséssemos mal dessas circunstâncias, releio-as e recordo-as agora com um outro peso, uma outra essencialidade, que o tempo se encarrega de limar arestas: se não tivesse sido exatamente assim, não seriam estas as memórias, mas outras, completamente diferentes, e certamente menos saborosas. Conversávamos um dia destes daquilo que já não farei. Do imenso que já não farei. Da enorme quantidade de projetos e sonhos para os quais já não tenho idade... ou a idade me tira a vontade. De alguns deles eu poderia descrever com enorme exatidão cada passo, cada momento, cada sensação, tantas foram as vezes que os sonhei. É como se os tivesse realizado, efetivamente, de tal forma que as memórias que permanecem desses apenas sonhados e projetad
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Tenho o meu dia ganho quando me emociono. Com a bondade natural, com o belo (para o qual me encontro cada vez mais desperto), com o mimo e o cuidado, com o desconhecimento da mão esquerda daquilo que faz a direita. Ontem emocionei-me. Várias vezes. Com uma conversa, com uma disponibilidade para acolher quem tanto precisa de acolhimento, com uma entrega, com uma belíssima dança numa eucaristia cheia de vida, com a serenidade de uma outra eucaristia, com uma conversa matinal, com um encontro depois de um desencontro. Ontem foi um dia cheio. De trabalho, de sol, de vida, de partilha, de momentos que me fazem sentir que a vida vale a pena. Há dias assim. Em que apenas tenho motivo para dar Graças pelos que me rodeiam!
Há partes de nós que não são de ninguém. Nem sequer nossas. Partes feitas de pedaços mal contados e ainda pior resolvidos, palavras que não dissemos por falta de coragem, sentimentos afogados, que escondemos e dos quais nos escondemos, por medo ou vergonha, porventura à espera de uma outra vida que possa ser vivida de forma diferente. São partes de nós que não são nossas porque não as queremos nossas, porque teimamos que não são nossas, e teimamos tanto que as temos por indesejada e permanente companhia. São partes tão não nossas que se nos entranham na alma e no peito e na vida. São partes tão não nossas que, somadas às partes orgulhosamente nossas, constituem a amálgama do nós que nos habita.
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Ontem, naquele final de tarde delicioso junto ao mar, notava-se que, a poucos metros, se iniciava um concerto. Era ainda maior o número de estrangeiros(?) na casa dos trintas que aproveitavam a beleza, o sol e o cheiro do mar, que metiam os pés na água ainda gelada da foz, devidamente acompanhados daquela coisa a que chamam jantar: fruta e vinho verde. Há de sempre fazer-me alguma confusão a sua dificuldade em sentar á mesa nas horas em que o deviam fazer! Quando vinha para cima, vi junto a tabela de basquete dois espanhóis a fazerem umas jogadas, despreocupadamente. Passados alguns minutos chegaram dois rapazes britânicos e ficaram a olhar. Juntou-se-lhes pouco depois um casal que devia ser oriundo de um dos países nórdicos. Alguns minutos mais tarde, estavam todos a jogar juntos, entendendo-se naquele inglês macarrónico que é agora a primeira língua de muitos jovens europeus. Olhava-os, admirando-os e ao mundo que habito. Esta é daquelas raras alturas em que eu gostaria de ter me
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Lembrei-me logo de alguns amigos meus, a quem o mesmo acabou por acontecer. Enquanto novos, tudo gira. E tudo é muito giro. De noite em noite, de borga em borga, de experiência em experiência, vivem numa rede de amigos flutuantes, de acordo com as mútuas conveniências. Na superficialidade dos encontros e fins de semana radicais, são de todos e de ninguém. Vivem, mais que uma felicidade, um gozo permanente, ajudado pelos rendimentos que vão esbanjando alegremente, sobretudo quando o investimento é feito no hoje, aqui e agora. O que importa é viver! Com os entas chegam algumas dificuldades até então desconhecidas. As articulações, as noites mal dormidas, o estômago, o peso, mesmo o próprio gozo com o que se fazia e com quem se fazia, tudo isso se começa a ressentir das escolhas que se fizeram antes, noutros tempos. Chega-se a casa mais cedo, apetece sair cada vez menos, demora-se mais a recuperar, e às tantas começa-se a apensar - e a sentir - que uma noite bem dormida é um requis
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Já não o fazia há muito tempo. Demasiado tempo! Não percebo as pessoas que não gostam de estar sem fazer nada. Estar só. Estar. Só. Eu sentei-me no jardim, uma manta em cima do corpo, apesar do sol, e deixei-me estar. Fechei os olhos, deixei que os sons me invadissem e fui identificando-os. Um a um. Até deixar de os ouvir. Depois os pensamentos. Em catadupa no início, fila indiana depois, de longe a longe, mais tarde. Não sei quanto tempo estive ali, no meu jardim, longe da vida. Mergulhado na vida. Creio que adormeci. Ou então, estava tudo tão entorpecido que posso ou não ter adormecido. Se calhar adormeci de olhos abertos. Sonhei de olhos abertos. repousei de olhos abertos. E alma fechada. Pelo menos para tudo aquilo que me era exterior. Só eu. Eu e a minha alma. Eu e os meus pensamentos. Eu e os meus sentimentos. Eu e os que amo. Eu e o meu Deus. Sem que uns ou outros disso saibam. Dir-se-ia que estava a perder tempo. Eu próprio, às tantas, sentia-me um tanto ou quanto culpado po
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Ele é daquelas pessoas que admiro profundamente. Há muitos anos. Provavelmente não devido aos motivos que ele achará, mas ele sabe que o admiro profundamente. É uma daquelas pessoas com um conhecimento que admiro, o tipo de conhecimento que, nem que eu vivesse cem anos, conseguiria alcançar. Junta fé a poesia e literatura, devidamente salpicadas com boa música, tudo envolvido numa profundidade e (às vezes) serenidade que me é tremendamente sedutora. Porque inacessível. Hoje escutava-o, embevecido, e apetecia-me abraçá-lo. Mas, mais que isso, a vontade que tinha mesmo era de sentar e conversarmos. Um dos meus maiores enigmas é perceber porque raio por vezes não damos o melhor de nós aos outros. É como se nos encolhêssemos, se nos apresentássemos pela metade, baixado sistematicamente a fasquia. No meu caso, andará provavelmente por aqui, uma vez que duas coisas me assustam de morte: as exacerbadas expectativas dos outros - que eu sei que algures no tempo irei defraudar; e que pense
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Li recentemente, num artigo de um padre cuja opinião eu respeito, que somos habitados pelo infinito. Que a nossa sede de Deus advém justamente dessa sede de infinito, dessa insaciável e incomensurável incompletude, que por vezes apenas encontra algum repouso na confiança e entrega totais. Eu, por exemplo, apenas encontro o meu repouso autêntico quando recordo Jesus: "faça-se a Tua vontade e não a minha" . É na entrega abandonada, confiante e recheada de esperança que descubro o reconfortante colo do Pai. Mas não acontece muito, confesso. Apenas nas situações de desespero total e absoluto. Fora desses momentos é o infinito que inapelavelmente me habita. É a procura constante, o fazer e refazer, o encontro e desencontro, o toca e foge permanente que me faz sentir que ora sou, inteiro, de corpo e alma, ora vou sendo, corpo e alma em permanente desavinda. Ler de um padre que a incompletude pode ser fome de Deus é importante para mim. Porque muitas vezes caio na tentação de i