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A mostrar mensagens de janeiro, 2023

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Volta e meia preciso de parar um pouco a meio desta subida, aliviar o peso que carrego, e sentar-me apenas o tempo suficiente para poder olhar em volta e apreciar a paisagem. Naturalmente, começo por olhar para baixo, para o caminho já percorrido, agora feito memória. Rapidamente recordo os lugares onde as pernas fraquejaram, onde os pés paralisaram e apenas avancei à custa de mãos estendidas. As minhas e as de quem mas deu. Na verdade, fui aprendendo que caminhar tem muito mais a ver com mãos que com pés, e que tem sempre a ver com dores. As minhas feitas dos outros, e as dos outros feitas minhas. Olho distraidamente em volta e surpreendo-me com a paisagem. Que descubro sempre nova, nunca antes por mim vista. Na verdade, tenho o terrível hábito de caminhar de olhos postos no chão e cabeça a vaguear lá por cima. No meu absorto peripatetismo, a paisagem desempenha um  papel completamente secundário. Os sons, os cheiros, as cores, acontecem lá fora, muito longe de mim, e acontece-me muit
Por estes dias, é-me impossível não estabelecer o paralelismo. E (a)notar o paradoxo. As notícias passam de uma fila para outra. De comum, a fila interminável, o respeito, a vontade de despedida, a veneração, o reconhecimento da importância da vida. E, parece-me, fica por aí. Pelé e Bento XVI dificilmente poderiam ser mais diferentes. Um é o símbolo do endeusamento exacerbado do efémero, da popularidade, da elevação das artes mágicas de um homem cujos méritos são recordados bem acima dos da equipa e que encontrava a sua alegria no meio da multidão. O outro é reconhecido pelo seu recato, pela sua aversão a tudo o que era popular, preferindo o refúgio e o silêncio, longe de tudo e de todos. Paradoxalmente, se perguntássemos ao comum dos mortais quem deles desperta mais simpatia e adesão, Pelé teria mais um título na sua carreira. E isso diz imenso de nós, Igreja. Desde muito novo - creio que desde que estudei e percebi a dinâmica do nazismo - que sinto enorme dificuldade em alinhar no ex
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Os Dias de Reflexão que este ano orientei tinham um verbo forte: ver. Partíamos do extraordinário filme O Circo das Borboletas, que pode ser facilmente visto no youtube, encetando depois um diálogo em que abordávamos cada uma das personagens, tendo em vista aquela que é a personagem principal: Mendez. Na condução desse diálogo, a determinada altura fazia duas perguntas decisivas. A primeira era quem seria a personagem mais diferente de todas elas. Os mais apressados respondiam que era o Will, mas imediatamente percebiam a armadilha: estavam a relevar o imediato: a aparência física. A pergunta mais difícil, no entanto, vinha a seguir, quando lhes pedia um verbo para o que tínhamos acabado de ver e discutir. E o verbo é Ver "se pudesses ver o que existe sob as cinzas de cada um..." Este blogue apela à minha maneira diferente de ver. Não é melhor nem pior, é muitas vezes diferente. E isso tem acarretado alguns dissabores na minha vida. Porque o meu olhar dirige-se instintivament